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Laços entre Rússia e Irã se intensificam apesar de sanções

4 de julho de 2023

Presença de armas iranianas na guerra na Ucrânia é fato, mas desde o motim do Grupo Wagner, Moscou e Teerã se aproximaram ainda mais. Aprofundamento das relações pode culminar em acordo regional de livre-comércio.

Vladimir Putin, Ali Khamenei e Ebrahim Raisi em julho de 2022 em Teerã
Vladimir Putin encontrou-se com Ali Khamenei e Ebrahim Raisi em julho de 2022 em TeerãFoto: yjc

Pouco depois da insurreição dos mercenários do Grupo Wagner na Rússia, o presidente Vladimir Putin teve uma conversa telefônica com seu homólogo iraniano, Ebrahim Raisi. Em 26 de junho último, o Kremlin comunicou que este teria "confirmado seu total apoio à liderança da Federação Russa".

Dois dias mais tarde, seguiu-se um telefonema entre o chefe do Estado-maior das Forças Armadas iranianas, Mohammad Bagheri, e o ministro russo da Defesa, Sergey Shoigu. Segundo o jornal Tehran Times, na pauta estiveram os acontecimentos recentes na Rùssia, relações militares bilaterais e questões de segurança regional. Bagheri convidou o ministro russo para Teerã.

"A rebelião na Rússia não é motivo para o Irã se distanciar de Moscou", afirma Arman Mahmoudian, docente da Universida da Flórida do Sul para estudos russos e do Oriente Médio.

"Desde a presidência de Mahmoud Ahmadinejad [2005-2013], o Irã persegue uma política externa voltada para o Leste, em que a Rússia desempenha um papel importante. Sobretudo depois da saída do EUA do acordo nuclear com o Irã [em 2018], Moscou é visto pelos linhas-duras iranianos como aliado confiável. Na invasão russa da Ucrânia, eles vêm a oportunidade de se afirmarem como parceiros da Rússia."

Mahmoudian antecipa que a guerra na Ucrânia, iniciada em 24 de fevereiro de 2022, ficará mais brutal com a insurreição do Grupo Wagner, que quase chegou às portas de Moscou. Putin vai querer mostrar força aos observadores externos, pois precisa de todo auxílio possível em sua campanha para obrigar Kiev a se render.

Cooperação à sombra das sanções americanas

Segundo os Estados Unidos, Moscou tem aprofundado sua cooperação miltar com Teerã. Em maio, o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos, John Kirby, afirmou que os dois países estão no processo de ampliar sua parceria militar sem precedentes. A Rússia mostra interesse sobretudo nos modernos drones de combate iranianos, já tendo importado mais do que 400 deles desde agosto de 2022 – motivo pelo qual os EUA e a União Europeia impuseram sanções a Teerã.

Além disso, no início de junho de 2023, a emissora britânica Sky News noticiou sobre um documento vazado, de 16 páginas, que provaria o fornecimento de munição iraniana à Rússia. Ele teria sido apresentado tanto ao primeiro-ministro ucraniano, Denys Schmyhal, quanto ao ministro britânico do Exterior, James Cleverly. Foram prometidas investigações, caso se confirmasse sua veracidade.

Ao mesmo tempo, o Irã sofre com as sanções impostas contra a Rússia. Ambos se financiam principalmente com a exportação de energia, sendo considerados rivais nos mercados globais. Como as medidas punitivas reduziram bastante o contingente de compradores da Rússia, esta agora oferece petróleo e gás natural a preços consideravelmente mais baixos a clientes tradicionais do Irã, como China, Índia e Turquia.

O especialista Mahmoudian avalia: "O Irã não vai se distanciar da Rússia. Nestas circunstâncias, porém, tenta representar uma função desescaladora em relação ao Ocidente – por exemplo, ao negociar indiretamente com os EUA."

Segundo dados da mídia, Washington e Teerã trabalham no sentido de um acerto informal do conflito em torno do programa nuclear iraniano, que os americanos tencionam restringir. Segundo o jornal The New York Times, o plano seria fazer o Irã limitar a 60% seu enriquecimento de urânio e, acima de tudo, intensificar a colaboração com os inspetores nucleares internacionais. Em contrapartida, os EUA não endureceriam mais suas sanções econômicas.

Até agora, o Irã pouco se beneficiou da planejada ampliação de suas relações comerciais com a Rússia, mas Moscou promete que isso vai mudar com o fechamento de um acordo de livre-comércio entre ambos e a Armênia, Belarus, Cazaquistão e Quirguistão. Segundo o vice-premiê russo, Alexei Overchuk, isso fortalecerá a cooperação numa região que se estende das fronteiras da Europa Oriental até a China Ocidental.

 

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