Líderes mundiais alertam: democracia em risco no Brasil
6 de setembro de 2021
Manifesto assinado por figuras políticas de todo o mundo aponta temores de uma insurreição promovida por Jair Bolsonaro: passeata de 7 de setembro seria "um ato de intimidação às instituições democráticas".
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"Nós, representantes eleitos e líderes de todo o mundo, soamos o alarme: em 7 de setembro de 2021 uma insurreição colocará em risco a democracia no Brasil." Desta forma começa uma carta aberta assinada por intelectuais e líderes políticos de mais de 25 países, divulgada nesta segunda-feira (06/09).
No texto é promovido pela Internacional Progressista, organização que une ativistas e organizações progressistas de esquerda, lançada em 2015 e impulsionada pelo senador democrata americano Bernie Sanders e o ex-ministro das Finanças da Grécia Yanis Varoufakis. Nele, importantes figuras públicas ligadas à política alertam para o perigo que o presidente Jair Bolsonaro representa à democracia brasileira.
Entre os mais de 100 signatários estão José Luiz Rodríguez Zapatero, ex-presidente do governo da Espanha, o sociólogo americano Noam Chomsky, os ex-presidentes Fernando Lugo (Paraguai), Ernesto Samper (Colômbia) e Rafael Correa (Equador), além do ex-ministro brasileiro das Relações Exteriores Celso Amorim e o próprio Varoufakis.
Ataques a instituições democráticas
"O presidente Jair Bolsonaro e seus aliados estão preparando uma marcha nacional contra a Suprema Corte e o Congresso em 7 de setembro, exacerbando os temores de um golpe na terceira maior democracia do mundo", diz um trecho da carta, que denuncia abertamente os "ataques contra as instituições democráticas do Brasil nas últimas semanas" por parte de Bolsonaro.
Os signatários também citaram que a passeata convocada por Bolsonaro representa "um ato de intimidação das instituições democráticas do país e que, segundo uma mensagem compartilhada pelo presidente em 21 de agosto, trata-se de uma preparação para um "contragolpe necessário" contra o Congresso e a Suprema Corte, já que a "constituição comunista" do Brasil teria tirado o poder de Bolsonaro, contra o qual o "Judiciário, a esquerda e toda uma série de interesses ocultos" estariam conspirando.
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Inspirada no ataque ao Capitólio
O manifesto da Internacional Progressista adverte que a mobilização de 7 de setembro é claramente inspirada no ataque ao Capitólio americano ocorrido em 6 de janeiro, "quando o então presidente Donald Trump incitou seus seguidores com falsas alegações de fraude eleitoral nas eleições presidenciais de 2020".
"Estamos profundamente preocupados com a ameaça iminente às instituições democráticas do Brasil e permaneceremos vigilantes para defendê-las antes e depois de 7 de setembro. O povo brasileiro tem lutado por décadas para proteger a democracia de um regime militar. Não devemos permitir que Bolsonaro a roube agora", finaliza o documento.
A carta aberta representa um sinal de que a comunidade internacional está vigilante e não pretende aceitar inerte qualquer cisão democrática no Brasil. A postura vigilante não é exclusividade da Internacional Progressista.
A Comissão Interamericana de Direitos Humanos e outros organismos internacionais anunciaram que vão monitorar a situação e um eventual agravamento da tensão política no Brasil. O governo americano emitiu um alerta de segurança aos cidadãos americanos que estiverem no Brasil nesta terça-feira, 7 de setembro.
pv/av (ots)
Ataques de Bolsonaro contra a imprensa
"Encher tua boca de porrada", "você tem cara de homossexual", "imprensa lixo". Guerra do ex-presidente contra a mídia inclui ameaças, grosserias e xingamentos a comentários de cunho sexual contra profissionais da área.
Foto: picture-alliance/dpa/E. Peres
"Encher sua boca de porrada"
Ao ser questionado por um repórter sobre depósitos de Fabrício Queiroz e sua mulher que teriam sido feitos na conta da primeira-dama, Bolsonaro respondeu: "Vontade de encher tua boca com porrada, tá? Seu safado". A ameaça gerou uma série de críticas e notas de repúdio.
