1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW
HistóriaLituânia

Lituânia planeja derrubar seus últimos monumentos soviéticos

2 de setembro de 2022

País passou a remover estátuas da era soviética após sua independência em 1990, mas algumas permanecem de pé em locais menos centrais. Com guerra na Ucrânia, lembranças de um passado sombrio fizeram o tema voltar à tona.

Estátua de Lenin em um bosque
Estátua de Lenin removida de local público está agora em parque privadoFoto: Marcel Fürstenau/DW

Após sua morte em 1924, Vladimir Lenin  permaneceu onipresente em vários países soviéticos – seja esculpido em pedra, seja fundido em ferro. Também na Lituânia, monumentos em homenagem ao líder comunista podiam ser vistos nos locais mais proeminentes de pequenas e grandes cidades.

Porém, com o colapso da União Soviética em 1991, o culto à personalidade acabou e, como em todos os países ex-comunistas, esculturas de Lenin e de outros ditadores foram retiradas de seus pedestais.

Após a rápida demolição de muitos monumentos no início dos anos 1990 e a renomeação de ruas e praças, os lituanos deixaram de lado o tema por muito tempo, diz o historiador Arūnas Bubnys.

Mas em 24 de fevereiro a Rússia invadiu a Ucrânia, e o ressentimento contra a antiga União Soviética e a atual política russa cresceu novamente. A Lituânia teme ser atacada também pelas tropas de Vladimir Putin.

Passado sombrio

As lembranças da ocupação da Lituânia, que começou em 1940 como resultado de um pacto entre Hitler e Stalin e só terminou em 1991, voltaram a atormentar os cidadãos. Até 1953, houve deportações em massa principalmente para a Sibéria.

Parte da história ambivalente do país é que muitos lituanos antissemitas participaram do assassinato de cerca de 200 mil judeus durante a ocupação alemã, de 1941 a 1944. Essa ainda é uma "questão sensível" na sociedade, afirma Bubnys.

Ele dirige o Centro de Pesquisa sobre Genocídio e Resistência em Vilnius, que também é responsável pelo Museu das Ocupações e Lutas pela Liberdade. Ali está registrado o que meio século de opressão significou para o povo da Lituânia.

No mesmo prédio, localizado no centro da capital lituana, torturas e assassinatos foram cometidos pelo serviço secreto soviético KGB. Quando a Wehrmacht (forças armadas da Alemanha nazista) ocupou temporariamente o país na Segunda Guerra Mundial, os nazistas usaram o edifício de magnífica fachada como prisão, onde também houve mortes.

Até mesmo em cemitérios

Quando a Lituânia restabeleceu sua independência em 1990, o país se livrou em grande parte da herança propagandística que ainda era visível, como estátuas de Lenin e monumentos com tanques e soldados. Mas alguns monumentos da época soviética permaneceram em locais menos centrais.

Por causa da guerra na Ucrânia, existem planos agora para remover os símbolos restantes, conta Bubnys. Eles incluem a estrela vermelha, o martelo e a foice, e até esculturas em cemitérios estão sendo visadas.

Monumentos em Berlim remetem a passado sombrio

02:18

This browser does not support the video element.

A historiadora Violeta Davoliūtė acha isso questionável. É preciso olhar mais de perto, diz a professora do Instituto de Relações Internacionais e Ciência Política da Universidade de Vilnius. Ela defende um debate social sobre como lidar com símbolos do passado. "Isso é apenas uma coroa de flores ou há outros símbolos que não representam o poder militar dos soviéticos? Então eles devem ser deixados de pé", diz a historiadora.

Na pequena cidade de Merkinė, a cerca de 100 quilômetros de Vilnius, foi tomada uma decisão diferente: em maio de 2022, o monumento ao soldado soviético, com cerca de dois metros de altura, foi derrubado de seu pedestal. Davoliūtė foi contra, argumentando que tais estátuas seriam importantes para fins de documentação. "Elas podem ajudar a explicar e apresentar a história complicada."

"Também é parte da nossa história"

Gvidas Rutkauskas, presidente da Associação de Prisioneiros e Deportados Políticos da Lituânia, também é contra a remoção de todos os vestígios soviéticos na Lituânia. E ele teria motivos pessoais para desejar exatamente o contrário, já que nasceu na Sibéria depois que seus pais foram deportados para lá.

Estátua de Stalin no Parque das GrutasFoto: Marcel Fürstenau/DW

Para Rutkauskas, a remoção de relíquias comunistas depende de cada monumento e de onde ele está. Não é preciso remover tudo que vem de um passado sombrio, afirma. "Isso também faz parte da nossa história", e as gerações futuras devem saber o que aconteceu. Mas há um limite: "Se houver um tanque soviético ou símbolos com a estrela soviética em um local importante de uma cidade, eles devem ser removidos."

Devido à nova situação de ameaça na Lituânia desde a guerra na Ucrânia, o debate se desenvolveu em uma direção clara: a maioria é a favor de remover até os últimos vestígios dos tempos comunistas.

Mistura de Disneylândia e show de horrores

Se um dia isso acontecer, restará ainda o Parque das Grutas, um museu a céu aberto no sul da Lituânia, de administração privada. Desde a virada do milênio, esculturas e monumentos indesejados em seus lugares originais estão sendo reunidos aqui: o revolucionário Lenin, o ditador e assassino em massa Josef Stalin, o chefe do serviço secreto Feliks Dzierżyński, o filósofo alemão Karl Marx e muitos outros.

O parque tem 87 monumentos, mas também cercas de arame farpado e torres de vigia, comuns nos campos de prisioneiros siberianos. Todos são acompanhados por quadros com informações sobre sua origem e quando foram retirados.

Os críticos veem o parque como uma mistura de Disneylândia e show de horrores. A historiadora Violeta Davoliūtė, por outro lado, é otimista. Ela admite que o tipo de apresentação possa ter um efeito banalizador, principalmente para visitantes estrangeiros. Já para o povo da Lituânia, os monumentos soviéticos retirados das praças centrais do país e agora reunidos no Parque das Grutas lhes possibilitam conhecer melhor o passado.

Este texto foi elaborado como parte de uma viagem de estudos da Fundação Federal para a Reavaliação da Ditadura na antiga Alemanha Oriental. A fundação, financiada com dinheiro de impostos, tem se dedicado a lidar com as ditaduras comunistas na Alemanha e em outros países desde 1998.

Marcel Fürstenau Autor e repórter de política e história contemporânea, com foco na Alemanha.
Pular a seção Mais sobre este assunto