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Summers aponta investimento público como solução para Europa

Nils Zimmermann (gb)1 de junho de 2015

Ex-secretário do Tesouro do EUA descarta austeridade como saída para a zona do euro. Em vez disso, ele sugere a injeção de dinheiro público em infraestrutura, o que geraria mais emprego e aumentaria a produtividade.

Foto: picture-alliance/abaca

Ao discursar na elegante mansão da American Academy, em Berlim, o ex-secretário do Tesouro de Bill Clinton e ex-conselheiro econômico de Barack Obama, Larry Summers, afirmou que o investimento público maciço seria o melhor remédio para a economia da zona do euro.

"Há um argumento convincente para a expansão do investimento público em muitas partes da Europa", declarou Summers no final da última semana. O economista voltou a atuar como professor na Universidade de Harvard depois de deixar o governo Obama, em 2010.

Os benefícios da injeção de dinheiro público na infraestrutura incluiriam mais emprego e demanda, um aumento da capacidade produtiva do continente e a diminuição do fardo a ser carregado pela próxima geração.

Ele ainda disse que pesquisas feitas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) indicam que "investimento público adequado" leva a uma menor proporção da dívida pública em relação ao Produto Interno Bruto (PIB), após cinco anos. Em outras palavras: feito corretamente, o investimento em infraestrutura mais do que paga a si mesmo.

Summers atribuiu o fraco crescimento econômico e as baixas taxas de juros na Europa e em demais regiões desenvolvidas à "estagnação secular", descrita por ele como um excesso crônico de poupança em vez de investimento.

Diversos fatores — incluindo o aumento da desigualdade e, entre outros, a tecnologia mais barata — culminaram na situação em que os poupadores mais ricos tinham uma grande quantidade de dinheiro, mas poucos projetos rentáveis para investir. O resultado: baixas taxas de juros crônicas e fraco crescimento do PIB.

É por isso que, segundo Summers, os governos deveriam intervir a fim de brecar o excesso de poupança e investir na infraestrutura.

Dinheiro fácil

Para o economista, "com a Alemanha apta a emprestar dinheiro por dez anos para 50 pontos base (meio por cento por ano), faz bastante sentido, para o governo, emprestar e gastar tendo em vista o interesse dos cidadãos".

Summers acrescentou que outros países da União Europeia também teriam condições de investir. "Até mesmo a Itália e a Espanha pagam atualmente somente 2% de juros sobre a dívida soberana. Isso é menos do que os Estados Unidos pagam."

O economista também expressou apoio à política monetária branda do Banco Central Europeu (BCE). "O risco de deflação é muito maior do que qualquer risco de inflação. O BCE deveria fazer o necessário para chegar a 2% de inflação, para restaurar o crescimento."

Reformas estruturais

O ministro das Finanças da Alemanha, Wolfgang Schäuble, e outros políticos da zona do euro têm insistido que governos de países com alta taxa de desemprego devem fazer "reformas estruturais" para "readquirir competitividade", tomando como exemplo a Agenda 2010 – série de reformas do mercado de trabalho adotadas pela Alemanha no início dos anos 2000.

Menores salários têm como objetivo aumentar a "competitividade" por meio da redução dos preços de produtos e serviços, aumentando as exportações. Cortes nos gastos do governo têm como objetivo sinalizar que impostos e taxas de juros permanecerão baixos, alavancando, assim, a "confiança nos negócios" e motivando investidores privados a trabalhar em novos empreendimentos, geradores de emprego.

É um pacote que tem sido chamado por seus apoiaadores apoiadores de "política consolidada de crescimento orientado". Além de Schäuble, vários outros ministros de finanças do norte europeu e muitos economistas alemães apoiam o modelo da Agenda 2010, mas Larry Summers não.

Summers admitiu que as reformas da Agenda 2010 tiveram sucesso ao transformarem a Alemanha na mais competitiva economia da Europa, no entanto, argumentou que o pacote "não é um exemplo viável para outras economias europeias".

O motivo: "reformas que suprimem os custos do trabalho tendem a deslocar as despesas de um país para outro". Subcotar os vizinhos em termos de salários leva a um superávit comercial num país e ao correspondente déficit em outro, mas não gera mais empregos ou crescimento do PIB.

"A maior reforma estrutural que já poderia ter acontecido na Europa foi criar um mercado único, o que já existe", declarou Summers. Ele defendeu reformas que "aumentam o crescimento e o investimento total numa base global", por meio do encorajamento no investimento privado, da redução da corrupção, do aumento da educação e do conhecimento e da facilidade para criar novos negócios.

Contratando e demitindo

A flexibilização dos mercados de trabalho, fazendo com que seja mais fácil contratar e demitir trabalhadores, é outro dos temas favoritos de políticos europeus, mas Summers alertou que não se deve apostar muito nisso.

Mesmo que seja notavelmente difícil demitir trabalhadores na França, ao mesmo tempo em que as regras de mercado de trabalho nos Estados Unidos são reconhecidamente flexíveis, lembrou Summers, 15% dos homens americanos na faixa entre os 25 e os 55 anos estavam desempregados em 2014, enquanto na França eram 12%.

"Segurança profissional em excesso não é bom, mas flexibilidade de regras também não é tudo o que se espera que seja", concluiu.

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