Onda de rejeitos da mineradora Samarco percorreu 650 km até a foz do rio Doce, no distrito de Regência, em Linhares (ES). Empresa constroi barreiras nas margens e Projeto Tamar remove ninhos de tartarugas da região.
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Os rejeitos da mineradora Samarco, que contaminaram o rio Doce, começaram a chegar neste sábado (21/11) ao litoral do Espírito Santo. A onda de lama que se formou depois do rompimento de duas barragens no município de Mariana (MG) no dia 5 de novembro percorreu 650 quilômetros até a foz, deixando um rastro de destruição ambiental.
Por causa do tempo seco, um banco de areia formado na foz impede a chegada da lama ao Oceano Atlântico. A Samarco, subsidiária da Vale e da anglo-australiana BHP, tenta desobstruir a passagem da água do rio no distrito de Regência, no município de Linhares. De acordo com a empresa, se a água continuar represada, os danos serão ainda maiores.
Para tentar salvar a vegetação, a mineradora instalou bóias de contenção nas margens do rio, que são geralmente usadas em caso de vazamento de óleo. São 9 mil metros de barreiras, informou a empresa.
Pesquisadores da Coppe/UFRJ preveem que a lama se espalhe por um raio de 9 quilômetros, principalmente ao sul da foz do rio Doce. O local é uma área de proteção de tartarugas marinhas e, para evitar a morte dos animais, o Projeto Tamar removeu vários ninhos na praia de Comboios.
A Defesa Civil recomendou, em caráter temporário, que as pessoas não tomem banho no rio e no mar nessas regiões por precaução. Ainda não há previsão sobre quando a parte mais densa da lama irá chegar ao litoral.
Em 16 dias, a passagem dos rejeitos pelo rio Doce provocou a interrupção do abastecimento de água em vários municípios de Minas Gerais e do Espírito Santo.
KG/abr/ots
Tragédia em Mariana
Enxurrada que atingiu Mariana após rompimento de barragem do Fundão, em 5 de novembro, deixou rastro de destruição. Cidade ainda está enterrada na lama.
Foto: DW/N. Pontes
Dificuldades para chegar aos locais atingidos
A reportagem da DW Brasil acompanhou a primeira visita da Defesa Civil de Mariana ao distrito de Paracatu, que fica a 35 quilômetros do centro e foi arrasado pela tragédia. Foi preciso vencer muitas dificuldades na estrada para chegar ao local. Devido ao risco, barreiras de terra foram construídas pela empresa para evitar que ex-moradores trafegassem pelo local.
Foto: DW/N. Pontes
Tentativa de recuperação
Máquinas e homens da Samarco, mineradora responsável pela barragem que se rompeu, trabalham diariamente tentando recuperar as estradas destruídas. Todos os corpos d'água que cruzavam a região ganharam um tom vermelho escuro por causa da presença de minérios. Com as chuvas, o terreno fica ainda mais instável.
Foto: DW/N. Pontes
Lama perigosa
Caminhar pela lama é perigoso. O material despejado sobre o solo endurece quando o sol bate, mas praticamente se liquefaz quando entra em contato com a água. Segundo especialistas, o rejeito de mineração é um material inerte e que não pode ser usado em nenhum setor, como na construção civil. Moradores reviram os escombros sem luva ou qualquer outro equipamento de proteção.
Foto: DW/N. Pontes
Campo de futebol
No antigo campo de futebol, hoje tomado pelos rejeitos, o helicóptero da empresa Samarco pousou para avisar os moradores que eles tinham cinco minutos para fugir antes que a enxurrada de lama chegasse. Vizinhos deixaram tudo para trás e correram pela vizinhança para ajudar crianças e idosos a chegarem ao ponto mais alto do vilarejo.
Foto: DW/N. Pontes
Igreja havia sido reformada
A igreja do vilarejo de Paracatu, construída há mais de 100 anos, havia sido reformada há pouco tempo. Uma cratera ocupa hoje a antiga praça, onde moradores se reuniam todas as noites. Cerca de 70 famílias moravam em Paracatu. Expulsas pela lama, elas estão hospedadas em hotéis de Mariana e querem que o distrito seja reconstruído em outro local.
Foto: DW/N. Pontes
Santos perdidos
Marca na parede do interior da igreja mostra onde a altura que a enxurrada de lama atingiu. De volta ao vilarejo pela primeira vez após a catástrofe, antigos moradores lamentam a destruição e tentam recuperar imagens de santos escondidas na lama. É preciso se equilibrar sobre os assentos que restaram para não afundar.
Foto: DW/N. Pontes
À espera dos donos
Animais de estimação de antigos moradores perambulam pelos escombros das casas, à espera da volta dos donos. Sem água ou comida, eles reviram a lama em busca do que comer. Veterinários de São Paulo fizeram uma campanha e arrecadaram três toneladas de suprimentos para tratar dos animais que estão sendo resgatados.
Foto: DW/N. Pontes
"Eu não sei se esse barro um dia irá sair"
Antigos moradores buscam objetos pessoais enterrados na lama. Depois de uma manhã revirando os escombros, uma moradora mostra o que encontrou: talheres, um aparelho de celular, livros, fotos e até dinheiro. "Eu não sei se esse barro um dia irá sair", diz Uliane Marcelino Tete, que fazia a busca com a ajuda de uma enxada.
Foto: DW/N. Pontes
Centros de doações lotados
Voluntários trabalham no ginásio da cidade para separar roupas e outros objetos destinados aos desabrigados. Em Mariana, os dois centros recebem doações já estão lotados. Mas apesar da grande quantidade de gêneros alimentícios, é provável que o estoque se esgote em trinta dias. Segundo a prefeitura, cidade precisa de mais voluntários para ajudar na separação dos itens.
Foto: DW/N. Pontes
Cidade debaixo da lama
Casas do distrito de Paracatu ainda estão debaixo da lama. A enxurrada atingiu o vilarejo no começo da noite do dia 5 de novembro. Moradores contaram que ouviram um barulho forte se aproximando, mas não conseguiam ver a destruição que ele causava porque já começava a escurecer. Todos os residentes do distrito conseguiram escapar com vida.