Líderes democratas saúdam decisão de Biden de deixar disputa
21 de julho de 2024Após semanas de pressão no interior do seu próprio partido e pedidos públicos de correligionários influentes, o presidente Joe Biden finalmente anunciou neste domingo (21/07) que vai desistir da sua candidatura à reeleição.
Após a decisão ser anunciada, diversos membros do Partido Democrata saudaram a decisão, chamando Biden, de 81 anos, de "patriota" e "herói". Mas nem todos declararam – por enquanto – apoio à decisão de Biden de endossar sua vice, Kamala Harris, como substituta na cabeça da chapa democrata.
Os elogios a Biden partiram de figuras como Barack Obama, o casal Bill e Hillary Clinton, e figuras influentes do partido como a ex-deputada Nancy Pelosi, a governadora Gretchen Whitmer e o senador Chuck Schumer.
Obama diz que desistência é "prova de amor” de Biden aos EUA
Em comunicado, o ex-presidente Barack Obama – sob o qual Joe Biden serviu como vice-presidente entre 2009 e 2017 – elogiou a decisão do atual ocupante da Casa Branca e o chamou de "patriota”.
"Joe Biden foi um dos presidentes mais importantes dos Estados Unidos, além de um amigo e parceiro querido para mim. Hoje, também fomos lembrados – mais uma vez – de que ele é um patriota da mais alta categoria", disse Obama, que, segundo a imprensa americana, estava entre os democratas que, nos bastidores, vinham fazendo pressão pela desistência.
"Sei também que Joe [Biden] nunca desistiu de uma luta. Para ele, olhar para o cenário político e decidir que deve passar a tocha para um novo candidato é certamente um dos momentos mais difíceis de sua vida. Mas sei que ele não tomaria essa decisão a menos que acreditasse que fosse a certa para os Estados Unidos. É uma prova do amor de Joe Biden pelo país – e um exemplo histórico de um servidor público genuíno que, mais uma vez, coloca os interesses do povo americano à frente dos seus próprios interesses", completou Obama.
Casal Clinton elogia Biden e adverte contra Trump
Outros elogios a Biden partiram do ex-presidente Bill Clinton (1993-2001) e da sua esposa, a ex-secretaria de Estado Hillary Clinton, que divulgaram um comunicado conjunto enumerando feitos do atual presidente.
"O presidente Biden encerrou sua extraordinária carreira de serviço com uma Presidência que tirou os Estados Unidos de uma pandemia sem precedentes, criou milhões de novos empregos, reconstruiu uma economia abalada, fortaleceu nossa democracia e restaurou nossa posição no mundo. De qualquer forma, ele fez avançar o objetivo de nossos fundadores de construir uma união mais perfeita e seu próprio objetivo declarado de restaurar a alma de nossa nação. Nós nos unimos a milhões de americanos para agradecer ao presidente Biden por tudo o que ele realizou, defendendo os Estados Unidos repetidas vezes, tendo sempre como norte o que é melhor para o país", diz o texto.
Em outro trecho, o casal Clinton adverte para os riscos de uma volta do republicano Donald Trump à Presidência dos EUA. "Já passamos por muitos altos e baixos, mas nada nos deixou mais preocupados com nosso país do que a ameaça representada por um segundo mandato de Trump. Ele prometeu ser um ditador desde o primeiro dia, e a recente decisão de sua servil Suprema Corte só o encorajará a destruir ainda mais a Constituição."
Outros democratas
Outros democratas também elogiaram Biden pela sua decisão histórica, que marca a primeira desistência em 56 anos de um ocupante da Casa Branca de concorrer à reeleição.
O senador Bernie Sanders disse que Biden serviu os EUA "com honra e dignidade". "Como o primeiro presidente a fazer piquetes com os trabalhadores em greve, ele tem sido o presidente mais pró-classe trabalhadora da história americana moderna. Obrigado, Sr. Presidente, por tudo o que fez", escreveu Sanders na rede X.
A governadora do estado do Michigan, Gretchen Whitmer, que apareceu como uma das cotadas para substituir Biden, afirmou que o presidente "é um grande servidor público que sabe melhor do que ninguém o que é necessário para derrotar Donald Trump".
Já o governador da Califórnia, Gavin Newsom, chamou Biden de "extraordinário". "Ele será lembrado na história como um dos presidentes mais impactantes e altruístas", disse.
A ex-deputada Nancy Pelosi, que assim como Obama foi apontada como uma das democratas que vinha atuando nos bastidores pela desistência, também elogiou Biden publicamente após o anúncio. "O presidente Joe Biden é um americano patriota que sempre colocou nosso país em primeiro lugar. Seu legado de visão, valores e liderança o tornam um dos presidentes mais consequentes da história americana", disse Pelosi.
O líder da maioria no Senado, o democrata Chuck Schumer, classificou Biden como um "verdadeiro patriota" neste domingo. "Joe Biden não foi apenas um grande presidente e um grande líder legislativo, mas é um ser humano verdadeiramente incrível. Sua decisão, é claro, não foi fácil, mas ele mais uma vez colocou seu país, seu partido e nosso futuro em primeiro lugar", disse Schumer em comunicado
Nem todos os democratas anunciaram apoio a Kamala Harris
Minutos depois de anunciar a desistência, Biden declarou que estava endossando sua vice, Kamala Harris, como substituta à frente da chapa democrata. A nomeação da vice não é um processo automático, e ainda teria que ser oficializada na convenção do partido, em agosto.
