Projeto cria bibliotecas para comunidades carentes, população carcerária e menores infratores. Mais de 800 mil livros já foram distribuídos em 24 estados..
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Na entrada do Complexo de São Carlos, no Rio de Janeiro, num início de tarde, vários adolescentes voltam da escola com os olhos pregados em seus celulares. Não é fácil desviar a atenção dos jovens da tela. Mas esse é o objetivo do presidente da Associação de Moradores, Pedro Paulo Ferreira. E ele quer fazer isso com livros.
"A leitura abre portas para vários caminhos de raciocínio e aprendizado”, diz ele, sentado sob uma foto da escritora Nélida Piñon, que dá nome à biblioteca comunitária inaugurada no ano passado. "É muito difícil, hoje, competir com os smartphones, as redes sociais, os computadores, mas é isso que estamos tentando fazer." O Festival da Pipoca e a Feijoada Literária são alguns dos eventos planejados por Ferreira para atrair crianças e adultos.
A biblioteca de 5 mil volumes faz parte do projeto Alegria de Ler – Sala de leitura, do Instituto Oldemburg de Desenvolvimento, uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) que tem 840 bibliotecas comunitárias instaladas em 24 estados do país, todas elas voltadas para comunidades carentes, população carcerária e menores infratores. A ideia é garantir, por meio da leitura, instrumentos para a inclusão social de pessoas que vivem à margem da sociedade.
"Hoje, abastecemos escolas públicas, mas atendemos também instituições de jovens em processo socioeducativo. Eles poderão usar o livro e a leitura como ferramenta de inserção social”, explica a presidente do Instituto Oldemburg de Desenvolvimento, Cristina Oldemburg.
Diferentemente do que acontece nas escolas, a cooptação de internos para a leitura é mais fácil. "Numa unidade dessas, os meninos não têm celular; tudo o que eles têm é tempo. É mais fácil convencer um menino desse a ler do que um jovem de classe média”, diz ela.
Inspiração para debates
Segundo Cristina, é possível trabalhar diferentes conceitos e mensagens por meio dos livros, de forma lúdica. O pequeno príncipe, de Saint-Exupéry, por exemplo, é a dica para se falar sobre companheirismo. O menino do dedo verde, de Maurice Druon, é uma referência para discutir ecologia; enquanto Fernão Capelo Gaivota, de Richard Bach, é perfeito para o debate sobre a liberdade.
Mas não é só isso. "No caso das instituições de ressocialização de jovens, a intenção é transformar o livro numa importante ferramenta de aproximação e de relacionamento entre os agentes socioeducativos e os internos”. Isso ocorre, segundo Cristina, porque as bibliotecas são abertas aos internos, mas também a seus parentes e aos funcionários da instituição.
No Complexo de São Carlos, os livros mais procurados são de sociologia e geopolítica – geralmente por moradores que estão cursando a universidade – e, claro, os best-sellers para adolescentes, como Harry Potter. Os livros infantis também têm muita procura.
Espelho da realidade
Nas instituições de menores infratores, Cristina conta que também são muito populares os livros que, de certa forma, tratam de realidades de vida similares às dos internos, como Vidas secas, de Graciliano Ramos, e Menino de engenho, de José Lins do Rego, entre outros clássicos da literatura nacional.
Desde a sua criação, em 2003, o projeto já disponibilizou 840 mil títulos de autores nacionais e internacionais e livros de ciências sociais, história, desenvolvimento pessoal, artes, filosofia e esporte, entre outros.
"Além de entregarmos um acervo que atende a várias áreas de interesse, motivamos e engajamos o gestor público, que é o grande protagonista da ação. Capacitamos agentes de leitura selecionados na comunidade para serem divulgadores e incentivadores do projeto", explica Cristina.
Ela ressalta que são feitas oficinas com contadores de histórias e de produção literária junto aos agentes de leitura, professores e pedagogos das instituições. "Promovemos o acervo e o autor homenageado da Sala, cuja a obra completa fará parte do acervo".
As dez bibliotecas mais belas do mundo
Bibliotecas já existem há mais de 4 mil anos. Elas são espaço educativo, de refúgio e encontro. Algumas se parecem com salões de baile, outras remontam a naves extraterrestres. Confira uma seleção das mais suntuosas.
