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EducaçãoBrasil

Livros digitais democratizaram o acesso à leitura?

Vinícius de Andrade
Vinícius De Andrade
17 de agosto de 2023

Jovens revelam pontos positivos e negativos da leitura digital. Acesso a tecnologias é a principal barreira mencionada, mas temor do fim dos livros físicos também é citado.

Digital X físico: pesquisa entre jovens mostra a preferência deles de leituraFoto: picture-alliance/S. Kiefer

Na coluna desta semana, gostaria de compartilhar com vocês leitores os resultados de uma indagação: A tecnologia democratizou o acesso à leitura através dos livros digitais? Nossos jovens são consumidores desse formato de livro? Para responder essa provocação, tive a oportunidade de falar com 107 jovens da rede pública brasileira oriundos de 20 estados do país.

O primeiro resultado, honestamente, me surpreendeu: 83% é ou já foi leitor de livros digitais. Dentro do grupo dos 17% que nunca consumiu esse tipo de conteúdo, as justificativas foram: não saber onde procurar e acessar, a preferência pelos livros físicos e o medo dos possíveis problemas de visão devido à exposição às telas.

Nosso foco aqui será os 83% que já tiveram a experiência de ler uma obra digital. Este público contribuiu com a nossa discussão trazendo os pontos positivos e negativos da leitura online.

Bom, vamos primeiro aos pontos positivos. A palavra "praticidade" apareceu muitas vezes. Eles acreditam que a manipulação é mais fácil, tornando possível "carregar" muitos livros sem pesar a mochila. Muitos também acham que os livros digitais são mais baratos em comparação aos físicos – uns até mencionaram ser possível encontrar obras totalmente gratuitas. Portanto, acreditam que há uma certa democratização do acesso à leitura.

No entanto, os jovens que ajudaram com a coluna também acreditam que há alguns pontos negativos. Noêmia, jovem carioca, sintetizou bem a perspectiva dos colegas: "Acho que uma das principais desvantagens é o uso excessivo das telas e a falta de contato com algo real, porém, há outras desvantagens como a falta de internet em alguns locais e a falta de acesso às tecnologias em várias regiões".

Ela bem destacou dois pontos que foram quase unânimes nas respostas: a questão dos males que tanto tempo de tela podem acarretar na visão e também que nem todos, infelizmente e especialmente no Brasil, têm acesso às mesmas tecnologias. Um outro fator citado foi a maior possibilidade de distração durante leituras online, dado às notificações de redes sociais e afins.

Experiência da leitura

Confesso que, especialmente por ter falado com jovens, me surpreendi com outro ponto que eles trouxeram. "Livros físicos são, na minha opinião, muito mais legais de se ler. Sinto mais vontade e gosto de ler um livro se for físico. O cheiro, a textura, passar as páginas se perguntando o que vai acontecer na próxima, é muito mais emocionante do que apenas passar o dedo num aparelho", diz Manuelly, jovem paraense.

A jovem nortista me impressionou e não foi a única. Temos jovens defensores da leitura e, sobretudo, da experiência que o ato pode nos proporcionar. Muitos deles, inclusive, temem pelo fim dos livros físicos e estou nessa com eles.

Como a Noêmia bem apontou: nem todos têm acesso à tecnologia necessária para consumir livros digitais. Estes, sim, caminham para a democratização da leitura, mas somente em um cenário em que existem no mesmo mundo dos livros físicos. A razão é que, em um universo de substituição total de livros físicos por digitais, o potencial de democratização deste último será minado, pelo menos em alguma medida, por obstáculos estruturais e que refletem as desigualdades de nossas classes sociais, como, por exemplo, o acesso à tecnologia necessária para o simples ato de leitura.  

Você, leitor mais pessimista, pode acreditar que nossos jovens já não gostam mais de ler. Eu mesmo, confesso, já os julguei por isso também. Aos 107 que contribuíram para a coluna eu perguntei exatamente isso: "é verdade que o jovem não gosta mais de ler?". Eles, os jovens, podem responder esta pergunta muito melhor do que eu. Portanto, encerro esta coluna com a fala da Judith, jovem paulista.

"Acredito que a questão seja que não há muito incentivo à leitura! Não ‘gostar' de ler é para alguém que já teve a experiência e não sentiu confortável nessa situação ou, simplesmente, não achou aquilo que leu interessante. Mas isso vem de uma questão maior: quais os livros que, muito embora bons, são socialmente aceitos? Qual a diferença entre preferir ler um gibi, um mangá, ou um livro de romance, do que algo clássico? A leitura não será relevante? Acredito que muitas pessoas pensam dessa forma e isso interfere na leitura, principalmente entre jovens. Então, concluindo: há falta de incentivo à leitura e muitas pessoas ainda não encontraram algo que realmente gostam de ler, muitas vezes porque estão presas (por causa de outros que influenciam) nesse limbo que classificam como livros bons apenas os clássicos. Muitas vezes as pessoas associam os livros ou ficam surpresas quando você diz ‘eu leio, eu gosto de ler' com algo super culto e inteligente, mas simplesmente, às vezes, os jovens querem ler algo que os diverte, sem pressão. As pessoas precisam gostar do que estão lendo."

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Vozes da Educação é uma coluna semanal escrita por jovens do Salvaguarda, programa social de voluntários que auxiliam alunos da rede pública do Brasil a entrar na universidade. Revezam-se na autoria dos textos o fundador do programa, Vinícius De Andrade, e alunos auxiliados pelo Salvaguarda em todos os estados da federação. Siga o perfil do programa no Instagram em @salvaguarda1

O texto reflete a opinião do autor, não necessariamente a da DW.

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A coluna quinzenal é escrita por jovens do Salvaguarda, programa social de voluntários que auxiliam alunos da rede pública do Brasil a entrar na universidade.

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