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Leste alemão vive revolta dos antivacinas

15 de dezembro de 2021

Extremistas de direita na Alemanha usam o Telegram como principal meio para incitar o ódio, ameaçar defensores da vacina da covid-19 e recrutar militantes para uma guerra contra as instituições democráticas.

Pessoas em protesto noturno, rodeadas de policiais com capacete
Protestos negacionistas se radicalizam cada vez mais na AlemanhaFoto: Bodo Schackow/dpa/picture alliance

Quem quer que acompanhe os autoproclamados "Saxões Livres" no serviço de mensagem Telegram está seguindo uma Alemanha a caminho do abismo. As mensagens são sombrias, alertam que gangues de mercenários estariam à solta. Uma turba governa as ruas. Fala-se de uma "guerra contra os oponentes da vacina", que é liderada por um regime e um déspota.

Os alvos dos "Saxões Livres" não são gangues de criminosos, mas instituições democráticas: o governador eleito do estado da Saxônia, Michael Kretschmer, e a polícia.

Dezenas de milhares de pessoas leem essas mensagens alarmistas e frequentemente de incitação. E a coisa não para na leitura. Eles estão organizados em rede no Telegram e costumam convocar manifestações ilegais. Novamente na segunda-feira (13/12), eles se reuniram em dezenas de cidades. Houve confrontos. Vários policiais ficaram feridos.

Radicais em roupas de classe média

O foco está no estado da Saxônia. O protesto é principalmente burguês. Mulheres e homens mais velhos com blusões de inverno dão um toque de vizinhança. Eles parecem irritados com as restrições de contato, a possível introdução da vacinação obrigatória e a política dos governantes.

No entanto, analistas consideram esses ativistas tudo menos inofensivos. Benjamin Winkler, da Fundação Amadeu Antonio de Berlim, observa o que vem ocorrendo na Saxônia há anos. Ele não vê nenhum descontentamento espontâneo nesses protestos.

Ódio nas ruas alemãs não é espontâneo, segundo analistas, mas uma radicalização organizadaFoto: Christian Mang/Rückblende 2020/dpa/picture alliance

Aglomeração de radicais

"Aqueles que vão às ruas são, em grande parte, uma mistura da cena extremista de direita, neonazistas, ideólogos da conspiração, hooligans e uma cena esotérica alternativa", afirma. O protesto também é cada vez mais apoiado pelo partido populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD), que tem uma base sólida na Saxônia.

O protesto é organizado e orquestrado pelos autoproclamados "Saxões Livres". Eles são um micropartido regional, mas atualmente atraem enorme atenção e alcance por meio das redes sociais – com repercussão que vai muito além do estado do leste alemão.

A organização é classificada como extremista de direita pelo Departamento para a Proteção da Constituição da Saxônia, agência estadual de inteligência doméstica. Vários cabeças do movimento estão firmemente integrados em organizações radicais e neonazistas.

Eles espalham seu ódio principalmente por meio do serviço de mensagens Telegram, que foi fundado na Rússia e tem sede nos Emirados Árabes Unidos. O Telegram é considerado pouco cooperativo. De acordo com informações do pool jornalístico formado pelas emissoras WDR, NDR e o jornal Süddeutsche Zeitung, o local da sede da empresa praticamente impossibilita ações legais das autoridades alemãs. "Os ‘Saxões Livres’ se aproveitam disso: montaram uma rede de 100 canais e 80 grupos regionais só na Saxônia", avisa Simone Raffael, da Fundação Amadeu Antonio.

"O canal principal cresce a cada hora que passa. Estamos observando uma radicalização constante no tom usado nos canais e grupos", ressalta.

Os protestos também estão se tornando cada vez mais radicais. Recentemente, os "Saxões Livres" se reuniram, munidos com apitos, tambores e tochas, diante da casa da secretária da Saúde da Saxônia. Na Alemanha, isso é uma quebra absoluta de tabu e lembra muitas pessoas dos primórdios do terror de rua do movimento nazista. Não faz muito tempo que, em 2019, o político da CDU Walter Lübcke foi morto a tiros em sua própria casa por um extremista de direita.

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Novo governo alemão anuncia medidas

A nova ministra do Interior, a social-democrata Nancy Faeser, quer tomar medidas contra o Telegram. "Temos que agir com mais determinação contra a agitação, violência e ódio na internet", disse Faeser, criticando duramente o fato de o Telegram violar a lei alemã e nem mesmo reagir aos procedimentos legais. "Este governo não vai aceitar isso."

No entanto, há também uma resistência crescente na sociedade civil aos protestos dos negacionistas. Doritta Korte, moradora da cidade saxônica de Plauen, luta há anos na associação Colorido pela democracia e pela convivência pacífica na cidade.

Korte observa que a cena de extremistas de direita e negacionistas da pandemia está se tornando cada vez mais radical. "Recebemos ameaças, incluindo ameaças de morte", diz. Muitos membros de sua associação estão chegando ao limite. "Temos animais mortos na caixa de correio." Ela lamenta a falta de apoio político e que o governo estadual esteja fazendo muito pouco contra os protestos ilegais.

Maioria silenciosa fica mais barulhenta

Em muitas cidades pequenas da Saxônia, os residentes se unem para atuar contra os negacionistas, que acusam de usar a pandemia apenas para causar confrontos, pôr em risco a democracia e dividir a sociedade. O número de apoiadores dessas ações é considerável.

Por exemplo, enquanto na cidade de Bautzen algumas centenas de extremistas de direita vêm ganhando as manchetes com seus protestos há meses, mais de 3 mil pessoas assinaram a "Declaração - Bautzen juntos" – em apenas um dia.

Hans Pfeifer Ele é um repórter multimídia apaixonado, especializado em extrema direita.
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