Entre os detidos está Joshua Wong, tido como figura central nos protestos contra Pequim que já duram três meses. Polícia proíbe manifestação que marcaria cinco anos do Movimento dos Guarda-Chuvas.
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Figuras centrais do movimento pró-democracia de Hong Kong foram presas numa operação policial nesta sexta-feira (30/08), sob suspeita de organizar ou participar de manifestações ilegais no território semiautônomo da China.
Entre os detidos estavam Joshua Wong e Agnes Chow, considerados mentores das manifestações de massa que se intensificaram em meados de junho e geraram a maior crise política em Hong Kong, em duas décadas. Wong foi o ícone dos protestos pró-democracia de cinco anos atrás, que serviram de estopim para as turbulências atuais, e com os quais Chow também esteve envolvida. No total, 28 pessoas foram presas.
Mais tarde, Wong e Chow seriam libertados sob fiança, mas continuam sob investigação por sua participação nos protestos. Wong, entretanto, não vinha sendo figura central nas manifestações dos últimos três meses, num movimento que não possui líderes identificáveis.
Os ativistas, ambos de 22 anos de idade, foram acusados de "incitação a terceiros para tomar parte em reuniões não autorizadas", cuja pena prevista é de cinco anos de prisão, entre outras acusações. Wong já fora detido em 2019 por desacato, sendo libertado em junho após cumprir sentença de cinco semanas.
Um protesto de grande porte que estava sendo planejado para este sábado por organizações de direitos civis foi proibido pela polícia, alegando questões de segurança. A data marcaria os cinco anos de uma controversa rejeição por Pequim a uma proposta de sufrágio universal e eleições democráticas no território, que resultou no desencadeamento de 79 dias de protestos na cidade.
As manifestações de 2014 ficaram conhecidas como Movimento dos Guarda-Chuvas e serviram de inspiração aos atuais protestos pró-democracia. Os organizadores da manifestação deste sábado cancelaram oficialmente o evento após a imposição da proibição, temendo pela segurança dos manifestantes.
Andy Chan, fundador do independentista Partido Nacional de Hong Kong, foi preso no aeroporto da cidade acusado de participação em tumultos e de atacar a polícia durante um protesto em 13 de julho. Seu partido foi banido em 2018 por supostamente representar ameaça em nível nacional. Esta foi a primeira proibição desse tipo desde que os britânicos devolveram Hong Kong ao domínio chinês, em 1997.
Outros ativistas presos nesta sexta-feira foram Rick Hui, representante de um bairro operário em Hong Kong, e Althea Suen, por ter participado da invasão do Parlamento num protesto em julho.
A ação policial desta sexta-feira foi denunciada por grupos de ativistas como estratégia do governo da China para sufocar a liderança do movimento, pouco antes das manifestações de grande porte marcadas para os próximos dias.
Issac Cheng, cofundador do partido Demosito juntamente com Wong, disse que as prisões são um sinal da disseminação de "terror branco" contra os manifestantes, um termo comumente utilizado para descrever os esforços chineses de fragmentar e enfraquecer o movimento.
A Anistia Internacional considerou grotesca a ação da polícia, que segundo afirma, empregou "táticas de medo diretamente tiradas do manual de Pequim", e definiu as prisões como "um revoltante assalto aos direitos de liberdade de expressão e de reunião pacífica".
Desde junho, houve mais de 850 prisões associadas às manifestações, o que não deteve o ímpeto dos ativistas, que intensificaram os protestos. A China respondeu ao aumento da violência entre policiais e manifestantes com uma campanha de intimidação, incluindo um vídeo que mostra o movimento de tropas rumo a Hong Kong como parte de uma "rotação de rotina das guarnições".
A imprensa estatal chinesa informou que soldados realizaram treinamentos de táticas antiprotestos em Shenzhen, cidade chinesa na divisa com Hong Kong, que ainda mantém status administrativo e econômico separado da China.
As passeatas na ex-colônia britânica e polo financeiro, iniciadas em 31 de março de 2019, eram inicialmente voltadas contra um projeto de lei de extradição anunciado pelo governo chinês. Mais tarde, ampliaram-se para um movimento pró-democracia, exigindo a deposição da chefe do Executivo local, Carrie Lam, e eleições plenamente democráticas.
Duas décadas depois de Hong Kong retornar ao domínio chinês, predomina entre muitos moradores a insatisfação com a ingerência de Pequim e o desejo por mais democracia.
