Líderes mundiais saúdam cessar-fogo entre Israel e Hamas
21 de maio de 2021
EUA veem chance de paz duradoura na região. ONU e Alemanha propõem diálogo abordando as "raízes do conflito". Ataques são suspensos, e trégua se mantém nas primeiras horas após entrar em vigor.
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Líderes mundiais saudaram o cessar-fogo entre Israel e o Hamas, intermediado pelo Egito, que começou às 2h (horário local) desta sexta-feira (21/05). Não houve registro de novos disparos nas primeiras horas de vigor do acordo.
Ambas as partes alertaram, no entanto, que o cessar-fogo seria suspenso em caso de violação pelo outro lado. "A decisão de retomar os ataques com foguetes contra Israel continua sendo uma opção", afirmou um porta-voz das Brigadas al-Qassam, a ala militar do Hamas, em entrevista à televisão islâmica al-Aqsa.
Os militares israelenses suspenderam as medidas de segurança para o sul do
país, área mais afetada pelos foguetes dos militantes palestinos.
"Chance à paz duradoura"
Em discurso na Casa Branca, o presidente dos EUA, Joe Biden, saudou o cessar-fogo como uma chance de progresso rumo a uma paz duradoura na região. Ele também agradeceu aos líderes egípcios que mediaram a trégua.
Israel e o Hamas se confrontavam há 11 dias depois que as tensões aumentaram em Jerusalém por causa dos despejos de famílias palestinas e da repressão policial israelense contra fiéis palestinos na mesquita de al-Aqsa, m Jerusalém Oriental.
O Ministério da Saúde de Gaza contabilizou pelo menos 232 palestinos foram mortos durante o conflito, incluindo 64 crianças, além de 1.620 feridos. Em Israel, as autoridades registraram a morte de 12 pessoas, entre as quais dois menores, e 340 feridos.
UE elogia esforços
Biden prometeu reabastecer o sistema de Domo de Ferro de Israel e disse que seu governo trabalhará com a Autoridade Palestina para fornecer ajuda humanitária a Gaza.
"Acredito que israelenses e palestinos merecem igualmente viver com segurança e desfrutar de medidas iguais de liberdade, prosperidade e democracia", disse Biden. "Acredito que temos uma oportunidade genuína de fazer progressos e estou empenhado em trabalhar para isso", acrescentou.
O Departamento de Estado americano anunciou que o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, irá ao Oriente Médio e se encontrará com seus colegas israelense e palestino nos próximos dias.
O presidente egípcio, Abdel Fattah el-Sissi, agradeceu a Biden, através do Twitter, por seu papel nos esforços de cessar-fogo após comentários da Casa Branca.
O chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Josep Borrell, enalteceu os esforços para o acordo. "A União Europeia congratula o anunciado cessar-fogo que põe fim à violência em Gaza e arredores. Louvamos o Egito, o Catar, as Nações Unidas, os Estados Unidos e outros que desempenharam um papel facilitador neste processo", disse Borrell, através de nota.
"Estamos consternados e lamentamos a perda de vidas ao longo destes últimos 11 dias", acrescentou o Alto Representante da UE para a política externa, observando que a situação na Faixa de Gaza era "há muito insustentável".
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Alemanha e Reino Unido
O chefe da diplomacia alemã saudou o cessar-fogo, mas ponderou que agora é necessário "atacar as causas profundas" do conflito. "É bom que um cessar-fogo tenha ocorrido", comemorou no Twitter o ministro alemão do Exterior, Heiko Maas, e que "não haja mais vítimas". Ele, que regressou de uma visita nesta quinta-feira a Israel e aos territórios palestinos, enviou um "grande obrigado ao Egito pela sua mediação", que resultou no cessar-fogo.
"Agora é momento de atacar as causas profundas, restaurar a confiança e encontrar uma solução para o conflito no Médio Oriente", concluiu Maas.
O secretário do Exterior do Reino Unido, Dominic Raab, também elogiou a trégua. "Todos os lados devem trabalhar para tornar o cessar-fogo durável e acabar com o ciclo inaceitável de violência e perda de vidas civis", tuitou Raab. "O Reino Unido continua apoiando os esforços para trazer a paz."
"Saúdo o cessar-fogo entre Gaza e Israel, após 11 dias mortais de hostilidades", disse o secretário-geral da ONU, António Guterres, expressando suas condolências aos que morreram na violência e a seus entes queridos. Guterres pediu aos líderes israelenses e palestinos que discutam as "raízes" do conflito.