A instituição fundada em 1837 por imigrantes portugueses no Rio de Janeiro está completando 180 anos. Projetado em estilo neomanuelino, o edifício da atual sede foi inaugurado em 1887 pela princesa Isabel. O Real Gabinete abriga volumes raros como a primeira edição de "Os Lusíadas" de 1572. Em 2014, esta biblioteca pública foi considerada uma das mais belas do mundo pela revista americana "Time".
Foto: Markus Garscha
Renascendo das cinzas
A Biblioteca Anna Amalia, em Weimar, recebeu seu nome atual somente em 1991. Anteriormente, por 300 anos, ela se chamou simplesmente Biblioteca Ducal. Em 2004, o prédio e seu famoso salão rococó ganharam notoriedade trágica ao ser parcialmente destruídos por um incêndio. Três anos mais tarde, o edifício foi reaberto após uma restauração.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Woitas
Campo de futebol ou biblioteca?
Mesmo sem carteira de estudante, vale a pena visitar a Universidade Técnica de Delft, na Holanda. Com uma cobertura vegetal, o prédio da biblioteca é particularmente notável. No verão, os estudantes gostam de pegar sol nesse plano inclinado e gramado. O cone que perfura o centro do edifício tem 42 metros de altura. No interior, há uma estante de livros, que se estende ao longo de quatro andares.
Foto: Nicholas Kane/Arcaid/picture alliance
Negro como o ébano
O jornal britânico "The Daily Telegraph" incluiu em 2013 a Biblioteca Joanina, na Universidade de Coimbra, entre as bibliotecas mais espetaculares do mundo. Seu nome é uma homenagem ao rei Dom João 5°, que encomendou a construção do edifício. Todas as prateleiras são feitas de ébano e outras madeiras preciosas. Hoje, a antiga Casa da Livraria faz parte da faculdade de Direito.
Foto: picture-alliance/akg-images/H. Champollion
Passado grandioso
Ela foi, possivelmente, a biblioteca mais famosa do mundo e pegou fogo 2 mil anos atrás: antes de sua destruição, estima-se que a Biblioteca de Alexandria abrigasse o conhecimento do mundo em cerca de 490 mil rolos de papiro. Desde 2002, uma nova instituição tenta resgatar o seu passado glorioso: o edifício com vista para o mar custou 220 milhões de dólares aos cofres do governo egípcio.
Foto: picture-alliance/Arco Images GmbH
Tesouros mumificados
A biblioteca do convento de St. Gallen, na Suíça, guarda um acervo de livros já há 1.300 anos. Ali os visitantes podem ver, por exemplo, o plano construtivo do convento, a mais antiga planta arquitetônica da Europa. A biblioteca também se encontra de posse de uma múmia egípcia. Considerada uma das mais belas do mundo, a biblioteca foi elevada a Patrimônio da Humanidade pela Unesco em 1983.
Foto: picture-alliance/Stuart Dee/robertharding
O cérebro
Devido à sua forma craniana, esta instituição berlinense foi apelidada de “o cérebro”. Ela abriga as bibliotecas dos Departamentos de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Livre de Berlim e logo se tornou um marco arquitetônico. Inaugurada em 2005, ela foi projetada pelo arquiteto britânico Norman Foster.
Foto: picture-alliance/dpa/D. Andree/Helga Lade
Abóbadas de carvalho
Com 64 metros de extensão e 12m de largura, o imponente "Long Room" (Espaço Longo) se destaca em Dublin como parte da antiga biblioteca do Trinity College. Originalmente, a sala era muito menos impressionante com seu teto plano de gesso. Em 1858, arquitetos tiveram a ideia de remover a laje plana, elevando o pé-direito do salão, que recebeu uma cobertura em abóbadas de carvalho.
Foto: Imago/imagebroker
Ator global
Com um acervo de mais de 30 milhões de livros impressos e outras mídias, a Biblioteca Nacional da China está entre as sete maiores do mundo. Ela foi construída em 1809, quando ainda se chamava Biblioteca da Capital. A partir de 1928, passou a se chamar Biblioteca de Pequim. Somente em 1998, ganhou o seu nome atual após aprovação do governo chinês.
Foto: Getty Images/AFP/W. Zhao
Atmosfera teatral
Em Buenos Aires, El Ateneo não é uma biblioteca, mas uma livraria. O edifício possui uma história movimentada. Em 1919, foi inaugurado como teatro. No final do século 20 foi transformado em cinema. Finalmente, no ano 2000, se tornou uma livraria. Nos antigos camarotes do teatro se encontram hoje poltronas para leitura. No palco, são servidos café e bolo.