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"Lava Jato não é parcial", diz Moro

Karina Gomes
9 de dezembro de 2016

Em palestra sobre corrupção na Alemanha, juiz federal diz que operação não é influenciada pelo jogo político. Moro chama de "infeliz" foto em que aparece rindo com Aécio Neves, mas ressalta que senador não é investigado.

Sérgio Moro em Heidelberg
Foto: DW/Karina Gomes

Moro diz que foto com Aécio foi "infeliz"

01:53

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Entre aplausos e vaias, o juiz federal Sérgio Moro, responsável pela Operação Lava Jato na primeira instância, afirmou em palestra em Heidelberg nesta sexta-feira (09/12) que as investigações sobre desvios de recursos da Petrobras são imparciais e não sofrem influência de interesses políticos.

Perguntado pela DW Brasil sobre a criticada foto em que aparece rindo ao lado do senador Aécio Neves (PSDB-MG) durante a premiação "Brasileiros do Ano de 2016", da revista IstoÉ, Moro afirmou que o político não é alvo Lava Jato.

"Foi um evento público, e o senador não está sob investigação da Justiça Federal de Curitiba. Foi uma foto infeliz, mas não há nenhum caso envolvendo ele", disse. Aécio Neves, um dos políticos mais citados nas recentes delações de executivos da Odebrecht e de funcionários da Andrade Gutierrez, teria recebido propina de Furnas, estatal do setor elétrico.

Moro destacou que as investigações estão focadas na Petrobras e, por isso, é natural que políticos da oposição não apareçam. "Se o crime é provado, haverá consequências. O PTB, o Solidariedade, PP e PT aparecem nas investigações, então não posso ver onde está a parcialidade na condução das investigações", disse. Ele evitou comentar a notícia de que a Odebrecht teria pago caixa 2 ao governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), nas campanhas eleitorais de 2010 e 2014. "Casos envolvendo políticos são encaminhados ao Supremo", argumentou.  

O juiz disse discordar "totalmente" das críticas de que o processo legal não tem sido cumprido na Lava Jato. "A operação não é uma caçada às bruxas”, justificou ao dizer que não "joga com a política". "Nenhuma prisão aconteceu com base em opiniões políticas, mas em evidências de que crimes foram cometidos."

Para Moro, a Lava Jato dá ao Brasil a oportunidade de superar a "prática vergonhosa" de pagamento de propinas. "Há uma profunda erosão na confiança na democracia", afirmou. "A Lava Jato revela que muito pode ser feito para combater a corrupção sistêmica."

O juiz federal declarou que o Executivo e Legislativo precisam implementar políticas para combater a corrupção. Ao setor privado cabe implementar meios de controle interno para acabar com a "regra do jogo" do setor público, guiada pelo pagamento de propinas.

Protestos

Um grupo de cerca de 30 juristas e acadêmicos enviou uma carta à Universidade de Heidelberg argumentando que Moro não tem credibilidade para discursar sobre combate à corrupção no Brasil, por ser "parcial" em favor de partidos como PSDB e PMDB.

Parte do público protestou contra MoroFoto: DW/Karina Gomes

"O juiz federal Sérgio Moro incorreu em posturas as quais foram determinantes para o clima político de derrubada de um governo legítimo servindo, desta forma, aos piores interesses antidemocráticos", diz o texto, em referência ao vazamento de uma escuta telefônica entre a então presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no período de crise pré-impeachment.

Na plateia, brasileiros levantaram cartazes com dizeres "Moro na cadeia" e "parcialidade fere a democracia". Outros gritavam "Moro, meu herói". Os grupos trocaram insultos.

Perguntado por uma pessoa na plateia por que divulgou os áudios de escutas telefônicas de Dilma, Moro afirmou que as pessoas têm o direito de saber o que seus governantes fazem.

"É estranho que numa democracia as pessoas reclamem de uma revelação como essa. Desde o início das investigações decidimos que não iríamos esconder nenhuma informação do público", declarou ao ressaltar que a atitude "não foi uma exceção à regra".

Moro não quis comentar a crise entre o Legislativo e o Supremo Tribunal Federal (STF) instalada nesta semana após o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), se negar a se afastar do cargo depois de determinação do ministro Marco Aurélio Mello.

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