Leilão arrecada milhares de euros com discursos de Hitler
23 de outubro de 2020
Anotações feitas pelo ditador nazista para discursos antes da Segunda Guerra incluem expressões como "o problema judeu". Representantes da comunidade judaica classificam venda de insensível.
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Uma casa de leilões em Munique vendeu nesta sexta-feira (23/10) anotações feitas por Adolf Hitler para discursos que proferiu antes da Segunda Guerra Mundial. O leilão foi realizado apesar de críticas de representantes da comunidade judaica.
Os manuscritos foram adquiridos por compradores anônimos, todos eles por um valor bem mais alto que o inicial. O valor total arrecadado soma quase 190 mil euros (R$ 1,2 milhão).
O valor mais alto, de 34 mil euros (R$ 226 mil) foi alcançado por um documento de nove páginas com anotações para um discurso para militares novatos em Berlim, em 1939, apenas oito meses antes do início da Segunda Guerra. O manuscrito inclui a expressão "o problema judeu".
Outros seis documentos escritos à mão por Hitler foram arrematados por valores entre 12.500 e 32 mil euros (R$83 mil e R$ 212 mil)
Além das anotações feitas por Hitler, a coleção levada a leilão inclui itens do serviço de chá pessoal de Hitler e várias edições de seu livro Minha luta, tanto da biblioteca pessoal do ditador quanto com dedicatórias escritas por ele.
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Temores quanto a neonazismo
A casa de leilões Hermann Historica defendeu a venda em entrevista à agência de notícias Associated Press, afirmando que as anotações têm significado histórico e deveriam ser mantidas num museu ou entregues a pesquisadores.
"Extremistas de direita neonazistas não precisam dessas coisas. Eles ficam satisfeitos com cópias, cópias baratas. Ninguém gastaria essa quantia para criar um altar privado com memorabilia de Hitler", afirmou Bernhard Pacher, gerente da casa de leilões.
Antes do leilão, representantes da comunidade judaica criticaram a venda dos documentos com o argumento de que eles poderiam ser usados por neonazistas num momento em que o antissemitismo e crimes antissemitas estão em alta na Alemanha e na Europa.
O rabino Menachem Margolin, chefe da Associação Judaica Europeia, com sede em Bruxelas, classificou de um ato de "irresponsabilidade e insensibilidade" leiloar "itens como as divagações do maior assassino de judeus do mundo". "O que leilões como este fazem é ajudar a legitimar os entusiastas de Hitler", disse.
Em novembro do ano passado, um leilão de parafernália nazista – incluindo uma cartola usada por Hitler e uma edição de luxo com moldura prateada de seu livro Minha luta – também foi alvo de críticas na Alemanha. Apesar de ser legal no país, a venda desse tipo de item costuma levantar acusações de culto ao nazismo.
Após adquirir os itens no controverso leilão, o empresário de origem libanesa Abdallah Chatila acabou doando os objetos ao Memorial do Holocausto Yad Vashem, em Israel. O comprador disse que arrematou a parafernália para evitar que "caísse em mãos erradas".
LPF/dw/ap/rtr/efe
Memoriais do Terror Nazista
Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, diversos memoriais foram inaugurados na Alemanha para homenagear as vítimas do conflito e os perseguidos e mortos pelo regime nazista.
Foto: picture-alliance/dpa
Campo de concentração de Dachau
Um dos primeiros campos de concentração criados durante o regime nazista foi o de Dachau. Poucas semanas depois de Hitler chegar ao poder, os primeiros prisioneiros já foram levados para o local, que serviu como modelo para os futuros campos do Reich. Apesar de não ter sido concebido como campo de extermínio, em nenhum outro lugar foram assassinados tantos dissidentes políticos.
Foto: picture-alliance/dpa
Reichsparteitagsgelände
A antiga área de desfiles do Partido Nacional-Socialista em Nurembergue, denominada "Reichsparteitagsgelände", foi de 1933 até o início da Segunda Guerra palco de passeatas e outros eventos de propaganda do regime nazista, reunindo até 200 mil participantes. Lá está atualmente instalado um centro de documentação.
Foto: picture-alliance/Daniel Karmann
Casa da Conferência de Wannsee
A Vila Marlier, localizada às margens do lago Wannsee, em Berlim, foi um dos centros de planejamento do Holocausto. Lá reuniram-se, em 20 de janeiro de 1942, 15 membros do governo do "Terceiro Reich" e da organização paramilitar SS (Schutzstaffel) para discutir detalhes do genocídio dos judeus. Em 1992, o Memorial da Conferência de Wannsee foi inaugurado na vila.
