Em 19 de abril de 1943, judeus confinados na capital polonesa iniciaram revolta contra os nazistas. Mais de sete décadas depois, muitos apontam um ressurgimento das hostilidades, inclusive uma sobrevivente do Holocausto.
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Ela é um "tesouro polonês", diz a funcionária Joanna Krol sobre Krystina Budnicka, enquanto a sobrevivente do Holocausto, hoje com 85 anos, fala sobre a história dos judeus poloneses diante de 400 jovens no Museu POLIN, localizado sobre o terreno simbólico do antigo Gueto de Varsóvia e dedicado à trajetória do povo judaico na Polônia.
Já é a terceira vez que alguns dos alunos veem a sobrevivente do gueto, que, há exatos 75 anos, se tornou palco da primeira revolta de civis na Europa ocupada pelos nazistas – o levante, que durou quase um mês, foi brutalmente reprimido.
Para Budnicka, os encontros com os estudantes são uma terapia. "Comecei a falar da minha história quando entrei para a associação das crianças do Holocausto e precisei lidar com o fato de quem eu sou e por que estou viva", relembra.
Isso foi no início dos anos 1990, depois do fim da Guerra Fria e da queda da Cortina de Ferro que dividia a Europa. Naquela época, muitos sobreviventes do Holocausto na Polônia, acompanhados de seus parentes, começaram a recordar suas origens judias.
No gueto, Budnicka se escondeu num bunker especialmente construído para abrigar vítimas do nazismo, enquanto, na superfície, os ocupantes alemães combatiam violentamente o levante dos judeus com lança-chamas, bombas e gás. Depois de meses de sofrimento, ela finalmente foi salva por membros da resistência. Até o final da guerra, ficou escondida nos arredores de Varsóvia.
"Se eu não pudesse relatar [o que aconteceu], eu teria terminado em alguma instituição psiquiátrica, porque seria muito duro. O fato de eu contar as minhas experiências, aproximar [minha vivência das pessoas], faz com que fique mais fácil conviver com isso", diz a sobrevivente.
Novo antissemitismo?
O museu POLIN, onde Budnicka compartilhou suas experiências, é um dos mais bem-sucedidos da Polônia. Ele descreve a história dos judeus no país desde a Idade Média.
O museu costuma ser muito frequentado, também atualmente, num momento em que muitos acreditam que o antissemitismo voltou à Polônia. No início de abril, o rabino-chefe do país, Michael Schudrich, foi duramente criticado após uma entrevista à redação alemã da DW.
Os ataques vieram de portais de internet nacionalistas da Polônia, próximos ao partido governista e populista de direita Lei e Justiça (PiS). Na entrevista, Schudrich havia alertado contra o aumento do antissemitismo no país. No Twitter, foi tachado de "traidor da pátria" por ter criticado a Polônia internacionalmente.
Do lado de fora, diante do museu, fica o memorial em lembrança ao Levante do Gueto de Varsóvia, erguido pela Polônia socialista. Em cima do monumento, há flores e uma bandeira de Israel.
De pé na frente ao memorial, Budnicka parece pensativa. "Esses 30 anos foram refrescantes", afirma a mulher de 85 anos, referindo-se ao modo de lidar com a história desde a queda da Cortina de Ferro – desde que ela também começou a lidar com o próprio passado.
Também ela acredita que o antissemitismo esteja voltando. "Hoje em dia, destrói-se tudo. Já estávamos em paz. Mas talvez essa paz fosse apenas superficial. Não sei, não sou especialista para avaliar se foi realmente assim. Mas estávamos mesmo em paz. Não se ouvia nada de incidentes antissemitas, e agora a coisa voltou a ficar feia. Mas talvez tudo volte a mudar para melhor", espera.
Budnicka pensa nos vários jovens que ouvem atentamente as suas palestras. Nessa última vez, o interior do museu ficou lotado. Esse tipo de acontecimento lhe dá esperança, diz Budnicka e olha para as fotos do Gueto de Varsóvia feitas pela Wehrmacht (Forças Armadas da Alemanha durante o Terceiro Reich).
As fotos fazem parte do relatório de Jörgen Stroop, líder da SS que chefiou a repressão ao Levante no Gueto de Varsóvia. No documento, constava que o gueto judaico não existia mais.
