Chegada de migrantes muda a cara de ilha grega no mar Egeu. E moradores mostram como é possível manter a ordem: com calma, compreensão e às vezes um alarmante pragmatismo das autoridades locais.
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Mitilene é a maior cidade na ilha grega de Lesbos, no nordeste do mar Egeu, não muito distante da Turquia. De lá, muitas balsas partem rumo a Pireu e Cavala, cidades portuárias gregras, próximas da fronteira com a Macedônia.
E esse é o motivo de milhares de refugiados estarem aqui – eles querem seguir adiante. Mas às vezes pode levar dias até se conseguir uma vaga nas balsas. Muitos armam tendas e barracas nas calçadas e parques municipais. Dormem sob beirais, em bancos de parque ou simplesmente em cais no porto.
Rostos árabes, somalis e afegãos mudaram a paisagem da cidade de Mitilene. E os moradores da ilha de 90 mil habitantes não parecem se incomodar. Pelo contrário: muitos estão fazendo dinheiro com a presença dos refugiados, que já seriam 200 mil.
Restaurantes, barracas de comidas, cafeterias e casas de chá estão cheias. Táxis estão continuamente ocupados, assim como há inúmeros vendedores ambulantes de bebidas e frutas. E, é claro, a empresa responsável pela balsa nunca vendeu tantas passagens.
A estação de maior movimento normalmente acaba muito antes de novembro, mas agora cada embarcação está lotada até o último assento. Cada passageiro paga 60 euros – e cada balsa pode abrigar de 700 a 1.500 pessoas. As autoridades gregas fretaram balsas extras apenas para o transporte de refugiados, de forma a evitar brigas ou conflitos.
A costa norte de Lesbos é uma faixa laranja. Milhares de coletes salva-vidas jazem na praia, tendo cumprido seu propósito de tornar mais segura a jornada dos refugiados que vieram da Turquia. Assim como os muitos botes de borracha que voluntários furaram logo após sua chegada, de forma que não pudessem voltar ao mar.
Os ajudantes vêm de Inglaterra, Holanda, Espanha, Alemanha. Alguns gregos também se preocupam com as praias. Mas eles se limitam a "recuperar" as sucatas valiosas de metais dos barcos. Ao nascer do sol, alguns já estão levando embora os motores dos botes que chegaram durante a noite. Cada um deles vale alguns milhares de euros.
O assim chamado "hotspot" em Moria, uma caserna nos arredores de Mitilene, tornou-se um exemplo clássico de como o processamento é feito na Grécia. A polícia grega e funcionários da Frontex, a agência de fronteiras da União Europeia, vêm conseguindo registrar mais de 5 mil refugiados por dia.
Entretanto, o registro não é válido em toda a UE. Normalmente há muitas brechas: não é conferida a veracidade das informações fornecidas pelos refugiados. No fim, qualquer um aqui recebe um formulário de registro que permite seguir viagem a partir de Lesbos.
Na verdade, os refugiados não são autorizados a deixar a Grécia, e muitos deles acabarão sendo deportados. Mas as autoridades de Lesbos não podem fazer isso sozinhas. E nem parecem querer: elas só desejam manter um pouco de paz e ordem. Por isso, tornam mais fácil que os refugiados deixem a ilha – o mais rápido possível.
Estações da fuga em imagens
Cerca de 3,7 mil quilômetros separam a Alemanha da Síria. Para os refugiados da guerra civil, essa viagem dura semanas até meses. E ela é perigosa, também na rota dos Bálcãs.
Foto: picture-alliance/dpa/N. Armer
Últimas forças
Duma é uma cidade síria a nordeste de Damasco. Mesmo ferido, um homem procura por sobreviventes nos escombros. Pouco antes, a região foi atacada por bombardeios das forças armadas sírias. Desde o início da guerra civil, em 2011, mais de 250 mil pessoas morreram no país, segundo as Nações Unidas.
Foto: picture-alliance/A.A./M. Rashed
Terror ao alcance dos olhos
No campo de refugiados em Suruc, na Turquia, cerca de 40 mil sírios procuraram refúgio da guerra civil. A poucos quilômetros dali, em Kobane, o conflito continua. O campo é organizado como uma pequena cidade, com mesquita, escola e ruas. Ninguém quer permanecer aqui por muito tempo.
Foto: Getty Images/C. Court
Marcas da guerra
Abdurrahman Yaser al-Saad conseguiu chegar à cidade portuária turca de Izmir. O sírio de 16 anos mostra aos outros refugiados uma cicatriz enorme na barriga. Ele estava na escola quando as forças armadas sírias bombardearam o local e ele ficou gravemente ferido.
Foto: picture-alliance/AA/E. Menguarslan
Esperança de uma vida melhor
Na viagem em direção à Europa, muitos refugiados acabam em Izmir. Daqui eles desejam ir para a Grécia. Coletes salva-vidas são fundamentais, pois muitos não sabem nadas, e os barcos dos atravessadores ficam superlotados. Enquanto aguardam a partida, muitos dormem ao ar livre, porque não podem pagar um hotel.
Foto: picture-alliance/AA/E. Atalay
Jogado de volta
Com suas últimas forças, esse refugiado conseguiu nadar de volta até a praia de Bodrum, na Turquia. Pouco antes ele havia tentado alcançar um barco de atravessadores, que, por muito dinheiro, levam as pessoas ilegalmente até a Grécia. As embarcações estão sempre superlotadas.
Foto: Getty Images/AFP/B. Kilic
Desamparo
Na praia de Kos, uma ilha grega, turistas observam como refugiados tentam chegar à costa com um barco inflável. A viagem ilegal de Bodrum até aqui custa cerca de mil euros por pessoa. São apenas quatro quilômetros de distância, mas muitos não sabem nadar e acabam morrendo afogados.
Foto: picture-alliance/dpa/Y. Kolesidis
Realidade incômoda
No caminho para o hotel ou para a praia, turistas passam por muitos refugiados. Devem olhar? Devem ajudar?
Foto: picture-alliance/AA/G. Balci
Com braços e pernas
Da Grécia, muitos refugiados tentam chegar à Europa ocidental pelos Bálcãs. Uma estação importante é a cidade de Gevgelija, na Macedônia. Depois de dias de espera, todos desejam conseguir um lugar em um trem para a Sérvia.
Foto: picture-alliance/dpa/G. Licovski
Passo a passo
Já nas primeiras horas do dia, centenas de refugiados caminham ao longo da linha do trem, da Sérvia para a Hungria. De lá, muitos desejam ir para a Áustria ou Alemanha. A caminhada de quilômetros exige de muitos suas últimas forças.
Foto: Getty Images/AFP/A. Messinis
Desespero
Com medo de ser levado para um campo de refugiados na Hungria, o pai sírio se joga, com sua mulher e filho, nos trilhos da estação de Bicske. Eles achavam que o trem os levaria de Budapeste até Viena. Em vez disso, eles devem ser registrados pelas autoridades húngaras.
Foto: Reuters/L. Balogh
Quase lá
Centenas de refugiados do Iraque, da Síria e do Afeganistão decidiram ir a pé até a Áustria, caminhando pela rodovia. Eles esperaram durante dias por um trem na estação de Budapeste. A polícia, porém, bloqueia o trecho com frequência.
Foto: picture-alliance/dpa/B. Roessler
Finalmente a chegada
Estação central de Munique: a esperança de muitos refugiados está na chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel. Diferente de outros países europeus, eles se sentem bem-vindos na Alemanha.