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História

19 de agosto de 2009

Embora não muito conhecido, nunca foi realmente um segredo o fato de que os nazistas mantinham bordéis em campos de concentração. Um pesquisador alemão reuniu informações sobre o assunto e publicou um livro a respeito.

Bordéis eram criados para 'incentivar' trabalhadores forçadosFoto: picture-alliance/ dpa

Das KZ Bordell (O bordel do campo de concentração) vem sendo festejado como o primeiro relato detalhado acerca de um capítulo pouco conhecido da história do nazismo durante a Segunda Guerra Mundial. O volume de 460 páginas, de autoria de Robert Sommer, é resultado de uma pesquisa minuciosa sobre todos os 10 ex-campos de concentração onde os nazistas mantiveram bordéis entre os anos de 1942 e 1945.

O livro é baseado em numerosas entrevistas com pequenos grupos de sobreviventes. De acordo com Sommer, os oficiais da SS eram convencidos de que os trabalhadores forçados se empenhariam mais se lhes fosse prometida a possibilidade de fazer sexo.

"As mulheres que eram recrutadas para esses bordéis vinham em sua maioria dos campos de concentração de Ravensbrück e Auschwitz", diz Sommer. Segundo o pesquisador, aproximadamente 70% destas mulheres eram alemãs. As demais vinham da Ucrânia, Polônia e Belarus.

"Indesejáveis" socialmente

Depois de um no campo austríaco de Mauthausen, em 1942, a SS abriu mais 10 bordéis, sendo o maior deles em Auschwitz (hoje Oswiecim, na Polônia), onde trabalhavam cerca de 21 prisioneiras. O último bordel foi aberto no início de 1945, ano em que a guerra chegou ao fim.

Sommer estima em 200 o total de prisioneiras forçadas a trabalhar em bordéis, inicialmente atraídas pela perspectiva de escaparem das brutalidades dos campos de concentração. A promessa de liberdade, no entanto, nunca era cumprida, revela Sommer.

Auschwitz (foto) e Ravensbrück: recrutamento de prisioneiras obrigadas a se prostituíremFoto: AP

"A grande maioria destas prisioneiras forçadas a se prostituírem nos campos de concentração eram mulheres rotuladas pelos nazistas de 'socialmente indesejáveis' ou 'antissociais'. Mas não havia nenhuma judia entre elas e nenhum judeu era admitido entre os frequentadores destes bordéis", explica o pesquisador.

Os prisioneiros de guerra soviéticos também não tinham permissão para entrar nesses bordéis. Dezenas de milhares de soldados capturados, prisioneiros políticos e pessoas consideradas indesejáveis pelos nazistas – incluindo aquelas da etnia rom e os homossexuais – eram mantidos nos campos de concentração ao lado dos milhões de judeus que morreram no Holocausto.

Assunto continuou tabu

Insa Eschebach, diretora do Memorial Ravesbrück, que funciona nas instalações do então campo de concentração, situado no estado de Brandemburgo, diz que o tema "prostituição forçada" foi evitado por décadas, como se não houvesse ninguém capaz de falar ao mesmo tempo de sexo e campos de concentração.

"Há certamente uma imagem positiva dos prisioneiros de campos de concentração, vistos desta mesma forma tanto na então Alemanha Oriental quanto na então Alemanha Ocidental. O assunto da prostituição forçada dentro dos campos de concentração tende a destruir essa imagem positiva", observa Eschebach.

"Os prisioneiros dos campos sempre foram vistos como – e eram de fato – vítimas. Mas naquela situação especial, os prisioneiros do sexo masculino poderiam, de repente, se transformar em delinquentes", acrescenta ela.

Dificuldade de obter informação

Prisioneiros: debilitados e sem condições de frequentar bordéisFoto: Staatliches Museum Auschwitz-Birkenau

Sommer comenta que obter informações de primeira mão sobre esse capítulo pouco conhecido da história da Alemanha nazista continua sendo extremamente difícil.

"Por um lado, a maioria das mulheres que eram recrutadas para os bordéis nunca se livraram do estigma de serem consideradas antissociais e, por isso, não gostam de falar a respeito daquilo que vivenciaram. Há de se ressaltar que nenhuma delas recebeu, algum dia, qualquer ressarcimento pelo sofrimento por que passou depois da guerra", observa Sommer.

Além disso, tanto Sommer quanto Eschebach acentuam que o assunto "bordéis em campos de concentração" veio sendo mantido como um tabu por várias décadas. "O tema 'bordéis e sexualidade' não combina com a imagem daquilo que os campos de concentração nazistas sempre simbolizaram para o público. Há necessidade de muitas explicações para colocar as coisas no contexto certo. E somente poucas pessoas, até hoje, tentaram fazer isso", diz Sommer.

O pesquisador diz que, enquanto a ideia por trás dos bordéis era a de aumentar a produtividade através de incentivos para os prisioneiros, essa estratégia nunca realmente funcionou. Segundo ele, poucos eram os prisioneiros que ainda estavam em boas condições físicas para ficarem frequentando bordéis.

A publicação do livro de Sommer coincide com uma exposição que passa por diversas cidades alemãs e trata da prostituição forçada nos campos de concentração durante o nazismo.

Autor: Hardy Graupner (rb/rtrs/sv)

Revisão: Roselaine Wandscheer

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