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'Alemanha se auto-extingue'

28 de agosto de 2010

Após divulgação de trechos do polêmico livro, o Partido Social-Democrata rechaça opiniões de Thilo Sarrazin, do Banco Central Alemão. Em 2009, episódio semelhante custou punição leve ao então vice do Bundesbank.

Sarrazin e sua obraFoto: AP/DW-Fotomontage

Antes mesmo de seu lançamento na segunda-feira (30/08), o livro de Thilo Sarrazin provocou ondas de indignação. Com o título Deutschland schafft sich ab: Wie wir unser Land aufs Spiel setzen (A Alemanha extingue a si mesma: Como estamos colocando em risco o nosso país), o membro do conselho executivo do Bundesbank (Banco Central alemão) redigiu o que o site do jornal Frankfurter Allgemeine Zeitung (FAZ) define como "um dossiê antimuçulmano".

Livro acusa muçulmanos de tornar 'mais burra' a sociedade alemãFoto: AP

Entre tantas outras generalizações, Sarrazin acusa os membros da comunidade islâmica de terem se beneficiado muito mais da previdência social do país do que contribuíram para a mesma.

Além disso, correligionários social-democratas e a imprensa alemã consideram inequivocamente racista sua afirmação de que a sociedade alemã estaria "emburrecendo" pelo fato de os muçulmanos gerarem mais filhos do que a população "nativa".

"Na Alemanha, um exército de encarregados de imigração, especialistas em estudos islâmicos, sociólogos, politólogos, representantes de associações trabalha de mãos dadas com uma horda de políticos ingênuos, na minimização, auto-ilusão e na negação de problemas", escreve Sarrazin, acrescentando que a política estatal de migração da Europa tem sido "predominantemente anti-histórica, ingênua e oportunista". Acima de tudo, ele diz querer evitar que os alemães se tornem estranhos em sua própria terra.

O periódico popular Bild antecipou o lançamento de Deutschland schafft sich ab publicando trechos seletos do livro, em seis capítulos. Notório por suas opiniões reacionárias, desde junho último o ex-secretário de Finanças de Berlim vinha ocupando as manchetes alemãs com observações anti-islâmicas. Entretanto, numa entrevista ao semanário Die Zeit, ele se exonerou de acusações de racismo: "Não sou racista. O livro aborda limites culturais, não étnicos".

Déjà-vu... ou farsa?

O presidente da Federação Turca da Alemanha, Kenan Kolat, exigiu neste sábado que a chefe de governo alemã, Angela Merkel, demova Sarrazin do cargo no Bundesbank. Kolat declarou que, com esse livro, ele haveria ultrapassado uma fronteira. "É o ápice de um novo racismo intelectual, e prejudica a imagem da Alemanha do exterior."

Sigmar Gabriel, presidente do Partido Social Democrata (SPD)Foto: AP

O Partido Verde e A Esquerda apoiam as exigências de Kolat. Os social-democratas (SPD), por sua vez, se distanciaram das afirmativas do correligionário Sarrazin. O chefe do partido, Sigmar Gabriel, classificou-as de "violentas", comentando: "Se os senhores me perguntarem por que [Sarrazin] ainda quer estar afiliado a nós, eu digo que não sei".

Todo o atual episódio ganha um ar de déjà-vu, se não de farsa, quando se considera que, em outubro de 2009, Thilo Sarrazin, então vice-presidente do Bundesbank, causara acalorada polêmica ao distinguir, numa entrevista à revista de cultura Lettre International, entre os "bons" e "maus" imigrantes na sociedade da Alemanha. Entre suas afirmações na época constava a de que a maioria dos árabes e turcos de Berlim, por exemplo, não tem "nenhuma função produtiva, a não ser no comércio de frutas e verduras".

Apesar de veementes exigências de punição, o social-democrata natural do Leste alemão foi apenas destituído de parte de suas funções no Banco Central.

Autoria: Richard Connor / Augusto Valente

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