Longa brasileiro concorre ao Urso de Ouro na Berlinale
Fernanda Azzolini
10 de janeiro de 2017
“Joaquim”, dirigido por Marcelo Gomes, é inspirado na história do líder da Inconfidência Mineira. Brasil está representado com seis produções no Festival de Cinema de Berlim, realizado entre 9 e 19 de fevereiro.
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Depois de duas edições fora da competição principal da Berlinale, o Brasil volta a ter um representante para concorrer ao Urso de Ouro. A organização do evento anunciou nesta terça-feira (10/01) uma lista com 13 filmes que concorrem ao prêmio principal do festival, entre eles, o longa Joaquim, de Marcelo Gomes.
A coprodução luso-brasileira ambientada no século 18 é livremente inspirada na história de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, soldado do Império que se tornou líder da Inconfidência Mineira. Não é a primeira vez que Gomes participa da Berlinale. Em 2014, o diretor pernambucano marcou presença na mostra Panorama com o filme O homem das multidões, dirigido por ele e Cao Guimarães.
Cenas do filme "Joaquim", o representante brasileiro na Berlinale
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Desde a primeira edição do Festival de Cinema de Berlim, em 1951, o Brasil já concorreu 24 vezes ao prêmio principal e foi contemplado duas vezes: em 1998, com Central do Brasil, de Walter Salles, e em 2008, com Tropa de Elite 2, de José Padilha. A última vez que um filme brasileiro concorreu ao Urso de Ouro foi em 2014, com Praia do Futuro, de Karim Ainouz.
Outra produção brasileira na Berlinale é o curta Estás vendo coisas, de Bárbara Wagner e Benjamin de Burca, que está entre os 23 filmes anunciados nesta segunda-feira para concorrer na categoria de curta-metragem. Estás vendo coisas retrata o cenário da música brega do Recife e como se dá a construção de uma nova geração de artistas populares a partir de dois personagens principais – o MC Porck e a cantora Dayana Paixão.
Os outros quatro representantes brasileiros no Festival de Cinema de Berlim deste ano foram anunciados em dezembro de 2016. Vazante, de Daniela Thomas, e Pendular, de Julia Murat, competem na mostra Panorama, a segunda mais importante da Berlinale. As duas Irenes, de Fábio Meira, e A mulher do Pai, de Cristiane Oliveira, estão entre os concorrentes da mostra Generation, dedicada a filmes com protagonistas jovens.
A 67 ª edição da Berlinale terá como presidente do júri o diretor e produtor holandês Paul Verhoeven, que dirigiu filmes como Robocop, o policial do futuro (1987), Instinto Selvagem (1992) e Tropas Estelares (1997). O filme que abrirá o evento será Django, de Etienne Comars.
O longa francês sobre o guitarrista de jazz Djando Reinhardt foca na fuga do músico durante a Segunda Guerra Mundial. Reinhardt foi perseguido pelos nazistas e teve que deixar Paris em 1943, durante a ocupação alemã. A 67ª edição da Berlinale acontece entre 9 e 19 de fevereiro.
DW indica: os 10 melhores filmes de 2016
Enquanto a temporada cinematográfica de 2016 vai chegando ao fim, o especialista da DW Jochen Kürten reuniu seus dez lançamentos preferidos, marcados por forte presença francesa e algumas surpresas alemãs.
Foto: picture alliance/dpa/StudioCanal
Mon roi
Filme romântico da mais alta qualidade, "Meu rei", da diretora francesa Maïwenn, é cinema puro. A história de amor, a montanha-russa de emoções em que Tony (Emmanuelle Bercot) e Giorgio (Vincent Cassel) mergulham, mal deixam ao espectador tempo para respirar. Grandioso cinema de atores, um magnífico melodrama: para mim, o melhor filme de 2016.
