Esforço comum
10 de agosto de 2008Em conversa telefônica com o presidente francês, Nicolas Sarkozy, a chanceler federal alemã, Angela Merkel, expressou grande preocupação de que a crise no Cáucaso se agrave. Segundo porta-voz de Berlim, Merkel apelou por um "cessar-fogo imediato e incondicional e pela retirada das forças militares para suas posições anteriores ao início dos combates".
A premiê insistiu que a integridade territorial da Geórgia seja respeitada e que cessem imediatamente os ataques aéreos russos àquele país. Ela deverá se encontrar nos próximos dias com o presidente da Rússia, Dimitri Medvedev, na cidade de Sotchi, no Mar Negro, a apenas alguns quilômetros a oeste da fronteira russa com a província separatista da Abkházia.
Merkel assegurou a Sarkozy que apoiará todos os esforços da presidência da União Européia – atualmente nas mãos da França – pelo fim do conflito militar e por uma solução política. O presidente francês declarou ter grandes esperanças de que o conflito na Ossétia do Sul termine em breve, em seguida à "retirada" das tropas georgianas. Segundo agências de notícias russas, ele deverá visitar Moscou no início da próxima semana.
"Grupo de Amigos" em ação
O ministro alemão do Exterior, Frank-Walter Steinmeier, também se empenha ativamente por uma solução do conflito. Segundo fontes do Ministério, a Alemanha se encontra numa posição especial, já que o país encabeça o chamado "Grupo de Amigos do Secretário-Geral da ONU".
Este vem, há algum tempo, tentando amenizar as tensões entre Moscou e Tbilisi em torno da Abkházia. Em julho último, Steinmeier visitou a Geórgia, a Abkházia e a Rússia, a fim de apresentar um plano de paz de três fases, porém a recepção foi reticente.
O embaixador Hans-Dieter Lucas, enviado especial do Ministério alemão das Relações Exteriores para o Leste Europeu, Ásia Central e Cáucaso, desembarcou na capital georgiana neste sábado. Ele acompanha uma delegação com representantes da presidência da UE e da Organização para Segurança e Cooperação na Europa (OSCE).
Mediação européia
Steinmeier apelou neste domingo (10/08) a seus homólogos georgiano e russo para que iniciem diálogo bilateral no sentido de resolver o conflito. Ele também tratou do assunto com a secretária norte-americana de Estado, Condoleezza Rice; o alto encarregado de Política Externa da UE, Javier Solana; e o ministro francês do Exterior, Bernard Kouchner, cujo país exerce atualmente a presidência rotativa da UE.
Juntamente com Alexander Stubb, chefe da diplomacia finlandesa, Kouchner dirigiu-se neste domingo a Tbilisi, onde pretende apelar por um cessar-fogo imediato, além de oferecer ajuda humanitária para a região. Stubb viaja na função de presidente em exercício da OSCE. Após a visita à capital georgiana, ambos seguem para Moscou.
O chefe da diplomacia da Polônia, Radoslaw Sikorski, declarou-se a favor de uma missão de paz da União Européia, a qual considera uma boa parceira na situação, graças a sua credibilidade diante de ambas as partes. Segundo o ministro, a UE seria uma mediadora "menos controversa" do que a Otan e mais eficiente do que as Nações Unidas.
Segundo porta-voz de Kouchner, está sendo organizada uma reunião extraordinária dos ministros europeus do Exterior, possivelmente para a próxima quarta-feira. A data exata ainda depende da confirmação dos participantes.
"Agressão russa total"
Após concentrar-se inicialmente na Ossétia do Sul, o conflito iniciado na última quinta-feira (08/08) alastrou-se neste domingo até a Abkházia. A pequena república declarou estado de guerra e os líderes separatistas locais mobilizaram forças. A Rússia bombardeou 15 cidades georgianas nas proximidades.
Esta informação parte de Alexander Lomaia, secretário do Conselho de Segurança Nacional da Geórgia. "Estamos falando de agressão russa total, por terra, ar e mar." Segundo consta, já houve milhares de vítimas, após três dias de agressões. A Geórgia decretou o cessar-fogo unilateral neste domingo.
Apelo à herança cristã
Apelando à "herança cristã comum" dos envolvidos no conflito no Cáucaso, o papa Bento 16 pediu para que dêem fim aos combates que já fizeram "muitas vítimas inocentes" na Geórgia e Ossétia do Sul.
Durante a tradicional prece do Angelus – proferida no domingo diante de grande audiência na cidade de Bressanone, nos Alpes italianos, onde se encontra de férias – o sumo pontífice declarou estar acompanhando a progressão do conflito com "profunda angústia".
"Também em nome da herança cristã, evitai novos choques e retaliação violenta, que podem degenerar num conflito mais amplo", urgiu Bento 16. Para além das confissões, ele se uniu em prece à Virgem Maria também com os cristãos ortodoxos, religião da maioria dos russos e georgianos.