Celulas-tronco
3 de abril de 2009DW-WORLD.DE: Há mais de 20 anos o senhor realiza pesquisas no Whitehead Institute do MIT (Massachusetts Institute of Technology) de Cambridge. O senhor às vezes lamenta por seus colegas na Alemanha, confrontados com tantas restrições?
Rudolf Jaenisch: Os pesquisadores alemães de células-tronco enfrentam problemas realmente sérios, causados pela lei de proteção aos embriões. Isso tem sido um obstáculo terrível à pesquisa no país. Acho em parte grotesco o que se exige dos cientistas. Nos Estados Unidos, se é mais realista, especialmente agora sob a nova administração de Barack Obama.
O que quer dizer com "realista"?
Com George W. Bush e a direita religiosa, toda a pesquisa de células-tronco foi muito controvertida. Bush conseguiu impedir as subvenções públicas, mas com meios particulares podia-se fazer o que se quisesse, em termos de pesquisa. Na Alemanha, tudo isso é proibido. Há uma lei a respeito, o que é muito difícil de mudar. Nos EUA sob Obama, as restrições foram simplesmente suspensas.
O senhor e sua equipe estudam as assim chamadas células-tronco pluripotentes induzidas (iPS – induced pluripotent stem cells). O que são elas, exatamente?
Trata-se de células-tronco muito semelhantes às embrionárias, mas que não se obtêm de embriões, mas sim de células somáticas – por exemplo, da pele – através da introdução de genes responsáveis por determinados fatores.
Então, o senhor reprograma células que, na realidade, já haviam "optado por um destino celular", que, por exemplo, deveriam ser células epiteliais por toda a sua existência. É possível fazer isso com qualquer célula do corpo?
Pelo menos com todas com que tentamos. Até agora já pudemos demonstrá-lo com células sanguíneas, do tecido conjuntivo, da pele, do intestino. Acho que provavelmente é possível com todas as células.
Esses genes de que acabou de falar, como eles são introduzidos?
Eles são inseridos com a ajuda de retrovírus. Os genes são embalados dentro desses vírus e por eles ancorados no genoma das células, de forma permanente. Isso tem também certas consequências, é claro. Por exemplo, que as células sejam ativadas pelos vírus de modo a desenvolver tumores. E isso queremos evitar.
Mas demonstrou-se que os vírus podem ser retirados novamente .
Sim, chegamos a fazê-lo num trabalho publicado recentemente. Produzimos células iPS a partir da pele de pacientes com mal de Parkinson. Depois de os vírus haverem feito seu trabalho, extirpamo-los com uma espécie de tesoura molecular. As células se mantiveram pluripotentes e indistinguíveis de células-tronco embrionárias.
Como avalia o potencial terapêutico de tais resultados? Pode-se aplicá-los diretamente em seres humanos?
Penso que no momento o potencial terapêutico está bem longe do que se desejaria. Ainda há muitas dificuldades no caminho. Porém, o que as iPS nos fornecem do ponto de vista experimental é muito importante. Elas permitem estudar na placa de incubação uma moléstia complexa e ainda não pesquisada geneticamente, como o mal de Parkinson. Isso não seria possível de outro modo.
Diversas fontes afirmam que as células iPS tornarão supérflua a utilização de células-tronco embrionárias. Qual é a sua opinião?
Eu diria tratar-se de uma afirmação um tanto superficial. As células embrionárias são o "padrão-ouro" para a pluripotência. A questão que nos ocupa é: qual é a melhor célula-tronco que se pode fazer. E esta poderia, em seguida, ser adotada como padrão para o que se deve esperar das melhores células iPS.
No tocante à terapia individualizada, as iPS têm vantagens em relação às células-tronco embrionárias?
Sim, porque as iPS são feitas sob medida, as embrionárias não. Elas são rejeitadas e o paciente precisa sempre se submeter a uma terapia imunossupressora. Com as iPS, isso não é necessário, em princípio, já que elas provêm do próprio paciente. Mas ainda precisamos descobrir quão seguras elas são. No momento, ainda precisamos das células-tronco embrionárias.
Justamente devido ao emprego de células-tronco embrionárias é que os pesquisadores da Alemanha vêm sendo severamente criticados pela sociedade. Como é a situação nos EUA?
Não estou seguro se os cientistas da Alemanha são realmente criticados pela população ou se apenas por uma pequena minoria ideologicamente motivada. Não posso imaginar que toda a população seja contra essa pesquisa, se estiver bem informada. Acredito que nos EUA a maioria tem uma posição bastante positiva. Claro que há pessoas – como a direita, e sobretudo a direita religiosa – que são contra a pesquisa de células-tronco. No geral, a situação é bastante diversificada no país, há opiniões extremas, em ambas as direções.
Autor: Sabine Gogolok
Revisão: Rodrigo Rimon Abdelmalack