"Enfatizo que os líderes israelenses e palestinos têm uma responsabilidade, além da restauração da tranquilidade, para iniciar um diálogo sério visando as raízes do conflito", acrescentou. "Gaza é parte integrante de qualquer futuro Estado palestino, e nenhum esforço deve ser poupado para trazer a reconciliação nacional e acabar com a divisão."
O anúncio da trégua foi feito nesta quinta-feira pelo governo israelense. Poucas depois, o grupo islâmico Hamas confirmou a trégua "mútua e simultânea" com Israel. "Obtivemos garantias dos mediadores de que a agressão contra Gaza vai parar", disse o porta-voz do Hamas em Gaza, Hazem Qassem sobre o papel do Egito e da ONU na resolução do conflito.
Segundo comunicado do gabinete de segurança do governo do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, foi aceita a proposta feita pelo Egito de um "cessar-fogo bilateral e incondicional, que entrará em vigor numa data posterior".
Primeiras horas de trégua
O governo egípcio se comprometeu a enviar duas delegações para observar a implementação da trégua em Tel Aviv e nos territórios palestinos.
Além de Israel e do Hamas, o cessar-fogo também incluiu a Jihad Islâmica Palestina, o segundo grupo armado mais poderoso em Gaza.
Entre o anúncio da trégua e o início oficial do cessar-fogo, disparos de foguetes palestinos continuaram, e Israel realizou pelo menos um ataque aéreo.
Na Faixa de Gaza, milhares foram às ruas assim que o cessar-fogo entrou em vigor. Cercadas por ruínas, as pessoas expressaram seu alívio agitando bandeiras, soltando fogos de artifício, disparando tiros para o alto e gritando "Allahu akbar "(Deus é o maior). Celebrações semelhantes ocorreram na Cisjordânia.
No entanto, espera-se que dezenas de milhares de palestinos participem das orações semanais na mesquita de Al-Aqsa no final da sexta-feira, em evento com potencial para reacender o conflito.
md/cn (AFP, Reuters, DPA)
A longa história do processo de paz no Oriente Médio
Por mais de meio século, disputas entre israelenses e palestinos envolvendo terras, refugiados e locais sagrados permanecem sem solução. Veja um breve histórico sobre o conflito.
Foto: PATRICK BAZ/AFP/Getty Images
1967: Resolução 242 do Conselho de Segurança da ONU
A Resolução 242 do Conselho de Segurança das Nações Unidas, aprovada em 22 de novembro de 1967, sugeria a troca de terras pela paz. Desde então, muitas das tentativas de estabelecer a paz na região referiram-se a ela. A determinação foi escrita de acordo com o Capítulo 6 da Carta da ONU, segundo o qual as resoluções são apenas recomendações e não ordens.
Foto: Getty Images/Keystone
1978: Acordos de Camp David
Em 1973, uma coalizão de Estados árabes liderada pelo Egito e pela Síria lutou contra Israel no Yom Kippur ou Guerra de Outubro. O conflito levou a negociações de paz secretas que renderam dois acordos 12 dias depois. Esta foto de 1979 mostra o então presidente egípcio Anwar Sadat, seu homólogo americano Jimmy Carter e o premiê israelense Menachem Begin após assinarem os acordos em Washington.
Foto: picture-alliance/AP Photo/B. Daugherty
1991: Conferência de Madri
Os EUA e a ex-União Soviética organizaram uma conferência na capital espanhola. As discussões envolveram Israel, Jordânia, Líbano, Síria e os palestinos – mas não da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) –, que se reuniam com negociadores israelenses pela primeira vez. Embora a conferência tenha alcançado pouco, ela criou a estrutura para negociações futuras mais produtivas.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Hollander
1993: Primeiro Acordo de Oslo
Negociações na Noruega entre Israel e a OLP, o primeiro encontro direto entre as duas partes, resultaram no Acordo de Oslo. Assinado nos EUA em setembro de 1993, ele exigia que as tropas israelenses se retirassem da Cisjordânia e da Faixa de Gaza e que uma autoridade palestina autônoma e interina fosse estabelecida por um período de transição de cinco anos. Um segundo acordo foi firmado em 1995.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Sachs
2000: Cúpula de Camp David
Com o objetivo de discutir fronteiras, segurança, assentamentos, refugiados e Jerusalém, o então presidente dos EUA, Bill Clinton, convidou o premiê israelense Ehud Barak e o presidente da OLP Yasser Arafat para a base militar americana em julho de 2000. No entanto, o fracasso em chegar a um consenso em Camp David foi seguido por um novo levante palestino, a Segunda Intifada.
