Lübbenau, uma cidade dentro de outra Alemanha
17 de dezembro de 2005A cidade de Lübbenau, no Estado de Brandemburgo, está distante pouco mais de uma hora de trem de Berlim, a capital alemã. Mesmo com a relativa proximidade, quem chega na cidade já sente a atmosfera peculiar. No lugar de ruas, há canais. Os carros foram trocados por barcos e o verde domina a paisagem.
Veneza do norte
Basta ter um córrego que atravessa o perímetro urbano para uma cidade européia se entitular "uma Veneza". Mas, no caso de Lübbenau, não ter um barco ancorado na frente de casa pode representar um problema para muitos moradores. Apesar de não ter a totalidade das vias submersas, grande parte da locomoção depende do remo ou do motor.
Durante o passeio nos canais, o turista pode observar uma paisagem que se manteve semelhante à de 10 mil anos (conforme apuraram pesquisadores). A região, chamada de Spreewald – floresta do Rio Spree, é uma ótima opção para caminhadas: são mais de 200km de trilhas. Atenção para a melhor época do ano: entre abril e outubro, as condições são favoráveis para o esporte ao ar livre. Depois, muito frio e vento.
Apesar da intensa utilização do solo na última década, o Spreewald é uma área onde se encontram, ainda hoje, animais e plantas raras. Desde outubro de 1990, é uma reserva da biosfera protegida pela Unesco.
Museu do pepino
A Alemanha não é somente o país das feiras, é também a terra dos museus. Qualquer assunto é digno de receber um tratamento especial e ganhar um museu. Para os vegetais, a regra também é válida. Um destes exemplos está distante dois quilômetros do centro da cidade.
O único museu do pepino no mundo fica em Lehde, vilarejo que pertence a Lübbenau, e pode ser visitado nos meses mais quentes do ano, o que significa que fica fechado de novembro a março. Para surpresa dos curiosos, o local realmente conta a história do cultivo da hortaliça em terras alemãs.
A exposição apresenta o dia-a-dia dos agricultores, suas ferramentas de trabalho, equipamentos para a produção de conservas e barris para armazenagem. O prédio do museu já é, por si só, interessante: está em um galpão onde ficava o maquinário específico para o processamento desta verdura.
Desde sua primeira visita à cidade, o escritor alemão Theodor Fontane já demonstrou o apreço pelo principal produto produzido no local, chegando a apelidar o lugarejo de "pátria do pepino". Sua admiração podia ser percebida pela encomenda que recebia todos os anos em casa: uma barrica cheia da verde hortaliça.
Leia a seguir: Lübbenau e sua língua própria
A descoberta de Lübbenau
O portão de entrada para a região de Spreewald tem uma longa história. Através de estudos arqueológicos, foi comprovado que por volta do século 10 já havia uma aldeia no local. Já o resultado das escavações remete a ocupação humana para outros períodos, como a Idade do Bronze. Por volta de 950, grupos de eslavos se fixaram onde hoje fica Lübbenau. O primeiro registro da cidade ocorreu em 1315.
Até meados do século 20, o número de habitantes chegava a pouco mais de oito mil. Em 1959, a cidade ganhou uma usina de extração de carvão vegetal, responsável pelo aumento da população. Hoje, Lübbenau conta com 16 mil moradores.
Língua própria
Não se assuste se, ao chegar em Lübbenau, você encontrar placas em alemão e outro idioma, que não o alemão. Estamos falando do sórbio – língua de origem eslava, também conhecida por sorábio ou lusaciano. Conta ainda hoje nos Estados da Saxônia e de Brandemburgo com cerca de 60 mil falantes.
Durante a Guerra dos Trinta Anos, metade da população dos antigos eslavos do Rio Elba foi perdida, o que reduziu a área de abrangência do idioma sórbio. Com a industrialização após 1871, desapareceu como língua materna.
Com a introdução do alemão nas escolas, os sórbios se tornaram bilíngües. Em contrapartida, as missas tinham uma grande influência no desenvolvimento da língua. Até 1867, os cultos na igreja evangélica de São Nicolau, no centro histórico de Lübbenau, eram ministrados em sórbio.