Liberdade de imprensa
3 de maio de 2008A organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF) divulgou neste sábado (03/05), Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, um relatório segundo o qual jornalistas são ameaçados e intimidados também em diversos países da União Européia. Além disso, repórteres também seriam vítimas de atentados de morte por parte de organizações criminosas.
Na França, jornalistas estariam expostos a represálias físicas durante a cobertura de acontecimentos nas periferias. "Desde os levantes de dois anos e meio atrás, a situação tomou um rumo preocupante", informou a ONG. Dezenas de fotógrafos, jornalistas e operadores de câmera teriam sido maltratados.
Também na Itália, dezenas de repórteres seriam forçados a trabalhar sob proteção policial devido à máfia, principal problema da imprensa do país, onde são registradas centenas de casos de ameaças, cartas anônimas e carros incendiados. Qualquer jornalista que escreva sobre a máfia, segundo a RSF, recebe, mais cedo ou mais tarde, uma advertência de que está sendo observado.
Já a organização clandestina basca ETA intimidaria há décadas a mídia espanhola. Em 2000, um jornalista foi morto com diversos tiros e outro ficou cego de um olho após um atentado. Mas também na Irlanda do Norte, Suécia, Bulgária, Romênia, Hungria, República Tcheca e Chipre teriam sido registrados casos de violência contra repórteres, consta do relatório.
"Clima perigoso" na Alemanha
Na Alemanha, a Associação Alemã de Jornalistas (DJV) alerta que, por mais que não precisem temer por suas vidas ou pela liberdade, repórteres devem temer por sua liberdade de pesquisa e reportagem, já que o governo, sob a desculpa de promover a proteção contra o terrorismo, cada vez mais restringe a proteção aos informantes e os segredos de redação.
Além disso, a Confederação Alemã das Editoras de Jornais (BDZV) adverte que a implementação de sistemas de armazenamento de dados, identidade e impressões digitais, bem como a monitoração de computadores pessoais de suspeitos de terrorismo cria um clima perigoso.
China ignora compromisso
Dentro de uma pequena cela montada na Potsdamer Platz, um dos principais pontos turísticos de Berlim, a RSF protestou contra a delicada situação a que jornalistas estão expostos. "Queremos chamar a atenção para repórteres que se encontram atrás das grades no mundo todo. São 130 profissionais em 30 países, muitas vezes condenados a vários anos de prisão", alerta Elke Schäfters, diretora da ONG na Alemanha.
Principal foco de críticas da ONG este ano é a China, que concentra o maior número de jornalistas detidos no mundo todo. Aos 31 jornalistas presos, soma-se mais de 50 chineses que pagaram com a própria liberdade por divulgar sua opinião crítica, por exemplo, em blogs.
"A China uniu sua candidatura aos Jogos Olímpicos ao compromisso de melhorar a situação dos direitos humanos. Hoje, em 2008, temos mais de 30 jornalistas presos, em comparação com 14 em 2001. Não vemos melhoria alguma", critica Schäfters.
Também dramática é a situação da Eritréia, país do nordeste da África, onde a mídia independente está proibida desde 2003 e 16 jornalistas se encontram presos. "Nem sabemos onde eles se encontram e em que condições são mantidos."
Apelo "a todas as sociedades"
O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, condenou severamente os ataques a jornalistas no mundo todo, lebrando que "uma mídia livre e independente é um dos fundamentos para a paz e a democracia". Segundo ele, os ataques à liberdade de imprensa ferem o direito internacional e tudo aquilo pelo que a ONU luta.
Ele se mostrou preocupado não apenas com os atos de violência, mas com a freqüência com que estes não seriam condenados, e pediu a "todas as sociedades do mundo" que não poupem esforços para levar os responsáveis a julgamento.
Desde o começo do ano, pelo menos 28 jornalistas em 17 países do mundo morreram ao/por exercer sua profissão, de acordo com a Campanha Emblema de Imprensa (PEC). No mesmo período do ano passado, o total foi de 34 jornalistas.