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Lobby agrícola apoia redução do consumo de carne na UE

4 de setembro de 2024

Texto encomendado pela Comissão Europeia defende produção mais sustentável de alimentos e nova política de subsídios para setor. Relatório foi elaborado em consulta com representantes do agro e ambientalistas.

Metades de carne suína passam por um dos terminais de inspeção na área de corte de um abatedouro na Baixa Saxônia
Agronegócio europeu reconhece necessidade de diminuir consumo de carne para produção mais sustentávelFoto: Ingo Wagner/dpa/picture alliance

Um relatório encomendado pela Comissão Europeia divulgado nesta quarta-feira (04/09) afirma que a União Europeia precisa reformar sua política agrícola para apoiar os agricultores "que mais precisam", criando indicadores com base na renda para distribuição de subsídios. O documento foi elaborado após consultas com grupos de lobby agrícola e ONGs ambientais.

O texto, desenhado para formular uma resposta aos crescentes protestos de agricultores europeus, também afirma que os estados-membros da UE devem incidir sobre a dieta alimentar da população, de modo a incentivar o consumo de alimentos de origem vegetal, no lugar da carne.

"Para melhorar o equilíbrio sustentável entre a ingestão de proteínas de origem animal e vegetal na população europeia é fundamental apoiar essa tendência, reequilibrando o consumo para opções baseadas em vegetais e ajudando os consumidores a aceitarem a transição", diz o relatório.

O documento também reconhece que os países europeus consomem mais proteína animal do que o recomendado por cientistas para uma alimentação saudável. Argumenta ainda que uma dieta alimentar equilibrada contribui para uma produção de alimentos mais sustentável. Relatório de 2021 já apontava a produção de carne como um dos principais responsáveis pela escalada do desmatamento.

"A escolha sustentável se torna a escolha padrão. Isso é possível graças a ambientes alimentares justos e solidários que incluem rotulagem transparente de alimentos, programas educacionais, marketing responsável, bem como compras públicas de alimentos com foco em dietas balanceadas”, completa o texto.

Novos subsídios para agricultores

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, endossou o texto. "Faremos mais para proteger nossos agricultores e tornar o sistema agroalimentar mais resiliente, mais competitivo, mas, o mais importante, também mais sustentável”, disse von der Leyen.

"Precisamos apoiar uma agricultura que trabalhe para a natureza e com a natureza.”

Os autores do relatório defendem a revisão da Política Agrícola Comum (PAC) da União Europeia, cujo orçamento até 2027 chega aos 387 bilhões de euros (aproximadamente R$ 2,4 trilhões).

As negociações sobre a próxima parcela da PAC para 2028-2034 devem ser um dos assuntos mais sensíveis durante o segundo mandato de von der Leyen na presidência da Comissão. 

Fazendeiros lideraram uma onda de protestos na Europa contra o fim de subsídios ao setorFoto: Nadja Wohlleben/REUTERS

No começo do ano, agricultores impuseram um "cerco" a Paris, além de fechar estradas e ocupar ruas de Berlim e outras capitais europeias com tratores. Um dos focos dos protestos é a discussão sobre melhores subsídios para a agricultura.

"A política atual precisa ser alterada para atender aos desafios atuais e futuros", afirma o relatório, que não é vinculativo. Em vez de calcular os subsídios com base no tamanho das fazendas, o novo sistema deveria se concentrar mais em "fornecer apoio socioeconômico direcionado aos agricultores que mais precisam".

Para ajudar a pagar pela transição para práticas agrícolas mais ecológicas, o relatório propõe a criação de um "Fundo Temporário de Transição Justa” junto com a PAC.

Repercussão

A ONG ambientalista Greenpeace apoiou as mudanças, afirmando que o amplo consenso sobre a necessidade de reformas mostrava "o quanto a política agrícola da UE está desatualizada".

"A UE deve parar de financiar mega-fazendas que poluem nossos rios e provocam secas e inundações e, em vez disso, ajudar os agricultores que estão lutando, mas fazendo um esforço para restaurar a natureza", disse o diretor de política agrícola da UE do Greenpeace, Marco Contiero.

Segundo o jornal britânico The Guardian, porém, os maiores representantes do lobby agrícola em Bruxelas, Copa e Cogeca, pediram ações “rápidas e coerentes" para o agronegócio, com maior “ atenção" para o papel da pecuária neste processo.

gq/ra (reuters, afp, ots)