Filme da diretora brasileira Anna Muylaert recebe duas premiações independentes no festival internacional Berlinale. Drama familiar retrata vida de uma babá que trabalha para família rica em São Paulo.
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O filme brasileiro Que horas ela volta?, da diretora Anna Muylaert, recebeu o prêmio Panorama de melhor longa-metragem de ficção, uma das premiações independentes da 65ª edição do festival internacional de cinema Berlinale. Este ano, 52 filmes de 38 países concorriam ao Panorama, cujo vencedor é escolhido pelo público.
A obra é um drama familiar, que mostra como uma babá, representada por Regina Casé, que trabalha para uma família rica de São Paulo, vê sua vida se transformar quando a filha (Camila Márdila) decide se mudar para a cidade.
A diretora explica que o filme trata, na verdade, de uma questão social. "No Brasil, a maioria das pessoas de classe média e alta tem babás. O trabalho materno de cuidar da criança é, na maioria das vezes, menosprezado".
Muylaert explicou que a inspiração para o filme surgiu quando ela teve seu primeiro filho. "Havia a idéia de talvez contratar uma baba, mas eu recusei. Eu mesma queria criá-lo, porque considerava a maternidade, a oportunidade de cuidar de uma criança, um trabalho sagrado. Percebi que no meu país, esse era considerado um trabalho de segunda classe."
"Educação começa na relação mãe e filho"
"Eu sempre fui muito revoltada com essa questão", contou a diretora. "A verdade é que, quem teve uma babá no Brasil sabe que a essa 'segunda mãe', em geral, é muito mais afetiva do que a primeira."
Ela explica que a educação é um tema central da obra. "Tudo no filme fala disso: desde a educação formal, da faculdade, à educação da mãe, o afeto. Num país onde a população não tem acesso a educação, não se conquista o direito à cidadania", observou. "E eu acho que a educação começa na relação mãe e filho."
Antes de chegar à Berlinale, o filme havia recebido uma premiação importante no conceituado Festival de Sundance, nos Estados Unidos, onde as atrizes protagonistas dividiram o prêmio especial de interpretação da mostra World Cinema.
Além do Panorama, o filme Que horas ela volta?recebeu, também na Berlinale, o prêmio da Confederação Internacional de Cinema de Arte e Ensaio (CICAE).
Filmes brasileiros na Berlinale 2015
Apesar de estar fora da competitiva, o Brasil está representado em outras mostras do festival de cinema em Berlim. "Sangue Azul" e "Ausência", estrelados por Daniel de Oliveira e Regina Casé, são destaques.
Foto: Frederico Benvenides
Sangue Azul
Estrelado por Daniel de Oliveira, o filme de Lírio Ferreira abre a mostra Panorama, a segunda mais importante da Berlinale. Com um ilusionista e um homem-bala como personagens, o longa lança um olhar poético sobre a colisão de dois microcosmos, mostrando que o mundo que escolhemos longe de casa pode não ser tão distante quanto imaginamos.
Foto: Berlinale 2015
Ausência
Qual a importância de um pai na vida de um filho? Qual é o peso do abandono da figura paterna sobre toda uma família? "Ausência", de Chico Teixeira, é centrado em Serginho, um menino de 15 anos que tenta lidar com as mudanças trazidas pela vida. Mas a transição entre a infância e a idade adulta não é fácil, ainda mais quando os caminhos parecem incertos e nebulosos.
Foto: Berlinale 2015
Que horas ela volta?
A diretora Anna Muylaert sempre mostrou um olhar apurado para comédias de humor negro. No entanto, "Que horas ela volta?" se aproxima mais do drama familiar. Val (Regina Casé), empregada de uma família rica em São Paulo, vê sua vida virar de cabeça para baixo quando a filha (Camila Márdila) decide se mudar para a cidade.
Na Berlinale de 1998, Walter Salles e Jia Zhang-ke descobriram uma visão parecida sobre seus ofícios e sobre a maneira como apontam suas lentes para o mundo. Neste documentário, o brasileiro acompanha o colega chinês numa visita a locações de seus filmes e ao lugar onde ele cresceu.
Foto: Berlinale 2015
Beira-Mar
A estreia na direção dos jovens gaúchos Filipe Matzembacher e Marcio Reolon mostra dois melhores amigos lidando com os primeiro passos da vida adulta. Eles partem para uma viagem aparentemente banal, mas que acaba revelando mais do que os dois estão acostumados a compartilhar na vida cotidiana.
Foto: Berlinale 2015
Brasil S/A
Da vulgaridade às belezas, naturais e artificiais, o primeiro longa de Marcelo Pedroso reforça a boa safra de filmes de Pernambuco. "Brasil S/A" é uma parábola alegórica de um país cheio de progresso, mas que ainda corre atrás da ordem e, ao mesmo tempo, molda a própria identidade.
Foto: Berlinale 2015
Mar de Fogo
O diretor Joel Pizzini faz uma homenagem ao clássico do cinema brasileiro "Limite" e ao seu criador, Mario Peixoto. Usando imagens do filme e entrevistas feitas com Peixoto nos anos 1970 e 1980, Pizzini constrói um pequeno filme-ensaio e um curta-metragem arrebatador.
Foto: Berlinale 2015
Fuga dos meus olhos
Após o diálogo imaginário entre Brasil e Portugal, apresentado na Berlinale do ano passado no curta "Fernando que ganhou um pássaro do mar", Felipe Bragança continua trabalhando nas linhas tênues do cinema, misturando poesia com ficção e realidade. Seu novo filme gira em torno de fábulas oriundas de três países africanos – Mali, Gana e Burkina Faso.
Foto: Felipe Bragança
Além das telas
A Forum Expanded mostra outra forma de ver o cinema. Além de filmes, a mostra traz a exposição "Doors Open", em que performances e instalações – incluindo "Viventes" e "Je proclame la destruição", dos brasileiros Frederico Benevides e Arthur Tuoto – questionam o cinema como uma forma de arte mutante.
Foto: Frederico Benvenides
Olhar indígena
A mostra NATIVe se dedica neste ano às comunidades indígenas na América Latina e a sua difícil sobrevivência. O Brasil marca presença com os documentários "O Mestre e o divino", de Tiago Campos Tôrres, "As hiper mulheres", de Carlos Fausto, Leonardo Sette e Takumã Kuikuro, e "Ma ê dami xina", de Zezinho Yube.