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Wagneriana

22 de julho de 2009

Os filhos de Cosima; as mulheres de Richard na vida e no palco; o mito do Judeu Errante em sua obra; e um estudo profundo da última ópera do mestre bávaro. Literatura wagneriana inunda o mercado, antes mesmo do festival.

Richard Wagner (1813-1883)Foto: dpa

Em 2009, o aclamado Festival de Bayreuth se realiza de 25 de julho a 28 de agosto, na cidade homônima, situada na Baviera. Como todos os anos, antes do grande acontecimento, publicações sobre o compositor Richard Wagner (1813-1883) inundam o mercado livreiro da Alemanha.

A novela dos Wagner

Mesmo os mais ardentes admiradores de Wagner são levados a pensar nas sagas familiares da TV estadunidense diante do que se desenrola a cada anos na "Colina Verde", do final de julho ao final de agosto.

Cosima Wagner em 1870Foto: picture alliance/dpa

A empresa Wagner existe há 133 anos, desde o primeiro festival de ópera em Bayreuth. O autor Oliver Hilmes apresenta a história dessa dinastia em seu novo livro Cosimas Kinder (Os filhos de Cosima, ed. Siedler). Trata-se da continuação da grande biografia da segunda esposa do compositor, lançada em 2008.

De seu primeiro casamento, com o pianista e regente Hans von Bülow, a filha do compositor Liszt trouxera duas meninas (Daniela e Blandine). Com Wagner, Cosima (1837–1930) teve mais três filhos: Isolde, Eva e Siegfried. Segundo Hilmes, "Wagner e os seus são um mundo à parte". Para melhor orientação do leitor, ele apresenta um "mapa celeste".

Para quem gosta de detalhes picantes, o biógrafo lança mais luz sobre as relações internas do clã do que outros livros recentes de Brigitte Hamann e de Jonathan Carr. Com alto teor de entretenimento, a história relatada é "por vezes grande ópera, enquanto por outras não passa de uma opereta alegre, teatro de boulevard irreverente, uma tristíssima paixão religiosa ou uma chanchada absurda".

Feminismo equivocado

A 'Colina Verde' em Bayreuth, cenário da novela WagnerFoto: AP

A obra wagneriana vive de mulheres fortes como a valquíria Brünhilde. Mas também dentro da dinastia familiar foram muitas vezes as mulheres a trazer as rédeas na mão.

Seis anos atrás, Eva Rieger lançara uma biografia de Minna, a primeira esposa do músico. Agora, em Leuchtende Liebe, lachender Tod (Amor luminoso, morte gargalhante, ed. Artemis & Winkler), ela se ocupa da "imagem da mulher em Richard Wagner no espelho de sua música".

No entanto, muitos poderiam criticar a feminista declarada por abusar do método de examinar Wagner à luz do movimento de emancipação da mulher, argumentando que o compositor bávaro encenava em suas obras a própria desigualdade entre os sexos.

A saga continua com a bisneta, KatharinaFoto: picture-alliance/ dpa

Porém, Rieger não entende o suficiente de música para poder provar suas abstrusas afirmações. Culminando com a seguinte: Wagner sempre apresentaria as mulheres como criaturas fracas, reprimidas e vítimas de abuso. Quem conhece as obras de Wagner sabe de uma outra verdade.

Tanto no palco quanto na vida real, são as mulheres a ditar o tom, apoiando, libertando o homem débil, e, por fim, redimindo-o. Pois, para Wagner, os heróis, e mesmo os deuses, são sempre os mais fracos e perdedores – não as mulheres. Ainda assim, é possível se divertir com o livro, lendo-o como um exemplo dos perigos do machismo patriarcal.

O mito do Judeu Errante

C. Schlingensief montou 'O navio' no Amazonas em 2007Foto: picture-alliance/ dpa

O "Holandês Voador", protagonista de O navio fantasma, é um desses homens que se redimem através de uma mulher disposta ao sacrifício. E que, ao sacrificar-se, encontra, ela mesma, a redenção.

Em seu Ahasvers Erlösung (A redenção de Ahasverus, ed. Herbert Utz), Frank Halbach acompanha "o mito do Judeu Errante nos libretos de ópera do século 19". Num longo capítulo, ele analisa com minúcia o modo como Wagner implanta esse mito, não só no Navio fantasma, como no Anel do Nibelungo e, sobretudo, em Parsifal.

Um livro fascinante, que revela conexões históricas e elimina numerosos preconceitos e mal-entendidos.

Parsifal a fundo

Montagem de 'Parsifal' em Bayreuth, 2008Foto: AP

Parsifal é possivelmente a droga mais poderosa que Wagner administrou a seu público. Assim, não é de espantar que as discussões em torno dessa solene "obra de adeus ao mundo" sejam, até hoje, tão controversas.

Em Wagners Parsifal in Bayreuth 1882-1883 (ed. Bärenreiter & Metzler), Stephan Mönsch analisa o Bühnenweihfestspiel (ritual cênico de sagração) com abrangência sem precedentes. Baseado em fontes e documentos de Bayreuth, em grande parte inéditos, esse estudo da gênese da obra é tão ambicioso quanto impressionante.

Um non plus ultra para todos que desejem conhecer a fundo a última ópera de Richard Wagner: sem dúvida, um dos mais significativos exemplares da literatura wagneriana deste ano.

Autor: Dieter David Scholz
Revisão: Rodrigo Rimon

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