Apesar do endosso de Biden, nem todos os democratas que elogiaram o presidente pela desistência declararam apoio imediato a Harris. Entre os que evitaram fazer declarações nesse sentido estão o senador Sanders, o ex-presidente Obama e a ex-deputada Pelosi.
Obama até mesmo pareceu indicar no seu comunicado que espera um processo de indicação em aberto na convenção, possivelmente abrindo caminho para que outros nomes disputem a indicação.
"Estaremos navegando em águas desconhecidas nos próximos dias. Mas tenho uma confiança extraordinária de que os líderes do nosso partido serão capazes de criar um processo do qual surja um excelente candidato. Acredito que a visão de Joe Biden de uma América generosa, próspera e unida, que ofereça oportunidades para todos, estará em plena exibição na Convenção Democrata em agosto. E espero que cada um de nós esteja preparado para levar essa mensagem de esperança e progresso até novembro e depois", disse Obama.
Embora não tenha feito nenhuma declaração nesse sentido neste domingo, Pelosi também estaria entre as figuras democratas favoráveis a um novo processo de escolha de um indicado a disputar a Presidência, segundo a imprensa americana.
Mas embora vários democratas tenham evitado endossar Harris automaticamente neste domingo, outros se mostraram mais entusiasmados, entre eles o casal Clinton. "Temos a honra de nos unir ao presidente para apoiar a vice-presidente Harris e faremos tudo o que pudermos para apoiá-la", disse o casal Clinton em sua declaração publicada no X. "Agora é a hora de apoiar Kamala Harris e lutar com tudo o que temos para elegê-la."
O deputado Jim Clyburn, uma figura bem próxima de Biden, também declarou apoio a Harris. "Faço eco ao bom senso que ele demonstrou ao escolher a vice-presidente Harris para liderar esta nação ao seu lado, e tenho orgulho de seguir sua liderança no apoio à candidatura dela para sucedê-lo como candidata do Partido Democrata à presidência em 2024", declarou.
A senadora Elizabeth Warren, democrata de Massachusetts, também emitiu uma declaração apoiando Harris. "Eu apoio Kamala Harris para presidente", diz a declaração de Warren. "Harris é a pessoa que foi escolhida pelos eleitores para suceder a Joe Biden, se necessário. Ela pode unir nosso partido, enfrentar Donald Trump e vencer em novembro."
Nas semanas em que Biden sofreu pressão para desistir, outros nomes além de Harris chegaram a ser cotados, como os governadores Gavin Newsom (Califórnia), J.B. Pritzker (Illinois), Josh Shapiro (Pensilvânia) e Gretchen Whitmer (Michigan), além do secretário de Transportes, Pete Buttigieg. No entanto, na noite de domingo Newsom, Buttigieg e Shapiro anunciaram que vão apoiar Harris.
Campanha de Trump reage ao anúncio, e republicanos pedem renúncia de Biden
A desistência de Biden também deve levar a campanha do republicano Donald Trump a rever sua estratégia. Nas últimas semanas, Trump vinha concentrando seus ataques em Biden. No sábado, em seu primeiro comício após sobreviver a uma tentativa de assassinato, Trump chegou a insultar o presidente, afirmando que Biden era "estúpido" e tinha "baixo QI".
Neste domingo, após Biden desistir, Trump voltou a distribuir ataques, afirmando que Biden "não estava apto" a concorrer em uma publicação na rede Truth Social.
"Joe Biden não estava apto para concorrer à presidência e certamente não está apto para servir – e nunca esteve! Ele só alcançou a posição de presidente por mentiras, fake news e por não sair de seu porão. Todos ao seu redor, incluindo seu médico e a mídia, sabiam que ele não era capaz de ser presidente, e ele não foi – e agora, veja o que ele fez com nosso país, com milhões de pessoas atravessando nossa fronteira, totalmente sem controle e sem verificação, muitos vindos de prisões, instituições mentais, e números recordes de terroristas. Sofreremos muito por causa de sua presidência, mas vamos remediar o dano que ele causou muito rapidamente. Faça os EUA grande novamente!", disse Trump.
Outros republicanos, por sua vez, defenderam que Biden também renuncie à Presidência imediatamente, após sua decisão de não concorrer à reeleição.
"Se Joe Biden não pode concorrer à reeleição, ele não pode e não está apto a servir como presidente dos Estados Unidos. Ele deve renunciar imediatamente. O Partido Democrata está em queda livre absoluta por sua tentativa flagrantemente corrupta e desesperada de encobrir o fato de que Joe Biden é inapto para o cargo", disse a deputada republicana Elise Stefanik.
O presidente da Câmara dos Representantes, o republicano trumpista Mike Johnson, seguiu na mesma linha e defendeu a renúncia de Biden. "Neste momento sem precedentes na história americana, precisamos esclarecer o que acabou de acontecer. O Partido Democrata forçou o candidato democrata a sair da cédula de votação, pouco mais de cem dias antes da eleição. ... Se Joe Biden não está apto a concorrer à Presidência, ele não está apto a servir como presidente. Ele deve renunciar ao cargo imediatamente. O dia 5 de novembro não pode chegar tão cedo."