Estudo encomendado pelo governo mostra que lei de 1998, destinada a impedir que pensões de vítima de guerra fossem pagas a colaboradores do nazismo, praticamente não surtiu efeito.
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Nazistas que participaram do Holocausto continuaram recebendo pensões como vítimas de guerra na Alemanha mesmo após uma mudança na lei de pensões, em 1998, afirma um relatório encomendado pelo Ministério alemão do Trabalho.
O relatório, elaborado pelos historiadores Stefan Klemp e Martin Hölzl, do Centro Simon Wiesenthal (SWC), afirma que uma lei de 1998 destinada a cortar benefícios recebidos por nazistas resultou em apenas 99 anulações de pensões de um total de até 76 mil possíveis, entre os anos de 1998 e 2013. Desde 2008, nenhuma pensão foi cancelada.
"A opinião pública tinha grandes expectativas em relação à lei", escreveram os historiadores no documento. "A lei estava destinada a fazer justiça ao anular benefícios de pessoas que violaram direitos humanos durante o Terceiro Reich."
Efraim Zuroff, diretor do SWC em Jerusalém, descreveu as conclusões do relatório como "excepcionalmente deprimentes". Já Christoph Heubner, do Comitê Internacional de Auschwitz, afirmou ao jornal alemão TAZ: "Se você considerar a frieza e arrogância com que muitas vítimas do nazismo tiveram suas pensões recusadas no início, nós só podemos chamar isso de vergonhoso."
Complicações
Em 1998, quando a lei foi aprovada, cerca de um milhão de alemães reivindicavam pensões de guerra, e não havia nenhuma cláusula que separava os envolvidos no Holocausto. Naquela época, a emissora pública de televisão ARD afirmou que, "se Adolf Hitler estivesse vivo, ele poderia obter uma assim chamada pensão de 'vítima de guerra'".
De fato, as viúvas de alguns dos maiores criminosos da Alemanha nazista receberam pensões como vítimas de guerra depois da Segunda Guerra. Lina Heydrich, a viúva de Reinhard Heydrich, um dos principais arquitetos do Holocausto assassinado em Praga, em 1942, recebeu sua pensão de vítima de guerra até a morte, em 1985.
Em contrapartida, as viúvas dos conspiradores por trás da tentativa de Claus Schenk Graf von Stauffenberg de assassinar Hitler, em 1944, lutaram muitas vezes nos tribunais para receber uma pensão de guerra.
Quando a nova lei sobre pensões foi aprovada, o governo alemão calculou que ela afetaria cerca de 50 mil pessoas – pelas contas do SWC, seriam 76 mil. De qualquer maneira, há uma grande discrepância entre esses números e as 99 pensões que de fato foram anuladas.
Questões burocráticas
O relatório constatou que as decisões da Justiça levaram a complicações que permitiram que as pensões continuassem sendo pagas. Os historiadores também encontraram questões burocráticas, incluindo registros incompletos sobre possíveis suspeitos e a falta de pessoal para conferir os casos. Eles apontaram, ainda, a inexistência de um sistema digitalizado no Escritório Central para a Investigação de Crimes do Nacional-Socialismo, em Ludwigsburg, no sul da Alemanha, que mantém registros de cerca de 700 mil pessoas consideradas vítimas, testemunhas e perpetradores.
Jens Rommel, promotor público que dirige o escritório de Ludwigsburg, declarou-se um pouco perplexo com a crítica. "Eu gostaria de saber no que o resultado mudaria se os dados estivessem disponíveis digitalmente", afirmou Rommel em entrevista à DW. "Claro que seria mais fácil para nós, internamente, analisarmos os dados com um computador. Mas o resultado não seria diferente. E, de qualquer forma, somos apenas uma das muitas autoridades que podem ajudar." Ele explicou que seu escritório era apenas responsável por fornecer informações às autoridades de pensões sobre pessoas que estavam em seus registros caso elas apresentassem solicitações.
O Ministério do Trabalho afirmou que não planeja alterar a lei por causa do relatório. "Deve-se notar que a principal razão para o pequeno número de anulações – a morte do potencial perpetrador – não mudou", afirmou um porta-voz à DW. "Uma vez que até os mais jovens perpetradores teriam hoje cerca de 90 anos, a probabilidade de encontrarmos perpetradores com vida entre os requerentes de pensão diminuirá a cada ano."
Memoriais do Terror Nazista
Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, diversos memoriais foram inaugurados na Alemanha para homenagear as vítimas do conflito e os perseguidos e mortos pelo regime nazista.
Foto: picture-alliance/dpa
Campo de concentração de Dachau
Um dos primeiros campos de concentração criados durante o regime nazista foi o de Dachau. Poucas semanas depois de Hitler chegar ao poder, os primeiros prisioneiros já foram levados para o local, que serviu como modelo para os futuros campos do Reich. Apesar de não ter sido concebido como campo de extermínio, em nenhum outro lugar foram assassinados tantos dissidentes políticos.
