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Líderes questionam versão saudita sobre caso Khashoggi

21 de outubro de 2018

Após explicação de Riad sobre morte do jornalista em Istambul, União Europeia, Alemanha e outras lideranças cobram transparência do regime saudita. Trump fala em "importante primeiro passo".

Jornalista Jamal Khashoggi
Jamal Khashoggi morreu dentro do consulado da Arábia Saudita em IstambulFoto: picture-alliance/AA/O. Shagaleh

Após a Arábia Saudita ter confirmado a morte do jornalista Jamal Khashoggi no consulado do país em Istambul, líderes internacionais cobraram mais explicações do regime saudita neste sábado (20/10). 

A chanceler federal alemã, Angela Merkel, e o ministro do Exterior do país, Heiko Maas, condenaram fortemente a violenta morte de Khashoggi, que, segundo a Arábia Saudita, se deu durante uma briga no consulado. 

"Esperamos transparência da Arábia Saudita quanto às circunstâncias da morte", diz uma declaração conjunta de Merkel e Maas. "Os responsáveis devem ser responsabilizados. As informações dadas sobre o ocorrido no consulado em Istambul não são suficientes."

Maas também colocou em questão a venda de armas para a Arábia Saudita. "Enquanto as investigações estiverem em curso, enquanto não soubermos o que aconteceu, não há base para alcançar decisões positivas sobre a exportação de armas para a Arábia Saudita", disse à emissora ARD.

A chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Federica Mogherini, cobrou "explicações razoáveis" sobre as circunstâncias da morte de Khashoggi. Ela falou numa "violação chocante" da convenção de Viena de 1963 sobre relações consulares.

"Reforçamos nosso compromisso com a liberdade de imprensa e a proteção de jornalistas no mundo todo", escreveu Mogherini numa declaração divulgada na noite de sábado.

Karin Kneissl, ministra do Exterior da Áustria, país que está à frente da presidência rotativa da UE, disse que "um incidente tão grave" deverá ter consequências nas relações entre Bruxelas e Riad.

Para Kneissl, o fato de a Arábia Saudita ter reconhecido que o repórter morreu no seu consulado "não altera a necessidade de uma investigação exaustiva, credível e independente".

Uma nota assinada pela ministra austríaca aponta ainda a "deterioração massiva da situação dos direitos humanos" no reino saudita durante "os últimos dois anos", principalmente com um "forte aumento do número de presos políticos", incluindo de muitas mulheres que foram presas em junho e "cujo único crime foi participar em congressos".

Também o ministério das Relações Exteriores britânico está analisando o relatório saudita que confirma a morte do jornalista, reiterando que os responsáveis devem ser responsabilizados. Em declaração, o ministério britânico revelou neste sábado que também estão sendo ponderados "os próximos passos".

O ministro do Exterior francês, Jean-Yves Le Drian, afirmou que muitas perguntas permanecem sem resposta e insistiu na necessidade de uma investigação exaustiva.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, inicialmente afirmou considerar a explicação saudita para a morte de Khashoggi credível, para depois dizer que precisa saber mais sobre a morte e sobre o paradeiro do corpo do jornalista.

"Não, não estou satisfeito até que tenhamos a resposta. Foi um importante primeiro passo, Foi um bom primeiro passo. Mas eu quero a resposta", disse.

A organização Anistia Internacional questionou a imparcialidade das declarações sauditas. A responsável da Anistia Rawya Rageh sublinhou que os grupos de direitos humanos e outras organizações deixam claro que é necessária uma "investigação imparcial e independente pelas Nações Unidas para se apurar o que aconteceu e se garantir justiça" para Khashoggi.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, também pediu uma investigação adequada e que os culpados sejam responsabilizados.

Jamal Khashoggi

O jornalista saudita se tornou conhecido por seus artigos publicados em veículos em inglês sobre o mundo árabe e, especialmente, sobre a Arábia Saudita. No país árabe, Khashoggi trabalhou como jornalista durante muito tempo e chegou a ser assessor de um ex-chefe do serviço secreto, o príncipe Turki al-Faisal.

