Líderes europeus respiram aliviados com resultado na Holanda
16 de março de 2017
Derrota de Geert Wilders na eleição holandesa é vista como mensagem simbólica contra expansão do populismo de direita na UE. Merkel parabeniza, e AfD mostra decepção.
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Líderes europeus respiraram aliviados nesta quinta-feira (16/03) com a derrota do eurocético Geert Wilders, líder do Partido para a Liberdade (PVV), na eleição parlamentar da Holanda.
A vitória do Partido Popular para a Liberdade e Democracia (VVD), do primeiro-ministro Mark Rutte, é vista como uma mensagem simbólica contra a expansão do populismo de direita na Europa.
Com 95% dos votos contados, Rutte, que agora cumprirá um terceiro mandato, ficou bem à frente, obtendo 33 dos 150 assentos do Parlamento holandês. A legenda de Wilders conseguiu 20 assentos na eleição desta quarta-feira.
No último debate antes da eleição, Wilders disse que um "Nexit", a saída da Holanda da União Europeia (UE), "seria a melhor coisa que poderia acontecer" para os holandeses.
Nesta quinta, Wilders afirmou que seu partido vencerá a próxima eleição. "Éramos o terceiro partido na Holanda, agora somos o segundo. E, na próxima vez, seremos o número um", disse.
Reações da França e Alemanha
O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, afirmou que o resultado expressa "um voto pela Europa e contra o extremismo" e que Wilders "recebeu a conta por sua campanha agressiva".
A chanceler federal alemã, Angela Merkel, parabenizou Rutte por telefone e se colocou à disposição para colaborar com o novo governo. Merkel concorre à reeleição nas eleições legislativas alemãs, marcadas para setembro.
O socialista Martin Schulz, do Partido Social-Democrata da Alemanha (SPD), principal rival de Merkel na corrida parlamentar, festejou a derrota de Wilders pelo Twitter. "Geert Wilders não conseguiu ganhar a eleição na Holanda. Estou aliviado", escreveu. "Mas temos que continuar a lutar por uma Europa tolerante e livre."
O partido populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD) se mostrou decepcionado com o resultado na Holanda. "Não é nenhum segredo que eu desejava um resultado melhor para o PVV e Geert Wilders", afirmou a copresidente Frauke Petry, principal rosto do partido. A AfD, que ganhou maior apoio depois da crise dos refugiados e dos ataques terroristas no país, não tem obtido bons resultados nas pesquisas de opinião, também devido a divisões internas.
O presidente francês, François Hollande, afirmou que a vitória de Rutte é um triunfo contra o extremismo. "Os valores de tolerância, respeito pelos outros e fé no futuro da Europa são as únicas respostas reais aos impulsos nacionalistas e isolacionistas que estão estremecendo o mundo", declarou. A França, que elegerá seu novo presidente em maio, será o próximo teste da força do populismo de direita na Europa.
De acordo com as pesquisas, a líder da Frente Nacional, Marine Le Pen, iria para o segundo turno, mas as chances de vitória são pequenas. O escândalo de desvio de recursos envolvendo o candidato conservador ,François Fillon, eleva a incerteza sobre o resultado das urnas.
O primeiro-ministro da Dinamarca, Lars Løkke Rasmussen, também parabenizou Rutte. "Quem bom que a seriedade foi recompensada", escreveu no Twitter.
KG/afp/rtr/dpa
Nem tudo é um mar de tulipas na Holanda
Os holandeses vão às urnas em eleições legislativas. E justamente nesse país pacato e admirado por sua atitude liberal e economia próspera, os populistas de direita ameaçam se afirmar como legenda mais forte.
Foto: Fotolia/samott
País-modelo da Europa?
Tendo como marcas registradas os bucólicos moinhos de vento e campos de tulipas, a Holanda, membro fundador da União Europeia, é um país florescente, com crescimento econômico estável, orçamento equilibrado, baixo desemprego e clima social liberal. Mas nas próximas eleições, entre os favoritos está justamente o populista de direita Partido para a Liberdade (PVV). Como se explica tal fato?