Foto: Reuters/D. Martinez
1997 - Devolução à China
Após 156 anos de domínio britânico, Hong Kong era devolvida à China exatamente à zero hora de 1º de julho de 1997. Soldados do Exército de Libertação Popular içaram a bandeira chinesa, em sinal de supremacia sobre a antiga colônia britânica. O contrato para a devolução já havia sido assinado em 1984.
Foto: Reuters/D. Martinez
1998 - Ameaça de crise econômica
A crise financeira asiática de 1997-98 levou economias emergentes a impor controles comerciais ou à compra de ativos para tranquilizar investidores. Hong Kong surpreendeu o mercado em agosto de 1998 com uma intervenção de 15 bilhões de dólares para se defender de ataques especulativos. Os apoiadores da iniciativa dizem que isso salvou a cidade.
Foto: Reuters/L. Chan
1999 - Reagrupamento de famílias
As esperanças de um rápido reagrupamento das famílias separadas pela fronteira foram logo destruídas. Embora a Suprema Corte de Hong Kong tivesse concedido amplos direitos de residência, o governo chinês derrubou a decisão a pedido do governo de Hong Kong. Na foto, mais de cem visitantes da China continental protestaram para obter permissão de residência imediata em Hong Kong.
Foto: Reuters/B. Yip
2000 - Sucesso com a bolha
Em fevereiro de 2000, investidores entraram numa fila diante do banco HSBC para comprar ações da empresa Tom.com. Ao se lançar na bolsa de valores, a empresa – que existia apenas na internet – do bilionário Li Ka-shing conseguiu angariar quase 100 milhões de dólares pouco antes de estourar a bolha "dot-com".
Foto: Reuters/B. Yip
2001 - Conflito com grupo espiritual
Seguidores do movimento espiritual Falun Gong protestam regularmente em Hong Kong desde que o grupo foi banido pela China em 1999, sob a acusação de divulgar superstições e manipular as pessoas psicologicamente. Em 2002, 16 seguidores foram condenados por causa de protestos diante da representação da China em Hong Kong. A Suprema Corte do território reverteu metade das sentenças.
Foto: Reuters/K. Cheung
2002 - Famílias desesperadas
A questão das autorizações de residência acirrou-se em 2002, quando Hong Kong começou a deportar 4 mil chineses continentais que haviam perdido batalhas legais para residir no território. Houve protestos dos solicitantes e de seus apoiadores. Na foto, parentes de migrantes chineses depois de terem sido expulsos de um parque no centro de Hong Kong.
Foto: Reuters/K. Cheung
2003 - Nas mãos de um vírus
A Sars, uma doença viral semelhante à gripe, atingiu Hong Kong de tal forma que, em março de 2003, a Organização Mundial da Saúde a declarou uma pandemia. Até a cidade ser considerada livre da doença, em junho, 299 pessoas morreram, entre elas Tse Yuen-man. A médica de 35 anos esteve entre os primeiros voluntários a cuidar de pacientes com Sars. Em seu funeral, ela recebeu as mais altas honras.
Foto: Reuters/B. Yip
2004 - Frustração com Pequim
Centenas de milhares de pessoas participaram de protestos no sétimo aniversário da devolução à China. Pequim descartou o sufrágio universal em Hong Kong em 2007 ou 2008 e continuou freando as reformas políticas. Além disso, a China decretou que o governo de Pequim precisa aprovar qualquer alteração no direito de voto em Hong Kong, o que praticamente elimina qualquer aspiração democrática.
Foto: Reuters/B. Yip
2005 - Violência em protestos
Reuniões da Organização Mundial do Comércio regularmente são alvos de protestos dos adversários da globalização. Em Hong Kong, no final de 2005, não foi diferente. A polícia usou canhões de água e gás lacrimogêneo contra os manifestantes.
Foto: Reuters/L. Jae-Won
2006 - Conflito com o Japão
A China e o Japão disputavam um grupo de ilhas desabitadas. Acreditava-se que perto delas houvesse reservas de petróleo e de gás. Em outubro, um barco com ativistas de um comitê para defender as ilhas Diaoyi e que tem base em Hong Kong se aproximou 20km da ilha principal até ser interceptado por um barco de patrulha japonês.
