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Le Pen volta a assustar

(na / as)9 de abril de 2007

Acusado de racismo e anti-semitismo, o extremista Jean-Marie Le Pen concorre mais uma vez à presidência da França. Pesquisas mostram que o apoio às idéias do candidato, que chegou ao segundo turno em 2002, não diminuiu.

Le Pen tenta repetir o feito da eleição de 2002, quando disputou o segundo turnoFoto: AP

Desde o seu início, a campanha presidencial francesa é vista como uma corrida entre dois favoritos. Apesar do crescimento do centrista François Bayrou, a maioria das apostas se concentra no ex-ministro do Interior Nicolas Sarkozy, do partido conservador UMP, e na oposicionista Ségolène Royal, do Partido Socialista.

Mas assim como nas últimas quatro eleições presidenciais, há um azarão correndo por fora. Enquanto os apoiadores de Sarkozy e Royal se ocupam com agressões mútuas, um homem que não foge de uma polêmica está mais uma vez ganhando terreno na briga pelo posto mais alto da política francesa: o controverso Jean-Marie Le Pen está de volta.

Ele é um dos 12 candidatos que disputam o voto dos franceses, numa campanha cujo início oficial se deu nesta segunda-feira (09/04). O primeiro turno será no próximo dia 22 de abril. O provável segundo turno será no dia 6 de maio. Mais do que em anos anteriores, a campanha é marcada pela indefinição dos eleitores: pesquisas mostram que 42% dos franceses ainda não se decidiram por um candidato.

Fim da imigração

Le Pen, líder da Frente Nacional, iniciou sua quinta campanha à presidência da França na esperança de sair-se ainda melhor do que na eleição de 2002, quando chegou ao segundo turno e acabou em segundo lugar. Naquela eleição, ao se tornar a única alternativa ao presidente Jacques Chirac, Le Pen chocou o establishment político francês, espalhou temores por toda a Europa e encerrou a carreira política do então primeiro-ministro, o socialista Lionel Jospin. Foi o medo de ver Le Pen no Palácio do Eliseu que fez eleitores à esquerda e à direita reelegerem Chirac com 82% dos votos.

Le Pen amplia base eleitoral com o apoio dos camponesesFoto: AP

Mas, depois de mais cinco anos de Chirac, parece que a França deixou de lado esse medo. Le Pen está de novo na disputa, e ainda que, no atual estágio, sua campanha não mostre o mesmo vigor que em 2002, ela começa a decolar com um manifesto populista baseado em promessas de fim da imigração, saída da França da Otan e menos impostos para os franceses.

O fato de Le Pen estar mais uma vez concorrendo à presidência é uma prova da sua tenacidade. Garoto de rua na juventude, quando perdeu um olho numa briga, e ex-integrante da Legião Estrangeira, tendo servido como oficial da inteligência na Argélia e na Indochina, Le Pen é acostumado a batalhas.

Desilusão com os políticos

Polêmico, foi condenado várias vezes por causa de suas declarações a respeito dos judeus e do Holocausto, tendo chamado as câmaras de gás nazistas de "um detalhe da história" e descrito a ocupação alemã da França como "relativamente humana". Minimizou os ataques do 11 de Setembro como um "incidente" e, antes da Copa do Mundo de 1998, disputada na França e vencida pela seleção francesa, reclamou que a equipe não era branca o suficiente. Apesar de tudo isso, ele e seu partido contam com crescente apoio entre os franceses.

Pesquisas divulgadas nos últimos dias mostram que o apoio a Le Pen atingiu seu nível mais alto nos últimos anos, chegando a 16% das intenções de voto, não muito longe dos percentuais de Bayrou (19%) e Royal (22%). Em 1997, metade dos franceses consideravam as idéias de Le Pen inaceitáveis. Hoje apenas um terço pensa assim.

Que um homem com idéias como essas possa ser um candidato sério numa eleição presidencial diz muito sobre a crescente desilusão dos franceses com suas lideranças políticas.

Crescimento da base eleitoral

Le Pen surgiu como uma figura conhecida no início dos anos 1970, com uma mistura populista de idéias de caráter antiimigrantista e promessas de emprego e segurança pública. Nos mais de 30 anos que se passaram desde a fundação da Frente Nacional, mais imigrantes chegaram à França, o desemprego se tornou um problema ainda maior e o crime e a impunidade cresceram. Le Pen readaptou continuamente suas idéias centrais para tocar nos temores do que ele chama de "a maioria silenciosa da França", a massa de eleitores que precisa lutar para ser ouvida pela "elite tecnocrática".

Para analistas, opção por Le Pen caracteriza voto de protestoFoto: AP

"Le Pen experimentou uma expansão da sua base eleitoral das áreas urbanas para as rurais e dos jovens para o mais velhos", opina Nonna Mayer, especialista em extrema direita do Centro de Pesquisas Políticas em Ciências Políticas de Paris. "Ele conseguiu ampliar e diversificar sua base social. Essa é uma das razões pelas quais ele permanece tão relevante mesmo na França atual."

Assim como na eleição de 2002, Le Pen baseia sua campanha numa plataforma antiimigrantista, atribuíndo à "invasão" de estrangeiros o crescente desemprego, a violência urbana e o que ele chama de "empobrecimento geral". Assim como há cinco anos, ele também busca o voto dos "trabalhadores humildes", apelando aos operários e camponeses descontentes.

A situação da agricultura francesa trouxe um novo grupo de eleitores para Le Pen. "O voto na extrema direita está crescendo nas áreas rurais", afirma Mayer. "Em 1988, eleitores das grandes cidades eram mais inclinados a votar em Le Pen. Em 1995, sua influência se estendeu para as cidades médias. Em 2002, ele atraía eleitores em cidades pequenas, com menos de 2.000 habitantes."

Segundo a pesquisadora, Le Pen mantém sua longevidade política ao escolher a dedo questões que afetam diversos setores da sociedade francesa: violência urbana para os moradores dos grandes centros, perda da identidade francesa para a classe média e desemprego para a classe trabalhadora. Para muitas pessoas, Le Pen é o único candidato que aborda as questões que realmente interessam.

Voto de protesto

Le Pen também ganhou apoio ao longo de sua carreira política com a crescente insatisfação dos franceses com seus líderes políticos. Antes das eleições de 2002, 83% dos eleitores ouvidos em pesquisas disseram que "políticos não se importam com pessoas como nós", e 58% disseram que os políticos franceses são "de alguma maneira corruptos".

Na época, as condições eram ideais para um voto de protesto a favor de Le Pen, opina Mayer. "Foi um voto de protesto porque, ainda que o apoio às suas idéias fosse muito alto, a maioria não queria que elas fossem implementadas. Apenas 41% dos que votaram em Le Pen queriam que ele fosse eleito."

O voto em candidatos como Le Pen, afirma Mayer, é usado como um aviso para que os políticos se ocupem dos verdadeiros problemas do país. O fato de o extremista participar mais uma vez de uma disputa eleitoral mostra que esses problemas estão longe de poderem ser considerados resolvidos.

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