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Análise

28 de setembro de 2009

Mudança de governo na Alemanha enterra coalizão entre os dois grandes CDU e SPD. Cientista político Thorsten Faas analisa o que a coligação entre liberal-democratas (FDP) e democrata-cristãos significa para o país.

Guido Westerwelle, líder do Partido Liberal Democrata, comemorando os resultados nas urnasFoto: AP

Embora a premiê Angela Merkel seja bastante popular no país, sua vitória nas urnas nas eleições alemãs do último domingo (27/09) se deu graças aos bons resultados atingidos pelo Partido Liberal Democrata (FDP), parceiro de coligação de sua facção.

Mais de 14% dos eleitores do país optaram pelo partido encabeçado por Guido Westerwelle. A União Democrata Cristã (CDU) de Merkel, por sua vez, perdeu mais 1,5 ponto percentual da soma de votos obtida nas penúltimas eleições, um resultado que já havia sido considerado ruim no pleito anterior, há quatro anos.

Satisfação contida

Ou seja, Merkel, apesar de continuar no poder, é hoje tudo, menos uma vencedora radiante, diz Thorsten Faas, cientista político da Universidade de Mannheim.

Westerwelle e Merkel em debate durante a campanha eleitoralFoto: AP

"Para a CDU, como um dos grandes partidos do país, é natural obter pelo menos 40% dos votos. Receber no último pleito os 35,2% já havia sido um desastre. E foi realmente um milagre a forma como Angela Merkel conseguiu se impor naquele momento. Desta vez, com aproximadamente 33%, o partido recebeu ainda menos votos. Com isso, nem a CDU nem a parceira CSU podem estar satisfeitas", observa Faas.

No momento, tanto a CDU quanto o FDP se movimentam a fim de formar rapidamente a nova coalizão de governo. Nessa nova formação, os liberal-democratas poderão angariar o prestigiado posto de ministro do Exterior, que, na Alemanha, fica tradicionalmente a cargo do partido minoritário de uma coalizão. O próprio Guido Westerwelle, presidente do FDP, irá possivelmente assumir a pasta.

Posições distintas

Para os democrata-cristãos, o FDP não será um parceiro fácil no governo, alerta Faas: "Há diversos setores nos quais os futuros parceiros defendem posições bastante diferentes. Um deles, por exemplo, é o dos direitos civis.

Há poucos dias surgiu um documento do Ministério do Interior, conduzido pela CDU, prevendo uma ampliação do leque de ações do serviço secreto dentro do país. Isso é algo que o FDP não aceita de forma alguma. Ou seja, estamos diante de tempos tensos", conclui o cientista político.

O sistema tributário e a obrigação do serviço militar são igualmente pontos de discórdia entre a CDU e o FDP. No entanto, essas dificuldades não são nada em comparação às discussões que deverão ocorrer nos bastidores da social-democracia no país.

Oposição social-democrata

Ficou evidente que o SPD foi punido nas urnas pela cooperação com a CDU dentro da "grande coalizão". Isso ficou visível no pior resultado alcançado pelo partido na história da Alemanha desde o pós-guerra. O SPD também sofreu visivelmente em função do alto número de abstenções (28%), igualmente um recorde histórico.

Social-democrata Frank-Walter Steinmeier: oposição a partir de agoraFoto: AP

"Boa formação e altos salários aumentam a participação nas urnas. Porém o SPD não conta tanto como o apoio dessa parcela da população. De forma que sempre foi difícil para o partido levar seus adeptos às urnas. No último domingo, a dificuldade parece ter sido maior do que nunca", analisa Faas.

A oposição no novo Bundestag deverá ser conduzida pelo líder social-democrata Frank-Walter Steinmeier. Ainda na noite posterior às eleições, ele anunciara seu interesse em ocupar a liderança da bancada do SPD no Parlamento. Steinmeier é tido como o representante da ala reformista do partido. Durante a campanha eleitoral, ele revidou categoricamente uma coligação com A Esquerda.

"Acredito que essa tenha sido a última rejeição clara a um potencial bloco de esquerda e a um potencial governo de esquerda", sentencia Faas. No nível estadual, os social-democratas já superaram a rejeição aos esquerdistas.

A partir de agora, é bem possível que o SPD venha a se aproximar da Esquerda em nível federal nos próximos anos. Tendo em vista as próximas eleições parlamentares, em quatro anos, aponta Faas, caso os social-democratas mantenham esse curso, a esquerda poderá voltar a ser maioria no governo alemão.

Autor: Andreas Noll (sv)
Revisão: Augusto Valente

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