Foto: picture-alliance/dpa
Campo de Bergen-Belsen
De início, a instalação na Baixa Saxônia servia como campo de prisioneiros de guerra. Nos últimos anos do conflito, eram geralmente enviados para Bergen-Belsen os doentes de outros campos. A maioria ou foi assassinada ou morreu em decorrência das enfermidades. Uma das 50 mil vitimas foi a jovem judia Anne Frank, que ficou mundialmente conhecida com a publicação póstuma do seu diário.
Foto: picture alliance/Klaus Nowottnick
Memorial da Resistência Alemã
No complexo de edifícios Bendlerblock, em Berlim, planejou-se um atentado fracassado contra Adolf Hitler. O grupo de resistência, formado por oficiais sob comando do coronel Claus von Stauffenberg, falhou na tentativa de assassinar o ditador em 20 de julho de 1944. Parte dos conspiradores foi fuzilada no mesmo dia, no próprio Bendlerblock. Hoje, o local abriga o Memorial da Resistência Alemã.
Foto: picture-alliance/dpa
Ruínas da Igreja de São Nicolau
Como parte da Operação Gomorra, aviões americanos e britânicos realizaram uma série de bombardeios contra a estrategicamente importante Hamburgo. A Igreja de São Nicolau, no centro da cidade portuária, servia aos pilotos como ponto de orientação e foi fortemente danificada nos ataques. Depois de 1945 não foi reconstruída, e suas ruínas foram dedicadas às vítimas da guerra aérea na Europa.
Foto: picture-alliance/dpa
Sanatório Hadamar
A partir de 1941, portadores de doenças psiquiátricas e deficiências eram levados para o sanatório de Hadamar, em Hessen. Considerados "indignos de viver" pelos nazistas, quase 15 mil – de um total de 70 mil em todo o país – foram mortos ali com injeções de veneno ou com gás. O atual memorial engloba a antiga instituição da morte e o cemitério contíguo, onde estão enterradas algumas das vítimas.
Foto: picture-alliance/dpa
Monumento de Seelow
A Batalha de Seelow deu início à ofensiva do Exército Vermelho contra Berlim, em abril de 1945. No maior combate em solo alemão, cerca de 100 mil soldados das Wehrmacht enfrentaram o Exército soviético, dez vezes maior. Após a derrota alemã, em 19 de abril o caminho para Berlim estava aberto. Já em 27 de novembro de 1945 era inaugurado o monumento nas colinas de Seelow, em Brandemburgo.
Foto: picture-alliance/dpa
Memorial do Holocausto
O Memorial ao Holocausto em Berlim foi inaugurado em 2005, em memória aos 6 milhões de judeus assassinados pelos nazistas na Europa. Não muito distante do Bundestag (parlamento), 2.711 estelas de cimento de tamanhos diferentes formam um labirinto por onde os visitantes podem caminhar livremente. Uma exposição subterrânea complementa o complexo do Memorial.
Foto: picture-alliance/dpa
Monumento aos Homossexuais Perseguidos
De formas inspiradas no Memorial do Holocausto e próximo a ele, o monumento aos homossexuais perseguidos pelo nazismo foi inaugurado em 27 de maio de 2008, no parque berlinense Tiergarten. Uma abertura envidraçada permite ao visitante vislumbrar o interior do monumento, onde um vídeo infinito mostra casais de homens e de mulheres que se beijam.
Foto: picture alliance/Markus C. Hurek
Monumento aos Sintos e Roma Assassinados
O mais recente memorial central foi inaugurado em Berlim em 2012. Em frente ao Reichstag, um jardim lembra o assassinato de 500 mil ciganos durante o regime nazista. No centro de uma fonte de pedra negra, está uma estela triangular: ela evoca a forma do distintivo que os prisioneiros ciganos dos campos de concentração traziam em seus uniformes.
Foto: picture-alliance/dpa
'Pedras de Tropeçar'
Na década de 1990, o artista alemão Gunter Demnig começou um projeto de revisão do Holocausto: diante das antigas residências das vítimas, ele aplica placas de metal onde estão gravados seus nomes e as circunstâncias das mortes. Há mais de 45 mil dessas "Stolpersteine" (pedras de tropeçar) na Alemanha e em 17 outros países europeus, formando o maior memorial descentralizado às vítimas do nazismo.