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Le Pen é criticada por declaração sobre deportação de judeus

11 de abril de 2017

Candidata da extrema direita rejeita posição oficial do Estado francês sobre responsabilidade no envio de milhares de judeus para os campos de concentração nazistas.

Marine Le Pen
"Penso que a França não foi responsável por Vel d'Hiv", disse Marine Le PenFoto: Getty Images/AFP/L. Bonaventure

A candidata da extrema direita na eleição presidencial francesa, Marine Le Pen, suscitou uma onda de críticas e acusações de revisionismo nesta segunda-feira (10/04), ao negar a responsabilidade do Estado francês na deportação de judeus durante a ocupação nazista.

Cerca de 13 mil judeus foram deportados pela polícia francesa entre 16 e 17 de julho de 1942, muitos dos quais estiveram detidos no estádio Vel d'Hiv, em Paris. Ao todo, cerca de 75 mil judeus foram deportados da França para campos de concentração nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. Apenas 2.500 sobreviveram.

Le Pen, que lidera as pesquisas de intenções de voto para o primeiro turno, que se realiza em 23 de abril, disse numa entrevista divulgada no domingo: "Penso que, de maneira geral, se há responsáveis, são aqueles que estavam no poder à época, e não a França."

O principal adversário de Le Pen, o centrista independente Emmanuel Macron, considerou que a candidata da extrema direita cometeu um erro grave. "Por um lado, é um erro histórico e político. E, por outro, mostra que Marine Le Pen é filha de Jean-Marie Le Pen", disse.

Jean-Marie Le Pen, pai da candidata da extrema direita e fundador do partido que ela preside, a Frente Nacional, foi condenado várias vezes por declarações antissemitas e racistas. A filha, numa tentativa de não afugentar eleitores, adotou um discurso diferente e acabou por afastar o pai do partido.

O candidato socialista, Benoît Hamon, também comentou a afirmação da adversária. "Quando Marine Le Pen não gosta da história, distorce-a. Se alguém tinha dúvidas sobre se Marine Le Pen é de extrema direita, deixou de tê-las", disse Hamon à emissora RTL.

O candidato da esquerda, Jean-Luc Mélenchon, considerou a declaração "normal para uma pessoa que fez toda a sua educação política à sombra do pai", e o candidato da direita, François Fillon, advertiu para "o perigo" de suscitar esse tipo de debate. "A verdade é que Vel d'Hiv foi um crime cometido pelo Estado francês", afirmou.

As declarações de Le Pen foram também criticadas pelo Ministério do Exterior de Israel como "contrárias à verdade histórica", tal como tem sido "expressada nas declarações de sucessivos presidentes franceses que reconheceram a responsabilidade da França no destino de judeus franceses que morreram no Holocausto".

Le Pen emitiu mais tarde um comunicado em que especifica que "considera que a França e a República estavam em Londres" e que "o regime de Vichy não era a França". A candidata afirmou ainda que era esse o entendimento dos presidentes franceses até o ex-presidente Jacques Chirac (1995-2007) assumir "erradamente" o papel do Estado na perseguição aos judeus durante a Segunda Guerra Mundial.

Em 1995, após décadas de negação no país, Chirac afirmou que a França era responsável pelas deportações, e não o regime de Vichy, que colaborava com os nazistas. Ele se tornou, assim, o primeiro presidente a reconhecer o papel do Estado francês na deportação de judeus, expressando também um pedido público de desculpas.

AS/lusa/ap/afp

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