Foto: picture-alliance/dpa
Reichsparteitagsgelände
A antiga área de desfiles do Partido Nacional-Socialista em Nurembergue, denominada "Reichsparteitagsgelände", foi de 1933 até o início da Segunda Guerra palco de passeatas e outros eventos de propaganda do regime nazista, reunindo até 200 mil participantes. Lá está atualmente instalado um centro de documentação.
Foto: picture-alliance/Daniel Karmann
Casa da Conferência de Wannsee
A Vila Marlier, localizada às margens do lago Wannsee, em Berlim, foi um dos centros de planejamento do Holocausto. Lá reuniram-se, em 20 de janeiro de 1942, 15 membros do governo do "Terceiro Reich" e da organização paramilitar SS (Schutzstaffel) para discutir detalhes do genocídio dos judeus. Em 1992, o Memorial da Conferência de Wannsee foi inaugurado na vila.
Foto: picture-alliance/dpa
Campo de Bergen-Belsen
De início, a instalação na Baixa Saxônia servia como campo de prisioneiros de guerra. Nos últimos anos do conflito, eram geralmente enviados para Bergen-Belsen os doentes de outros campos. A maioria ou foi assassinada ou morreu em decorrência das enfermidades. Uma das 50 mil vitimas foi a jovem judia Anne Frank, que ficou mundialmente conhecida com a publicação póstuma do seu diário.
Foto: picture alliance/Klaus Nowottnick
Memorial da Resistência Alemã
No complexo de edifícios Bendlerblock, em Berlim, planejou-se um atentado fracassado contra Adolf Hitler. O grupo de resistência, formado por oficiais sob comando do coronel Claus von Stauffenberg, falhou na tentativa de assassinar o ditador em 20 de julho de 1944. Parte dos conspiradores foi fuzilada no mesmo dia, no próprio Bendlerblock. Hoje, o local abriga o Memorial da Resistência Alemã.
Foto: picture-alliance/dpa
Ruínas da Igreja de São Nicolau
Como parte da Operação Gomorra, aviões americanos e britânicos realizaram uma série de bombardeios contra a estrategicamente importante Hamburgo. A Igreja de São Nicolau, no centro da cidade portuária, servia aos pilotos como ponto de orientação e foi fortemente danificada nos ataques. Depois de 1945 não foi reconstruída, e suas ruínas foram dedicadas às vítimas da guerra aérea na Europa.
Foto: picture-alliance/dpa
Sanatório Hadamar
A partir de 1941, portadores de doenças psiquiátricas e deficiências eram levados para o sanatório de Hadamar, em Hessen. Considerados "indignos de viver" pelos nazistas, quase 15 mil – de um total de 70 mil em todo o país – foram mortos ali com injeções de veneno ou com gás. O atual memorial engloba a antiga instituição da morte e o cemitério contíguo, onde estão enterradas algumas das vítimas.
Foto: picture-alliance/dpa
Monumento de Seelow
A Batalha de Seelow deu início à ofensiva do Exército Vermelho contra Berlim, em abril de 1945. No maior combate em solo alemão, cerca de 100 mil soldados das Wehrmacht enfrentaram o Exército soviético, dez vezes maior. Após a derrota alemã, em 19 de abril o caminho para Berlim estava aberto. Já em 27 de novembro de 1945 era inaugurado o monumento nas colinas de Seelow, em Brandemburgo.
Foto: picture-alliance/dpa
Memorial do Holocausto
O Memorial ao Holocausto em Berlim foi inaugurado em 2005, em memória aos 6 milhões de judeus assassinados pelos nazistas na Europa. Não muito distante do Bundestag (parlamento), 2.711 estelas de cimento de tamanhos diferentes formam um labirinto por onde os visitantes podem caminhar livremente. Uma exposição subterrânea complementa o complexo do Memorial.
Foto: picture-alliance/dpa
Monumento aos Homossexuais Perseguidos
De formas inspiradas no Memorial do Holocausto e próximo a ele, o monumento aos homossexuais perseguidos pelo nazismo foi inaugurado em 27 de maio de 2008, no parque berlinense Tiergarten. Uma abertura envidraçada permite ao visitante vislumbrar o interior do monumento, onde um vídeo infinito mostra casais de homens e de mulheres que se beijam.
Foto: picture alliance/Markus C. Hurek
Monumento aos Sintos e Roma Assassinados
O mais recente memorial central foi inaugurado em Berlim em 2012. Em frente ao Reichstag, um jardim lembra o assassinato de 500 mil ciganos durante o regime nazista. No centro de uma fonte de pedra negra, está uma estela triangular: ela evoca a forma do distintivo que os prisioneiros ciganos dos campos de concentração traziam em seus uniformes.
Foto: picture-alliance/dpa
'Pedras de Tropeçar'
Na década de 1990, o artista alemão Gunter Demnig começou um projeto de revisão do Holocausto: diante das antigas residências das vítimas, ele aplica placas de metal onde estão gravados seus nomes e as circunstâncias das mortes. Há mais de 45 mil dessas "Stolpersteine" (pedras de tropeçar) na Alemanha e em 17 outros países europeus, formando o maior memorial descentralizado às vítimas do nazismo.