Foto: picture-alliance/dpa/E. Peres
Jornalista "bundão", "só usam caneta para maldade"
Um dia depois, ele voltou à carga contra a imprensa. “Aquela história de atleta, né, que o pessoal da imprensa vai pôr deboche, mas quando pega um bundão de vocês, a chance de sobreviver é bem menor. Só sabem fazer maldade, usar a caneta com maldade”, disse em evento no Palácio do Planalto. Bolsonaro disse que jornalista ‘bundão’ tem menos chance de sobreviver ao coronavírus do que ele próprio.
Foto: AFP/E. SA
"Grande mídia publica patifaria"
“É uma manchete canalha e mentirosa, e vocês da mídia, tenham vergonha cara. A grande parte publica patifaria”, acusou, comentando matéria da Folha de S. Paulo que noticiava a troca da superintendência da Polícia Federal no Rio de Janeiro e suposta interferência de Bolsonaro no comando da Polícia Federal.
Foto: picture-alliance/dpa/P. Lopes
"Vocês inventam tudo"
Em abril de 2021, Bolsonaro se negou a falar com a imprensa na saída do Palácio da Alvorada e atacou os jornalistas presentes: “Eu não vou falar com a imprensa, porque eu não preciso falar. Vocês não distorcem mais, inventam. O que eu li hoje…Inventam tudo. Então, podem continuar inventando aí”, disse o presidente.
Foto: Getty Images/A. Anholete
"Você tem cara de homossexual"
"Você tem uma cara de homossexual terrível, mas nem por isso eu te acuso de ser homossexual", disse o ex-mandatário em dezembro de 2020, ao ser questionado sobre possível envolvimento de seu filho Flávio em suposto esquema de rachadinha quando era deputado no Rio de Janeiro.
Foto: picture-alliance/AP Photo/E. Peres
"Pergunta para a tua mãe"
Na mesma ocasião, ao ser indagado sobre se teria comprovante do empréstimo de R$ 40 mil que diz ter feito a Fabrício Queiroz para justificar depósitos do então assessor de Flávio na conta da primeira-dama, retrucou: 'Pergunta para tua mãe o comprovante que ela deu pro teu pai'.
Foto: Reuters/A. Machado
"Imprensa lixo chamada Globo"
“Essa imprensa lixo chamada Globo. Ou melhor, lixo dá para ser reciclado. Globo nem lixo é, porque não pode ser reciclada”, disse o então presidente depois da repercussão de sua fala “E daí?”, dita quando o Brasil superou a China no número de mortes pela covid-19.
Foto: Getty Images/AFP/E. SA
"Perguntando besteira"
"Vocês da Folha têm que entrar de novo numa faculdade que presta e fazer um bom jornalismo. E não contratar qualquer uma ou qualquer um pra ser jornalista. Pra ficar semeando discórdia e perguntando besteira", afirmou o ex-presidente, ao ser questionado por uma jornalista da Folha de S. Paulo sobre o contingenciamento nos orçamentos das universidades federais.
Foto: picture-alliance/dpa/F. Frazão
"Ela queria dar um furo"
“Ela queria dar o furo a qualquer preço contra mim”, ironizou o ex-presidente sobre a jornalista Patrícia Campos Mello, da Folha de S.Paulo. O comentário de cunho sexual se referia à acusação, realizada sem provas, de um ex-funcionário de uma agência de disparos de mensagens em massa de que a jornalista teria tentado "se insinuar" sexualmente para ele em busca de informações.
Foto: Imago Images/Fotoarena/R. Pereira
"Canalhice da Globo"
“Isso é uma patifaria, TV Globo! É uma canalhice o que vocês fazem, TV Globo. Uma canalhice, fazer uma matéria dessas em um horário nobre, colocando sob suspeição que eu poderia ter participado da execução da Marielle Franco”, acusou, em outubro de 2019, após o Jornal Nacional noticiar que o porteiro de seu condomínio dissera que Bolsonaro autorizara a entrada suposto envolvido no crime.