Foto: picture alliance/dpa/StudioCanal
La belle saison
Mais uma narrativa amorosa de uma cineasta francesa: em "Um belo verão" Catherine Corsini dirige o olhar para a década de 1970. Aqui, o que fascina é a terna ligação entre a jovem Delphine (Izïa Higelin), vinda da província para a cidade, e a apaixonada Carole (Cécile de France). Amor e história, emoção e razão, com sutileza tipicamente francesa.
Foto: picture-alliance/dpa/Alamode Film
A bigger splash
Refilmagem do clássico homônimo dos anos 60, "A piscina" é melhor do que o original. O diretor siciliano Luca Guadagnino coloca suas quatro personagens contrastantes em rota de colisão na ilha italiana de Pantelleria, entre elas, o improvável casal interpretado por Tilda Swinton e Matthias Schoenaerts. Calor intenso e sentimentos reprimidos, capturados em belíssimas imagens.
Foto: Sandro Kopp
The end
Pena que, depois de estrear na 66ª edição no festival Berlinale, o tratado filosófico-cinematográfico de Guillaume Nicloux "The end" não encontrou o caminho para as salas exibição. O roteirista e diretor francês larga o peso-pesado Gérard Depardieu com seu cão num bosque, enviando-o numa jornada existencial e maratona de atuação que nunca se sabe aonde pode levar. Misterioso, mas também divertido.
Foto: Les films du Worso - LGM Films
Frantz
E mais um francês: François Ozon é considerado um dos mais excitantes diretores do berço do cinema europeu, que a cada novo filme pisa terreno virgem. "Frantz" trata de franceses e alemães, de guerra e paz, com o apoio fundamental dos fantásticos atores Paula Beer e Paul Niney. Visualmente, Ozon evoca a bela fotografia em preto-e-branco de seu compatriota François Truffaut.
Foto: X Verleih
A hologram for the king
Uma bela surpresa Tom Tykwer ter decidido fazer um filme "pequeno", depois do megalomaníaco e um tanto pretensioso "A viagem". "Negócio das Arábias" traz o cineasta alemão novamente em plena forma. E tão pequeno assim o projeto não é, tendo como protagonista o astro americano Tom Hanks, excelente, e locações sensacionais. E humor inteligente também não falta.
Foto: X Verleih
Junges Licht
Mais uma surpresa cinematográfica "made in Germany": "Junges Licht" (literalmente "Jovem luz") chegou às salas de exibição sem passar por grandes festivais. Um terno filme de memórias, abordando uma tocante relação pai e filho, comovente, musical, sonhador. O diretor é Adolf Winkelmann, especialista em histórias da região mineira do Ruhr, numa inesperada guinada estilística aos 70 anos de idade.
Foto: JungesLicht/Weltkino
Paterson
"Paterson" também traz um veterano de volta à velha forma: o ícone do cinema independente americano Jim Jarmusch, após algumas produções um tanto artificiais e estéreis. "Paterson" conta delicadamente a história do motorista de ônibus e poeta, interpretado por Adam Driver, cuja linda esposa (Golshifteh Farahani) o espera todos os dias em casa: felicidade de vida tornada poesia imagética.
Foto: Mary Cybulski
The revenant
Cercado de grande expectativa ao estrear no início do ano, "O regresso" quase caiu no esquecimento. Mas é um dos filmes grandiosos de 2016, em que o mago mexicano do cinema Alejandro González Iñárritu encena de modo empolgante uma trama brutal e impiedosa. E apesar de toda a aura de superstar, Leonardo DiCaprio se confirma como magnífico ator, inesquecível na cena da luta contra o urso.
Foto: picture alliance/Zuma Press/Twentieth Century Fox
Toni Erdmann
E não se pode esquecer a grande surpresa cinematográfica alemã do ano: depois de ser ignorado pelo júri do Festival de Cannes, "Toni Erdmann" tem colecionado prêmios, e ainda tem chances de um Golden Globe ou Oscar. Tanto alvoroço assim faz quase esquecer como é anticonvencional esse filme da ainda novata Maren Ade, cheio de humor e ironia. Uma verdadeira sensação!