"Ele mandou o despacho dizendo que a questão judia estava resolvida", diz Budnicka. "Ele explodiu a Sinagoga na rua Tlomackie (Grande Sinagoga) na atual praça financeira da capital polonesa e mandou o telegrama: a questão judia está resolvida, Varsóvia está livre de judeus. Ele estava errado", conta a sobrevivente.
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Cronologia da Segunda Guerra Mundial
Em 1° de setembro de 1939, as Forças Armadas alemãs atacaram a Polônia, sob ordens de Hitler. A guerra que então começava duraria até 8 de maio de 1945, deixando um saldo até hoje sem paralelo de morte e destruição.
Foto: U.S. Army Air Forces/AP/picture alliance
1939
No dia 1° de setembro de 1939, as Forças Armadas alemãs atacaram a Polônia sob ordens de Adolf Hitler – supostamente em represália a atentados poloneses, embora isso tenha sido uma mentira de guerra. No dia 3 de setembro, França e Reino Unido, que eram aliadas da Polônia, declararam guerra à Alemanha, mas não intervieram logo no conflito.
1939
A Polônia mal pôde oferecer resistência às bem equipadas tropas alemãs – em cinco semanas, os soldados poloneses foram derrotados. No dia 17 de setembro, o Exército Vermelho ocupou o leste da Polônia – em conformidade com um acordo secreto fechado entre o Império Alemão e a União Soviética apenas uma semana antes da invasão.
Foto: AP
1940
Em abril de 1940, a Alemanha invadiu a Dinamarca e usou o país como base até a Noruega. De lá vinham as matérias-primas vitais para a indústria bélica alemã. No intuito de interromper o fornecimento desses produtos, o Reino Unido enviou soldados ao território norueguês. Porém, em junho, os aliados capitularam na Noruega. Nesse meio tempo, a Campanha Ocidental já havia começado.
1940
Durante oito meses, soldados alemães e franceses se enfrentaram no oeste, protegidos por trincheiras. Até que, em 10 de maio, a Alemanha atacou Holanda, Luxemburgo e Bélgica, que estavam neutros. Esses territórios foram ocupados em poucos dias e, assim, os alemães contornaram a defesa francesa.
Foto: picture alliance/akg-images
1940
Os alemães pegaram as tropas francesas de surpresa e avançaram rapidamente até Paris, que foi ocupada em meados de junho. No dia 22, a França se rendeu e foi dividida: uma parte ocupada pela Alemanha de Hitler e a outra, a "França de Vichy", administrada por um governo fantoche de influência nazista e sob a liderança do general Pétain.
Foto: ullstein bild/SZ Photo
1940
Hitler decide voltar suas ambições para o Reino Unido. Seus bombardeios transformaram cidades como Coventry em cinzas e ruínas. Ao mesmo tempo, aviões de caça travavam uma batalha aérea sobre o Canal da Mancha, entre o norte da França e o sul da Inglaterra. Os britânicos venceram e, na primavera europeia de 1941, a ofensiva alemã estava consideravelmente enfraquecida.
Foto: Getty Images
1941
Após a derrota na "Batalha aérea pela Inglaterra", Hitler se voltou para o sul e posteriormente para o leste. Ele mandou invadir o norte da África, os Bálcãs e a União Soviética. Enquanto isso, outros Estados entravam na liga das Potências do Eixo, formada por Alemanha, Itália e Japão.
1941
Na primavera europeia, depois de ter abandonado novamente o Pacto Tripartite, Hitler mandou invadir a Iugoslávia. Nem a Grécia, onde unidades inglesas estavam estacionadas, foi poupada pelas Forças Armadas alemãs. Até então, uma das maiores operações aeroterrestres tinha sido o ataque de paraquedistas alemães a Creta em maio de 1941.
Foto: picture-alliance/akg-images
1941
O ataque dos alemães à União Soviética no dia 22 de junho de 1941 ficou conhecido como Operação Barbarossa. Nas palavras da propaganda alemã, o objetivo da campanha de invasão da União Soviética era uma "ampliação do espaço vital no Oriente". Na verdade, tratava-se de uma campanha de extermínio, na qual os soldados alemães cometeram uma série de crimes de guerra.
Foto: Getty Images
1942
No começo, o Exército Vermelho apresentou pouca resistência. Aos poucos, no entanto, o avanço das tropas alemãs chegou a um impasse na Rússia. Fortes perdas e rotas inseguras de abastecimento enfraqueceram o ataque alemão. Hitler dominava quase toda a Europa, parte do norte da África e da União Soviética. Mas no ano de 1942 houve uma virada.
