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PolíticaSíria

Liga Árabe readmite a Síria após 11 anos de suspensão

7 de maio de 2023

Países-membros da organização árabe votam para reintegrar Damasco ao grupo. País havia sido suspenso no fim de 2011 em meio à repressão sangrenta do regime de Assad aos protestos antigoverno.

Líderes árabes estão reunidos em um grande salão com uma mesa redonda para discutir o retorno da Síria à Liga Árabe. O país foi suspenso da organização em 2011 devido à guerra civil.
Ministros de Relações Exteriores de países que integram a Liga Árabe votaram no Cairo, no Egito, pelo retorno da Síria ao grupoFoto: Khaled Desouki/AFP

Os ministros das Relações Exteriores dos países da Liga Árabe votaram neste domingo (07/05) para reintegrar a Síria à organização, após mais de 11 anos de suspensão.

O país havia sido suspenso da liga de 22 membros em novembro de 2011 devido à condenação em toda a região da repressão violenta promovida pelo presidente sírio, Bashar al-Assad, à onda de protestos antigoverno de 2011 que desencadeou a guerra civil.

A decisão de readmitir a Síria foi tomada durante uma reunião a portas fechadas na sede da Liga Árabe no Cairo, Egito, na qual também esteve em pauta o desenrolar da situação no Sudão.

"As delegações do governo da República Árabe da Síria retomarão sua participação nas reuniões da Liga Árabe", afirmaram os ministros das Relações Exteriores do grupo.

Alguns membros da Liga Árabe não compareceram à sessão deste domingo. A ausência mais notável foi a do Catar, que tem apoiado a oposição na Síria contra Assad.

Enquanto isso, o regime sírio saudou a decisão como "positiva" e disse que ela atende aos interesses árabes.

"O estágio à frente requer uma abordagem árabe eficaz e construtiva nos níveis bilateral e coletivo com base no diálogo, respeito mútuo e interesses comuns da nação árabe", disse a agência de notícias estatal síria Sana, citando o Ministério das Relações Exteriores do país.

Decisão "não significa normalização"

"A readmissão da Síria não significa a normalização das relações entre os países árabes e a Síria. Essa é uma decisão soberana para cada país tomar, disse o secretário-geral da Liga Árabe, Ahmed Aboul Gheit, em entrevista coletiva no Cairo.

Após o anúncio neste domingo, o Catar afirmou que seu posicionamento sobre "normalizar as relações com o regime sírio não mudou".

Alguns países árabes, incluindo o Catar, têm se posicionado contra a normalização das relações com o regime de Assad sem uma solução política para o conflito. Enquanto outros, como os Emirados Árabes Unidos e a Jordânia, restabeleceram contato discretamente nos últimos anos.

Os ministros árabes concordaram em criar um comitê formado pelo chefe da Liga Árabe e por enviados da Arábia Saudita, Egito, Jordânia, Iraque e Líbano, a fim de manter contatos diretos com o regime da Síria.

O comitê visa alcançar uma "solução abrangente para a crise abordando todas as suas ramificações", afirmou o comunicado final dos ministros, sem dar mais detalhes.

O ministro das Relações Exteriores do Egito, Sameh Shoukry, que liderou as negociações, disse a seus colegas que "a única maneira de resolver a crise [síria] é com uma solução política puramente síria, sem ditames estrangeiros".

Críticas dos EUA

Apesar das mudanças na postura árabe, os Estados Unidos disseram no início desta semana que "não vão normalizar as relações com o regime de Assad nem apoiar a normalização por outros" países até que um progresso político seja alcançado.

Neste domingo, Washington criticou a readmissão de Damasco à Liga Árabe, afirmando que o país não merece ser trazido de volta ao grupo e levantando dúvidas sobre a real disposição de Assad em resolver a crise resultante da guerra civil.

Os Estados Unidos acreditam, no entanto, que os parceiros árabes pretendem usar o envolvimento direto com Assad para tentar resolver a crise de longa data do país, e Washington está alinhado com seus aliados nos "objetivos finais", disse um porta-voz do Departamento de Estado americano.

O retorno gradual da Síria à diplomacia árabe

Durante grande parte dos últimos 12 anos, a Síria foi afastada da maioria das interações diplomáticas na região.

O país foi atingido por uma série de sanções, incluindo a proibição de que altos funcionários viajem para outros países árabes.

Os Estados Unidos, a maioria dos membros da União Europeia e vários países do Golfo, incluindo Arábia Saudita e Catar, romperam relações com Damasco, apostando na queda do regime.

Por outro lado, a Síria manteve um aliado importante na Rússia, que veta inúmeras resoluções do Conselho de Segurança denunciando o regime de Assad. Damasco também conta com o apoio do Irã.

Recentemente, houve uma aceleração no processo de restabelecimento dos laços com países da região. O ministro sírio das Relações Exteriores, Faisal Mekdad, chegou a visitar capitais árabes como Cairo (Egito), Amã (Jordânia) e Tunis (Tunísia).

Foi após uma visita à Arábia Saudita no mês passado que os países árabes se reuniram em Jeddah para discutir medidas para acabar com o isolamento de mais de uma década da Síria.

A Arábia Saudita, que inicialmente apoiou a oposição ao presidente Assad, esteve entre os maiores opositores ao retorno da Síria aos contatos diplomáticos. Em março, porém, após anos de relações suspensas, o rico reino sunita anunciou a restauração dos laços diplomáticos com o Irã xiita, que tem sido um forte apoiador de Assad.

ek/gb (Reuters, AFP, AP)

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