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CiênciaCanadá

Lago no Canadá pode provar que humanidade mudou o planeta

12 de julho de 2023

Cientistas elegem lago Crawford como símbolo do Antropoceno e dizem que local, que guarda desde vestígios da bomba atômica a microplásticos, é "arquivo geológico" da ação humana sobre a terra.

Vista aérea do lago Crawford, a aproximadamente 65 quilômetros de Toronto, no Canadá. O lago tem águas escuras e está cercado por uma floresta de coníferas.
O lago Crawford, a aproximadamente 65 quilômetros de Toronto, no Canadá.Foto: Cole Burston/The Canadian Press/empics/picture alliance

Espécies extintas, ecossistemas devastados, aquecimento global – a lista de eventos que entraram para a conta da humanidade é extensa.

Cientistas agora afirmam ter encontrado uma espécie de arquivo que registra essas mudanças na camada geológica da terra: o lago Crawford, localizado a aproximadamente 65 quilômetros de distância de Toronto, no Canadá.

Debaixo de seus 24 metros de profundidade, argumentam os pesquisadores por trás do estudo apresentado nesta terça-feira (11/07), está a prova de que o planeta adentrou uma nova e desafiadora era geológica: o Antropoceno, caracterizado pelo impacto massivo e desestabilizador da ação humana sobre o planeta.

Os sedimentos que se depositaram no fundo do lago a partir da segunda metade do século 20 contêm vestígios de explosões nucleares, cinzas decorrentes da queima de combustíveis fósseis e microplásticos – indícios de que o Holoceno, após 11.700 anos, teria chegado ao fim, segundo Andy Cundy, professor da Universidade de Southampton e um dos pesquisadores envolvidos no estudo.

Líder do grupo e professor da Universidade College London, Simon Turner diz que o lago é um arquivo geológico "extraordinário" porque registrou e gravou com precisão as mudanças ambientais ao longo do último milênio – mudanças essas que têm adquirido contornos cada vez mais dramáticos, com extinção de espécies, desmatamento, poluição e eventos climáticos de proporções inéditas.

Há anos a comunidade científica debate sobre a existência do Antropoceno. Apresentada em 2002 pelo Nobel de Química Paul Crutzen, a ideia de uma "época dos humanos" é amplamente aceita, mas carece de validação formal, já que não há um consenso sobre quando esse período teria se iniciado e quais evidências geológicas demonstrariam isso.

O estudo, conduzido ao longo da última década, ainda precisa ser aprovado por dois comitês antes de ser validado pela União Internacional de Ciências Geológicas (IUGS), órgão científico internacional que decide sobre a nomeação de capítulos geológicos na história da terra.

Nos próximos meses, o grupo de cientistas deve selecionar outros locais que poderiam ajudar geólogos a localizar o Antropoceno em outros ambientes como corais e pântanos.

Antropoceno teria começado nos anos 1950

Eleito pelos cientistas dentre outras 11 localidades avaliadas ao redor do mundo, o lago Crawford seria uma espécie de marco-zero do Antropoceno.

Pelas regras da Comissão Internacional de Estratigrafia (ICS), as evidências de uma era geológica devem ser avaliadas com base em um "marcador primário" sincrônico, espécie de impressão digital detectável no solo em praticamente qualquer lugar do planeta.

No caso do Antropoceno, esse elemento seria o plutônio liberado nos testes das bombas atômicas e encontrado tanto no sedimento do lago Crawford quanto em outras localidades examinadas pelo grupo.

Segundo Cundy, isso significa que 1952 – quando os Estados Unidos testaram, pela primeira vez, uma grande bomba de hidrogênio nas Ilhas Marshall – poderia se tornar o ano que marca o Antropoceno, já que pequenas explosões anteriores teriam deixado principalmente marcas regionais.

Embora alguns especialistas argumentem que o Antropoceno teria começado no início da Revolução Industrial, entre os séculos 18 e 19, os pesquisadores dizem que não encontraram mudanças profundas antes dos anos 1950, quando um rápido crescimento populacional e econômico impulsionou as emissões de dióxido de carbono e vestígios de armas nucleares se infiltraram na natureza.

ra (AFP, Reuters, ots)

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