1942
A Itália havia entrado na guerra em junho de 1940, como aliada da Alemanha, e atacado tropas britânicas no norte da África. Na primavera de 1941, Hitler enviou o Afrikakorps como reforço. Por muito tempo, os britânicos recuaram – até a segunda Batalha de El Alamein, no outono de 1942. Ali a situação mudou, e os alemães bateram em retirada. O Afrikakorps se rendeu no dia 13 de maio de 1943.
Foto: Getty Images
1942
Atrás do fronte leste, o regime de Hitler construiu campos de extermínio, como Auschwitz-Birkenau. Mais de seis milhões de pessoas foram vítimas do fanatismo racial dos nazistas. Elas foram fuziladas, mortas com gás, morreram de fome ou de doenças. Milhares de soldados alemães e da SS estiveram envolvidos nestes crimes contra a humanidade.
Foto: Yad Vashem Photo Archives
1943
Já em seu quarto ano, a guerra sofreu uma virada. No leste, o Exército Vermelho partiu para o contra-ataque. Vindos do sul, os aliados desembarcaram na Itália. A Alemanha e seus parceiros do Eixo começaram a perder terreno.
1943
Stalingrado virou o símbolo da virada. Desde julho de 1942, o Sexto Exército alemão tentava capturar a cidade russa. Em fevereiro, quando os comandantes desistiram da luta inútil, cerca de 700 mil pessoas já haviam morrido nesta única batalha – na maioria soldados do Exército Vermelho. Essa derrota abalou a moral de muitos alemães.
Foto: picture-alliance/dpa
1943
Após a rendição das tropas alemãs e italianas na África, o caminho ficou livre para que os Aliados lutassem contra as potências do Eixo no continente europeu. No dia 10 de julho, aconteceu o desembarque na Sicília. No grupo dos Aliados estavam também os Estados Unidos, a quem Hitler havia declarado guerra em 1941.
Foto: picture alliance/akg
1943
Em setembro, os Aliados desembarcaram na Península Itálica. O governo em Roma acertou um armistício com os Aliados, o que levou Hitler a ocupar a Itália. Enquanto os Aliados travavam uma lenta batalha no sul, as tropas de Hitler espalhavam medo pelo resto do país.
No leste, o Exército Vermelho expulsou os invasores cada vez mais para longe da Alemanha. Iugoslávia, Romênia, Bulgária, Polônia... uma nação após a outra caía nas mãos dos soviéticos. Os Aliados ocidentais intensificaram a ofensiva e desembarcaram na França, primeiramente no norte e logo em seguida no sul.
1944
Nas primeiras horas da manhã do dia 6 de junho, as tropas de Estados Unidos,Reino Unido, Canadá e outros países desembarcaram nas praias da Normandia, no norte da França. A liderança militar alemã tinha previsto que haveria um desembarque – mas um pouco mais a leste. Os Aliados ocidentais puderam expandir a penetração nas fileiras inimigas e forçar a rendição de Hitler a partir do oeste.
Foto: Getty Images
1944
No dia 15 de agosto, os Aliados deram início a mais um contra-ataque no sul da França e desembarcaram na Provença. As tropas no norte e no sul avançaram rapidamente e, no dia 25 de agosto, Paris foi libertada da ocupação alemã. No final de outubro, Aachen se tornou a primeira grande cidade alemã a ser ocupada pelos Aliados.
Foto: Getty Images
1944
No inverno europeu de 1944/45, as Forças Armadas alemãs reuniram suas tropas no oeste e passaram para a contra-ofensiva em Ardenne. Mas, após contratempos no oeste, os Aliados puderam vencer a resistência e avançar inexoravelmente até o "Grande Império Alemão" – a partir do leste e do oeste.
Foto: imago/United Archives
1945
No dia 8 de maio de 1945, os nazistas se renderam incondicionalmente. Para escapar da captura, Hitler se suicidou com um tiro no dia 30 de abril. Após seis anos de guerra, grande parte da Europa estava sob entulhos. Quase 50 milhões de pessoas morreram no continente durante a Segunda Guerra Mundial. Em maio de 1945, o marechal de campo Wilhelm Keitel assinava a ratificação da rendição em Berlim.