Foto: NBTC Holland Marketing
O grande simplista
No mundo globalizado, os problemas sociais, políticos e econômicos se tornam cada vez mais complexos, o que deixa muitos desorientados e perplexos. Essa é a grande chance de populistas como a Frente Nacional da França ou a Alternativa para a Alemanha. Na Holanda, quem vai à caça de votos com respostas simples para questões complexas é Geert Wilders e seu PVV.
Foto: SHK
Promessas mal cumpridas
Ao assumir a chefia de governo da Holanda em 2012, o liberal Mark Rutte comprometeu-se a promover a recuperação econômica e aumentar a prosperidade. E cumpriu essa promessa: os dados básicos da economia são inegavelmente positivos. O problema é que muitos holandeses das classes média e baixa não percebem diretamente qualquer melhora: sua situação de vida não é melhor do que cinco anos atrás.
Foto: Getty Images/AFP/F. Florin
Perda de confiança galopante
Rutte prometera, por exemplo, não mais investir verbas no saneamento das dívidas de outras economias nacionais da União Europeia. Mas pouco após sua posse, aprovou o pacote de resgate econômico para a Grécia. A partir daí, a perda de confiança se instaurou. Mais tarde, o governo ainda elevou para 67 anos a idade de aposentadoria e cortou benefícios sociais.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Hoppe
Boom para quem?
Em breve os holandeses notaram que eram eles próprios que arcavam com o crescimento econômico nacional, sendo forçados a aceitar cortes no salário-desemprego e na assistência de saúde. O boom deixa os cidadãos insatisfeitos: o desemprego caiu, porém, mesmo tendo trabalho, muitos não ganham o suficiente para manter seu padrão de vida.
Foto: Reuters/M. Kooren
"Nosso barco está cheio!"
Em tais circunstâncias, reflexos nacionalistas vêm à tona – até mesmo na Holanda, cujo posicionamento fundamentalmente liberal há anos tem sido um modelo para muitos europeus. Também os holandeses passaram a se opor ao acolhimento de refugiados, num reflexo que vem a calhar para populistas de direita como Geert Wilders, sendo lenha na fogueira xenófoba, antieuropeia e anti-islâmica.
Foto: Getty Images/AFP/P. van de Wouw
Populistas unidos
No dia em que Donald Trump assumiu a presidência dos EUA, o PVV de Wilders liderou as sondagens pela primeira vez. E manteve essa posição desde então, com oscilações mínimas. Pesquisas sugerem que o PVV conseguirá 16% dos votos, seis pontos a mais que em 2012. O VVD (de 26% para 16%) do premiê Rutte e o social-democrata PvdA (de 24% para 8%), por outro lado, despencam.
Foto: DW/T.Lageman
Medo dos forasteiros
Estrangeiros, e sobretudo os muçulmanos, são alvo constante para Wilders. Não há praticamente uma aparição pública sua sem a advertência de que em breve o país estará "islamizado". Da mesma forma como, nos Estados Unidos, Donald Trump responsabiliza os mexicanos por tudo o que há de ruim, Wilders ataca regularmente os "marroquinos", que a seu ver não têm lugar na Holanda.
Foto: Getty Images/AFP/A. Johnson
Visibilidade indesejada
As casas de oração são expressão visível da presença muçulmana na Europa, e muitos simplesmente não querem mais vê-las. Wilders se aproveita desse reflexo, reivindicando a "proibição nacional de mesquitas". Inimigo tanto da "ideologia islâmica" quanto do euro, ele questiona a UE como um todo. Paralelamente, promete aos eleitores melhor previdência na terceira idade e aumento das aposentadorias.
Foto: Getty Images/AFP/B. Maat
Precisamos nos defender!"
Geert Wilders inegavelmente capitaliza o clima de insatisfação e insegurança na Holanda. Até hoje tem sido raro no país legendas extremistas conseguirem concretizar nas urnas os bons resultados nas sondagens. Mas por enquanto parece ressoar o argumento populista, de que em breve o país não precisará de diques só para se defender das águas do Mar do Norte, mas também dos forasteiros e refugiados.