Devido às críticas à família real e ao príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, o jornalista temia ser preso e, no ano passado, se mudou para os Estados Unidos, onde escreveu artigos de opinião e colunas para o Washington Post.

No dia 2 de outubro, Khashoggi foi ao consulado da Arábia Saudita em Istambul para providenciar a documentação necessária para seu casamento com a turca Hatice Cengiz. Após sete horas e meia sem notícias de seu noivo, Cengiz informou a polícia turca. Os investigadores analisaram vídeos filmados no entorno do prédio do consulado e abriram uma investigação oficial.

Fontes turcas afirmaram temer que agentes sauditas de um comando especial que se deslocou a Istambul teriam assassinado e esquartejado Khashoggi, que teria ainda sido alvo de tortura.

Policiais turcos disseram à agência Reuters que 15 agentes sauditas chegaram a Istambul em dois aviões no dia em que Khashoggi foi ao consulado. Segundo o jornal turco conservador e pró-governo Yeni Safak, eles visitaram o consulado enquanto o jornalista ainda estava dentro do edifício, e deixaram o país pouco tempo depois de seu desaparecimento.

Consulado da Arábia Saudita em Istambul foi fechado após morte de jornalistaFoto: picture-alliance/Xinhua News Agency/He Canling

Versões contrastantes

O caso gerou repercussão internacional e elevou as tensões entre a Arábia Saudita e o Ocidente. Na noite desta sexta-feira, Riad anunciou a morte de Khashoggi. Segundo a Procuradoria Geral do reino árabe, o jornalista morreu numa briga que aconteceu devido a conversas que manteve no interior do consulado com indivíduos que ainda não foram identificados pelas autoridades.

A Procuradoria Geral garantiu que as investigações continuam e que 18 pessoas de nacionalidade saudita estão detidas por relação com o caso.

A versão saudita contrasta com a dos veículos de imprensa turcos e americanos, que, com base em supostas provas que estariam em posse das autoridades turcas, indicam uma execução brutal e planejada de Khashoggi, executada por agentes sauditas próximos do príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, que viajaram para Istambul no mesmo dia 2 de outubro.

As autoridades turcas, no entanto, não confirmaram oficialmente as informações que circularam na imprensa até agora. Neste sábado, Ancara anunciou, porém, que vai continuar com suas investigações sobre o caso e que revelará as suas próprias conclusões.

"Estamos fazendo nossa investigação independente. Revelaremos as nossas conclusões. Esta é a vontade do presidente", afirmou neste sábado em Istambul Ömer Çelik, porta-voz do Partido Justiça e Desenvolvimento (AKP), do presidente turco Recep Tayyip Erdogan, segundo o jornal Hürriyet.

O porta-voz acrescentou que vai esperar as conclusões da investigação turca para avaliar a explicação dos fatos apresentada pelas autoridades sauditas. Por outro lado, a deputada do AKP Leyla Sahin Usta criticou a explicação de Riad, que, segundo ela, chegou muito tarde.

"Teria sido conveniente que os sauditas anunciassem os detalhes deste incidente com maior antecipação. Isto é uma grande vergonha para a Arábia Saudita e para todo o mundo", disse a legisladora. "Como resultado da investigação das autoridades turcas, o Ministério Público da Turquia tem algumas provas" que "serão reveladas em breve", acrescentou a deputada.

Em um primeiro momento, Riad havia afirmado que o jornalista tinha saído vivo da sede diplomática em Istambul, rejeitando as acusações de que ele teria sido assassinado dentro do recinto.

Aliados da Arábia Saudita manifestaram apoio a Riad depois que admitiu a morte de Khashoggi no interior do consulado. O Ministério das Relações Exteriores do Egito saudou os resultados preliminares das investigações informados pela Procuradoria Geral saudita e considerou que tal passo mostra "o compromisso da Arábia Saudita de chegar à verdade sobre este incidente e tomar as medidas legais contra as pessoas envolvidas no mesmo".

CA/efe/lusa/dw

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