Foto: Reuters/P. Yeung
2007 - Preservar a história
Um píer da era colonial tornou-se pivô de nova polêmica. O governo queria removê-lo para recuperar terras e construir estradas. Ativistas furiosos que consideravam o píer um local histórico lutaram pela sua preservação. O embate atingiu seu ponto alto em agosto, quando a polícia removeu um acampamento de ativistas e pessoas em greve de fome que já durava três meses. Em 2008, o píer foi demolido.
Foto: Reuters/P. Yeung
2008 - Morar em gaiolas
Terrenos cada vez mais caros tornaram os aluguéis impagáveis para muitas pessoas em Hong Kong. Milhares de moradores passaram a viver em gaiolas, onde dispunham de cerca de 1,4 m2. Em geral, um cômodo tem oito dessas caixas de arame. Em 2017, estima-se que 200 mil pessoas vivam assim ou disponham de apenas uma cama em apartamentos divididos.
Foto: Reuters/V. Fraile
2009 - Contra o esquecimento
Moradores de Hong Kong vestidos de preto e branco fizeram uma vigília no 20º aniversário da violenta repressão aos manifestantes pró-democracia na Praça da Paz Celestial em Pequim em 1989. O Victoria Park, no centro de Hong Kong, transformou-se num mar de velas.
Foto: Reuters/A. Tam
2010 - Projetos indesejados
Crescia em Hong Kong a insatisfação devido à falta de democracia e o fato de o governo não ter de prestar contas. As raiva coletiva é descarregada em forma de protestos contra os planos do governo de construir um trajeto para trens de alta velocidade ligando Hong Kong ao continente. O projeto ferroviário, não implementado até hoje, previa a destruição de um vilarejo.
Foto: Reuters/B. Yip
2011 - Protestos com papel
Um controverso projeto de lei que eliminou o mecanismo de eleições suplementares para o Conselho Legislativo gerou vários dias de protestos em frente ao prédio do conselho. Centenas de manifestantes jogaram aviões de papel com mensagens políticas contra o prédio.
Foto: Reuters/B. Yip
2012 - Desafios da administração
Leung Chun-ying (à esquerda) presta juramento como chefe de governo da região administrativa especial, diante do então presidente chinês, Hu Jintao. Ele prometeu mais democracia e moradias mais acessíveis. Apesar de medidas de contenção, os preços continuaram subindo, e as reformas políticas ainda estão emperradas. Leung Chun-ying não concorreu a um novo mandato.
Foto: REUTERS/File Photo/B. Yip
2013 - Hong Kong no foco da imprensa
Quando começaram a ser publicadas notícias sobre Edward Snowden e segredos dos EUA, o especialista em TI estava em Hong Kong. Apesar de os Estados Unidos terem pedido sua extradição, Hong Kong deixou Snowden voar para Moscou, onde ele recebeu asilo político. Enquanto alguns veem em Snowden um denunciante corajoso, outros o consideram um traidor da pátria.
Foto: Reuters/B. Yip
2014 - Protestos de guarda-chuva
Durante dois meses, Hong Kong teve grandes manifestações pró-democracia. A exigência era a escolha completamente democrática do chefe de governo. A marca registrada dos protestos foram os guarda-chuvas usados pelos manifestantes para se proteger do spray de pimenta da polícia. As manifestações são vistas como o maior desafio à autoridade da China desde o movimento por mais democracia, em 1989.
Foto: Reuters/T. Siu
2015 - Liberdade de expressão no estádio
A partida de futebol entre China e Hong Kong pelas eliminatórias da Copa de 2018 foi palco de protestos. Torcedores de Hong Kong empunharam cartazes com os dizeres "Hong Kong não é China" enquanto era tocado o hino nacional chinês. Há muita tensão entre os dois lados desde os "protestos dos guarda-chuvas". O jogo acabou em 0 a 0.
Foto: Reuters/B. Yip
2016 - Até correr sangue
Novos protestos foram realizados em Hong Kong. Mais uma vez, a polícia usou spray de pimenta e cassetetes. A razão: as autoridades tentaram remover vendedores de rua ilegais num bairro operário. Foram as mais violentas batalhas de rua desde os protestos de 2014.
Foto: Reuters/B. Yip
2017 - O tempo passa
No parque memorial rei George 5º, um dos poucos parques onde ainda há uma ligação com o passado colonial, as raízes de uma figueira cobrem uma placa, 20 anos após a devolução de Hong Kong à China pelos britânicos.