Foto: picture-alliance/AP Photo/R. Edmonds
2002: Iniciativa de Paz Árabe
Após Camp David, seguiram-se encontros em Washington e depois no Cairo e Taba, no Egito – todos sem resultados. Mais tarde, em março de 2002, a Liga Árabe propôs a Iniciativa de Paz Árabe, convocando Israel a se retirar para as fronteiras anteriores a 1967 para que um Estado palestino fosse estabelecido na Cisjordânia e em Gaza. Em troca, os países árabes concordariam em reconhecer Israel.
Foto: Getty Images/C. Kealy
2003: Mapa da Paz
Com o objetivo de desenvolver um roteiro para a paz, EUA, UE, Rússia e ONU trabalharam juntos como o Quarteto do Oriente Médio. O então primeiro-ministro palestino Mahmoud Abbas aceitou o texto, mas seu homólogo israelense Ariel Sharon teve mais reservas. O cronograma previa um acordo final sobre uma solução de dois estados a ser alcançada em 2005. Infelizmente, ele nunca foi implementado.
Foto: Getty Iamges/AFP/J. Aruri
2007: Conferência de Annapolis
Em 2007, o então presidente dos EUA George W. Bush organizou uma conferência em Annapolis, Maryland, para relançar o processo de paz. O premiê israelense Ehud Olmert e o presidente da ANP Mahmoud Abbas participaram de conversas com autoridades do Quarteto e de outros Estados árabes. Ficou acordado que novas negociações seriam realizadas para se chegar a um acordo de paz até o final de 2008.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Thew
2010: Washington
Em 2010, o enviado dos EUA para o Oriente Médio, George Mitchell, convenceu o premiê israelense, Benjamin Netanyahu, a implementar uma moratória de 10 meses para assentamentos em territórios disputados. Mais tarde, Netanyahu e Abbas concordaram em relançar as negociações diretas para resolver todas as questões. Iniciadas em setembro de 2010, as negociações chegaram a um impasse dentro de semanas.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Milner
Ciclo de violência e cessar-fogo
Uma nova rodada de violência estourou dentro e ao redor de Gaza no final de 2012. Um cessar-fogo foi alcançado entre Israel e os que dominavam a Faixa de Gaza, mas quebrado em junho de 2014, quando o sequestro e assassinato de três adolescentes em mais violência. O conflito terminou com um novo cessar-fogo em 26 de agosto de 2014.
Foto: picture-alliance/dpa
2017: Conferência de Paris
A fim de discutir o conflito entre israelenses e palestinos, enviados de mais de 70 países se reuniram em Paris. Netanyahu, porém, viu as negociações como uma armadilha contra seu país. Tampouco representantes israelenses ou palestinos compareceram à cúpula. "Uma solução de dois Estados é a única possível", disse o ministro francês das Relações Exteriores Jean-Marc Ayrault, na abertura do evento.
Foto: Reuters/T. Samson
2017: Deterioração das relações
Apesar de começar otimista, o ano de 2017 trouxe ainda mais estagnação no processo de paz. No verão do hemisfério norte, um ataque contra a polícia israelense no Monte do Templo, um local sagrado para judeus e muçulmanos, gerou confrontos mortais. Em seguida, o plano do então presidente dos EUA, Donald Trump, de transferir a embaixada americana para Jerusalém minou ainda mais os esforços de paz.
Foto: Reuters/A. Awad
2020: Tiro de Trump sai pela culatra
Trump apresentou um plano de paz que paralisava a construção de assentamentos israelenses, mas mantinha o controle de Israel sobre a maioria do que já havia construído ilegalmente. O plano dobrava o território controlado pelos palestinos, mas exigia a aceitação dos assentamentos construídos anteriormente na Cisjordânia como território israelense. Os palestinos rejeitaram a proposta.
Foto: Reuters/M. Salem
2021: Conflito eclode novamente
Planos de despejar quatro famílias palestinas e dar suas casas em Jerusalém Oriental a colonos judeus levaram a uma escalada da violência em maio de 2021. O Hamas disparou foguetes contra Israel, enquanto ataques aéreos militares israelenses destruíram prédios na Faixa de Gaza. A comunidade internacional pediu o fim da violência e que ambos os lados voltem à mesa de negociações.
Foto: Mahmud Hams/AFP
2023: Terrorismo do Hamas e retaliações de Israel
No início da manhã de 7 de outubro, terroristas do grupo radical islâmico Hamas romperam barreiras em alguns pontos da Faixa de Gaza, na fronteira com Israel, e, em território israelense, feriram e mataram centenas de pessoas, além de sequestrarem mais de uma centena. Devido a isso, Israel declarou "estado de guerra" e iniciou uma série de bombardeios, deixando partes da Cidade de Gaza em ruínas.