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DiCaprio rebate acusação de Bolsonaro sobre queimadas

30 de novembro de 2019

Ator americano nega ter colaborado com ONGs que estão sob ataque, "embora elas mereçam apoio". Presidente acusou o ambientalista de ter financiado incêndios na Amazônia, em um caso que repercutiu na mídia internacional.

O presidente Jair Bolsonaro e o ator Leonardo DiCaprio
"Leonardo DiCaprio é um cara legal, não é? Dando dinheiro para tacar fogo na Amazônia", acusou Bolsonaro

O ator e ambientalista americano Leonardo DiCaprio rebateu as declarações do presidente Jair Bolsonaro que o acusaram de ter financiado incêndios florestais criminosos na Amazônia brasileira por meio de doações a organizações ambientalistas.

Em comunicado publicado pela agência de notícias Reuters, DiCaprio negou colaborar financeiramente com as ONGs que são atualmente alvo de acusações do governo e da polícia, "embora elas mereçam apoio". Ele também elogiou "o povo do Brasil que trabalha para salvar seu patrimônio natural e cultural".

"O futuro desses ecossistemas insubstituíveis está em jogo e tenho orgulho de fazer parte dos grupos que os protegem", acrescentou o ator, que é um defensor ferrenho do combate às mudanças climáticas, manifestando-se frequentemente sobre questões ambientais, incluindo as recentes queimadas na Amazônia. Desde 1998 mantém uma fundação ambientalista que leva seu nome.

Durante uma transmissão ao vivo nas redes sociais na quinta-feira (28/11), Bolsonaro acusou DiCaprio e a organização World Wide Fund for Nature (WWF) de financiarem queimadas criminosas no Brasil, reforçando acusações anteriores por parte de seu governo de que ONGs teriam sido responsáveis pelos incêndios na Amazônia.

"O pessoal da ONG, o que eles fizeram? O que é mais fácil? Botar fogo no mato. Tira foto, filma, a ONG faz campanha contra o Brasil, entra em contato com o Leonardo DiCaprio, e então o Leonardo DiCaprio doa 500 mil dólares para essa ONG. Uma parte foi para o pessoal que estava tocando fogo, tá certo? Leonardo DiCaprio tá colaborando aí com a queimada na Amazônia, assim não dá."

Nesta sexta-feira, ele voltou a mencionar o ator na saída do Palácio do Alvorada, em Brasília. "Quando eu falei que há suspeitas de ONGs, o que a imprensa fez comigo? Agora, o Leonardo DiCaprio é um cara legal, não é? Dando dinheiro para tacar fogo na Amazônia", afirmou.

O presidente se referia à prisão de quatro brigadistas ligados a uma ONG, acusados de provocarem incêndios propositais em Alter do Chão, um distrito de Santarém. A polícia ainda executou mandados de busca e apreensão nas sedes de três ONGs, num inquérito que vem provocando questionamentos por não incluir perícias, testemunhas ou evidências.

A tese da polícia é de que os brigadistas provocaram incêndios em uma área de proteção ambiental (APA) em setembro com o objetivo de conseguir "vantagens financeiras" por meio da venda de fotos do fogo para a ONG WWF, que por sua vez teria usado as imagens para conseguir doações no exterior. Segundo um delegado, as fotos foram "vendidas" por 70 mil reais.

Mas dados do inquérito mostraram que a Polícia Civil se baseou principalmente na interpretação de material coletado em interceptações telefônicas de conversas dos brigadistas para fundamentar a acusação. Os diálogos divulgados até agora, no entanto, não evidenciam claramente qualquer crime.

 O Ministério Público Federal pediu explicações à Polícia Civil do Pará sobre o caso, afirmando que nenhum elemento apontava para a participação de brigadistas ou de organizações da sociedade civil nos incêndios. O governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), interveio e afastou o chefe da investigação. Os brigadistas foram soltos na quinta-feira, por determinação da Justiça.

Os quatro presos são voluntários da Brigada de Alter do Chão, uma ONG que começou a atuar no combate a incêndios na região em 2018. Também foram feitas buscas na sede da ONG Projeto Saúde e Alegria, que já recebeu vários prêmios por sua atuação na Amazônia.

Em nota, a WWF informou que os recursos enviados à Brigada de Alter do Chão não incluíram doações de DiCaprio. A ONG também negou ter colaborado com incêndios florestais ou ter comprado fotos da brigada, e lamentou que Bolsonaro insista em divulgar inverdades.

Repercussão internacional

As acusações de Bolsonaro contra DiCaprio foram destaque na imprensa internacional. Veículos da imprensa alemã como o jornal Die Welt e a revista Der Spiegel repercutiram o caso.

O portal de notícias Tagesschau escreveu que o presidente brasileiro fez "alegações sérias" contra o ator sem apresentar evidências, lembrando ainda que Bolsonaro já havia acusado ONGs de provocarem queimadas em agosto, também sem apresentar provas.

Os veículos britânicos The Guardian e BBC também destacaram as declarações de Bolsonaro, afirmando que ele "acusou falsamente" DiCaprio de ter financiado os incêndios.

O Guardian falou em "alegações infundadas" e "acusação espúria, pela qual o presidente do Brasil não apresentou prova". O jornal também chamou de "controversas" as prisões dos quatro brigadistas, "também aparentemente sem evidências".

Nos Estados Unidos, os jornais Washington Post e New York Times também deram destaque ao que chamaram de "acusações falsas" do presidente brasileiro, "sem apresentar provas".

"Foi a mais recente tentativa do líder de direita de culpar terceiros pelos incêndios que concentraram a preocupação internacional em seu governo, que [por sua vez] reduziu os esforços para combater a exploração de madeira, a pecuária e a mineração ilegais na Amazônia", escreveu o NYT.

EK/rtr/ots

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