Reunidos, mas não unificados
3 de outubro de 2008Numa enquete realizada em junho de 2008, perguntou-se aos alemães-orientais o que esperavam da chanceler federal Angela Merkel. Sobretudo três coisas, foi a resposta: mais postos de trabalho, assim como salários e aposentadorias iguais aos do Oeste.
O Muro de Berlim, que separava a República Federal da Alemanha da República Democrática Alemã, caiu em 1989, e no dia 3 de outubro do ano seguinte foi declarada a reunificação do país. Quase duas décadas mais tarde, contudo, ele continua cortado por um fosso econômico. Devido ao fato de o rendimento econômico per capita no Leste perfazer apenas 70% do nível ocidental, a cada ano o Estado ainda transfere cerca de 30 bilhões de euros do Oeste para o Leste.
O ministro da Construção e do Desenvolvimento Urbano para o Leste alemão, Wolfgang Tiefensee, apresentou nesta quarta-feira (01/10) o relatório anual sobre a reunificação. Sua mensagem não foi exatamente surpreendente: "Muito se alcançou – há muito a fazer". Ele calcula ainda serem necessários, no mínimo, mais dez anos até a região poder se manter sem as injeções financeiras estatais.
Otimismo justificado?
O economista Hartwig Blum considera realista o prognóstico de Tiefensee. "Existe uma boa chance de que [o processo de equiparação] esteja encerrado em dez anos. Nos últimos anos, pôde-se observar uma interessante reindustrialização no Leste." O Instituto de Pesquisa Econômica de Halle, que Blum dirige, se ocupa em especial do desenvolvimento no leste alemão.
O professor está otimista em relação ao futuro da região, pois lá o crescimento industrial é mais rápido do que na outra metade do país. Há empresas de êxito internacional em setores promissores, como energia ou tecnologia ambiental, e certas regiões da antiga Alemanha Oriental já alcançaram os níveis ocidentais.
"É preciso também registrar os incríveis efeitos de crescimento que já se delineiam hoje, se olhamos para Dresden, Jena ou Chemnitz. Lá, na realidade, a maioria dos problemas já está resolvida", comenta Blum.
O fantasma do desemprego
Entretanto, para além de uns poucos centros de crescimento, continua o êxodo da população jovem. Regiões inteiras se esvaziam, a infra-estrutura tem que ser adaptada: demolição de casas desabitadas, fechamento de escolas, construção de lares para idosos. Devido à carência de médicos, enfermeiras assumem as consultas domiciliares.
Neste aspecto, o Leste é pioneiro das tendências demográficas comuns a toda a Alemanha. Mas a região também permanece detentora do recorde negativo no desemprego, lamenta o social-democrata Tiefensee. "O flagelo da ociosidade – sobretudo a longo prazo, afetando profissionais altamente qualificados e agora excluídos – afeta o moral de modo negativo."
Apesar de terem diminuído nos últimos tempos, os níveis de desocupação no leste ainda permanecem em 12,7% – mais do que o dobro nos demais estados. São fatos que não se pode compensar dizendo: "Afinal de contas, vocês ganharam uma melhor infra-estrutura, agora renovamos as cidades e vocês podem viajar para onde querem", admite o ministro.
Crise demográfica
Alguns empregos são tão mal pagos que os assalariados dependem de adicionais do governo. O partido A Esquerda acusa: a ex-Alemanha Oriental se transforma numa enorme zona de dumping salarial. No Dia da Unificação, a deputada Gesine Lötzsch apresentará um estudo intitulado "A vida nos novos estados federados".
"Quase 20 anos após a abertura do Muro, Leste e Oeste continuam longe de estar unificados. Temos gigantescas diferenças sociais. No Leste as mulheres são especialmente afetadas por condições de trabalho precárias, que não lhes permitem financiar a própria subsistência. E isto também acarreta, claro, uma piora contínua da estrutura social no Leste alemão. E as mulheres aptas, ativas, abandonam a região."
Em conseqüência dos problemas apontados por Lötzsch, o Leste da Alemanha é considerado região de crise demográfica da Europa. Em nenhum outro lugar do continente nascem tão poucas crianças.