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Capitais da cultura 2009

Agência/DW (rr)3 de janeiro de 2009

Cada uma investiu 50 milhões de euros em infraestrutura e programação cultural intensa para atrair a atenção do público internacional. Mas Vilnius enfrenta crítica de minorias étnicas e Linz luta contra passado nazista.

Juntas, cidades planejam 340 eventosFoto: picture-alliance/ dpa

A cidade austríaca de Linz, situada às margens do Danúbio, e Vilnius, capital da Lituânia, traçaram um ambicioso plano tanto para seduzir seus próprios habitantes quanto para atrair a atenção de potenciais visitantes de todas as partes do mundo nos próximos 12 meses, nos quais dividem o título de capital europeia da cultura. Para tanto, cada uma delas investiu mais de 50 milhões de euros em 340 projetos culturais – 220 em Linz e 120 em Vilnius.

Nesta maratona cultural, ambas apostam em concepções semelhantes, concentrando-se em apresentar uma programação multifacetada com forte destaque para a arte contemporânea, música e teatro. Grande parte dos investimentos foi dirigida à infraestrutura cultural. Linz, conhecida internacionalmente pelo festival de arte e mídia Ars Electronica, inaugurou o Ars Electronica Center, nova sede do renomado evento. E também a Lituânia aproveitou para expandir diversos centros culturais.

Linz: a preferida de Hitler aposta na arte contemporâneaFoto: picture-alliance / dpa

Linz: fama de provinciana

Mas certas capitais têm mais sorte que outras. Enquanto Liverpool festejou os Beatles em 2008, Linz, onde vivem 160 mil pessoas, se esforça por livrar-se da reputação de provinciana, cunhada principalmente pelo escritor Stefan Zweig, segundo quem "Linz rima com Provinz" (província, em alemão).

Além disso, a cidade luta contra a preferência que Adolf Hitler tinha por ela. Linz foi mencionada pela primeira vez em um registro histórico em 799 como um centro medieval de comércio e permaneceu uma pequena província até o século 20. E ainda continua desconhecida da maioria dos austríacos, segundo o prefeito Franz Dobusch.

Enquanto poucos conhecem as ruelas medievais de seu centro histórico, a maioria a associa à Voestalpine, siderúrgica fundada como parte do complexo industrial da Alemanha nazista em 1938, após a anexação da Áustria ao Terceiro Reich. Até março, a exposição Capital Cultural do Führer exibe os grandiosos planos de Hitler de transformar a cidade em metrópole cultural.

Sinfonia com fogos de artifício e o canto de centenas de coristas e 16 solistas comemoram início de 2009 em LinzFoto: picture-alliance/ dpa

Hitler, que passou parte da infância e da juventude em Linz, nunca concretizou seus planos de construir grandes bulevares e a maior galeria de arte do mundo em Linz.

Mesmo assim, quem visitar a cidade, situada a 190 quilômetros de Viena, será permanentemente lembrado deste episódio de seu passado. Por exemplo, ao caminhar com um guia de áudio com depoimentos de sobreviventes através de uma área residencial e de uma antiga fábrica aeronáutica que faziam parte do campo de concentração de Gusen.

Vilnius: história milenar

Já Vilnius é a cidade mais ao leste da Europa a ser eleita capital européia da cultura e a primeira metrópole de uma ex-república soviética agraciada com o título. Além de sua herança cultural, a cidade festeja também o primeiro registro histórico do país há exatamente mil anos nos Anais de Quedlinburg. Ao todo, haverá 900 eventos, dos quais dois terços serão gratuitos.

Por sorte, Vilnius escapou de grandes projetos arquitetônicos ou de infraestrutura durante a ocupação soviética, de modo que, em 1994, a cidade de muitas épocas foi incluída na lista do Patrimônio Mundial da Unesco por "haver preservado um impressionante complexo de construções góticas, renascentistas, barrocas e clássicas, bem como a estrutura medieval e a paisagem natural".

Vilnius: Estrutura medieval e estilos de várias épocasFoto: picture-alliance/ dpa

Mesmo assim, nem todos estão contentes com a nomeação da cidade. Um artigo publicado no principal jornal diário lituano, Lietuvos Rytas, acusou personalidades conhecidas da capital de homofobia, antissemitismo e racismo.

Também os ciganos da etnia rom pretendem aproveitar a atenção internacional para salientar a dificuldade de sua situação. Há hoje cerca de 500 deles vivendo em Vilnius num limbo político, muitos na ilegalidade.

Dois anos atrás, o então prefeito de Vilnius ordenou que assentamentos rom nas cercanias da cidade fossem demolidos. Os rom lutaram contra a medida e hoje continuam vivendo fora da cidade, completamente separados do resto da sociedade e considerados por muitos apenas ladrões e traficantes.

Segundo Augustinas Beinaravicius, que participa da organização de um festival de música, dança e folclore típicos rom, minorias são oprimidas pelo Estado lituano. "Decidimos fazer o festival, pois as minorias na Lituânia não são tratadas muito bem política e socialmente", critica.

Cultura como integração

Muita cultura e história milenar na capital lituanaFoto: picture-alliance/ dpa

Desde 1985, ao menos uma cidade é agraciada a cada ano com o título de capital européia da cultura. A escolha é feita pelo conselho de chefes de governo da União Europeia, a partir de indicações da Comissão Europeia. O objetivo é "salientar a riqueza, a variedade e as semelhanças da herança cultural europeia e contribuir para uma maior compreensão entre os cidadãos europeus".

Todo ano, cada país pode sugerir diversas cidades. Até 2019, a fim de integrar os novos países-membros da UE, a escolha incluirá sempre duas ganhadoras, uma pertencente aos antigos membros e outra aos novos membros do bloco. Com o passar do tempo, também cidades fora da UE passaram a concorrer.

Na Alemanha, Berlim (1988) e Weimar (1999) já foram honradas com o título. Em 2008, foi a vez da inglesa Liverpool e da norueguesa Stavanger. Em 2010, as capitais culturais serão Istambul, na Turquia, Pecs, na Hungria, e Essen, na Alemanha.

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