Câmara da capital portuguesa aprova homenagem por unanimidade. Comissão municipal determinará qual rua receberá o nome da vereadora carioca assassinada em 2018.
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A Câmara de Lisboa aprovou na quinta-feira (25/07) uma proposta para dar o nome da vereadora e ativista brasileira Marielle Franco, assassinada em 2018, a uma rua da capital portuguesa.
Os vereadores destacaram o trabalho da ativista. "Marielle Franco empenhou-se na luta pelos direitos humanos, especialmente em defesa dos direitos das mulheres negras e dos moradores de favelas e periferias, e na denúncia da violência policial", afirma a nota divulgada pelo gabinete do vereador de esquerda Manuel Grilo.
A nota lembra ainda que a brasileira foi "a quinta vereadora mais votada do Rio de Janeiro, nas eleições de 2016, com mais de 46 mil votos na sua primeira disputa eleitoral".
Embora tenha sido apresentada pelo bloco de esquerda, a proposta foi aprovada por unanimidade, conquistando também os votos de vereadores da direita. Com o aval da Câmara, cabe agora a uma comissão municipal analisar a proposta e propor a rua da homenagem.
Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes foram assassinados em 14 de março de 2018, no centro do Rio de Janeiro. Duas pessoas foram presas suspeitas do crime: o PM reformado Ronnie Lessa, que teria efetuado os disparos, e o ex-PM Élcio Vieira de Queiroz, que dirigiu o carro de onde partiram os tiros. Uma assessora da vereadora que também estava no veículo sobreviveu ao atentado.
Investigações sobre o assassinato da vereadora e de seu motorista Anderson Gomes ainda deixam muitas perguntas sem respostas.
Foto: CMRJ/Renan Olaz
Pressão por respostas
Um ano após o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e de seu motorista Anderson Gomes, muitas perguntas permanecem sem resposta, apesar da repercussão nacional e internacional e da cobrança das multidões que foram às ruas em protesto.
Foto: Getty Images/AFP/M. Pimentel
Avanços nas investigações
Na semana em que o crime completa um ano, dois ex-PMs foram presos e denunciados pelo Ministério Público do Rio de Janeiro. As investigações concluíram que o policial militar reformado Ronnie Lessa foi o autor dos disparos e o ex-PM Élcio Vieira de Queiroz, que foi expulso da corporação em 2015, foi o motorista do veículo usado para a execução.
Foto: picture-alliance/AP/
Assassinato político
As investigações do MP do Rio revelaram que o crime foi meticulosamente planejado ao longo de três meses. Nesse período, Lessa fez buscas na internet sobre locais que a vereadora frequentava. A promotoria assegurou que a motivação do assassinato decorre da atuação política de Marielle.
Foto: picture alliance/AP Photo/L. Correa
Quem mandou matar?
Os investigadores ainda não revelaram quem foi o mandante da execução. Após um ano de investigação, a polícia e o Ministério Público do Rio decidiram dividir o inquérito em duas partes: uma sobre os executores do crime, já encerrada; outra sobre os mandantes.
Foto: Reuters/P. Olivares
Polícia Federal acompanha o caso
Desde o final do ano passado, após longo debate sobre a federalização, a Polícia Federal (PF) ganhou acesso às investigações. O então ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, chegou a colocar a PF à disposição, mas a Polícia Civil do Rio recusou a oferta. A PF apurou, a pedido da procuradora-geral da República, Raquel Dodge, supostas tentativas internas de frear a conclusão do inquérito.
Foto: Getty Images/AFP/M. Schincariol
Mobilização contínua
A morte da vereadora provocou reações imediatas de políticos, ativistas e ONGs no Brasil e no exterior, além de ter levado seguidas vezes milhares às ruas. Ela foi homenageada na Câmara dos Deputados e por deputados da esquerda do Parlamento Europeu. Desde então, as manifestações em memória da vereadora não param. Neste ano, a passeata do Dia Internacional da Mulher em Berlim lembrou Marielle.
Foto: Getty Images/C. Koall
Polarização
Na esteira da polarização política do Brasil, o crime também desencadeou reações negativas, já que a vereadora era de esquerda, defensora dos direitos humanos e crítica da violência policial. Fake news chegaram a associar o nome de Marielle a traficantes e facções criminosas. Os rumores, já desmentidos, foram compartilhados até mesmo por figuras públicas.
Foto: DW/Thomas Milz
Símbolo
Um símbolo da polarização foi uma placa que imita sinalizações de rua com o nome de Marielle, afixada em uma praça em frente à Câmara Municipal do Rio. A placa foi quebrada pelos então candidatos do PSL Rodrigo Amorim e Daniel Silveira, atuais deputado estadual e federal, respectivamente. O hoje governador do Rio, Wilson Witzel (PSC), discursou no ato em que a placa foi partida.
Foto: picture-alliance/AP Photo/L. Correa
Homenagens no Carnaval
As homenagens mais recentes a Marielle aconteceram nos desfiles e blocos de rua do Carnaval de 2019. Familiares participaram do desfile da Unidos de Vila Isabel, enquanto a viúva da vereadora, Monica Benício, e os antigos colegas de trabalho Marcelo Freixo e Tarcísio Motta desfilaram pela Mangueira, campeã do Carnaval do Rio. A Vai-Vai, de São Paulo, também fez tributo à vereadora.
Foto: Reuters/P. Olivares
Quem era Marielle Franco
Marielle foi a quinta vereadora mais votada do Rio, tinha 38 anos e era defensora dos direitos das mulheres, especialmente das negras, e da inclusão social. Foi presidente da Comissão da Mulher da Câmara Municipal e coordenou a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Alerj, com Marcelo Freixo (PSOL). Marielle era socióloga e mestre em Administração Pública.