Cidade californiana tornou-se epicentro de manifestações contra a perseguição de imigrantes sem documentação regularizada pelo governo Trump. Para especialista, tal mobilização é uma novidade.
Maioria dos imigrantes irregulares de Los Angeles é de origem latino-americanaFoto: Ethan Swope/AP/picture alliance
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Desde 6 de junho de 2025, uma sociedade civil indignada protesta pelas ruas de Los Angeles contra a política migratória do governo de Donald Trump. As manifestações, descritas até agora como majoritariamente pacíficas, vieram em reação a uma onda de batidas em massa do Serviço de Imigração e Alfândega (ICE) dos Estados Unidos contra imigrantes indocumentados.
Dos 13,7 milhões de moradores locais nessa situação, 11,6 milhões, ou 84%, provêm da América Latina, explica Ariel Ruiz Soto, analista político chefe do Instituto Política Migratória (MPI): "A Califórnia é o estado com a maior população de indocumentados, quase 1 milhão deles residem na área metropolitana de Los Angeles."
Como ressalta o professor de sociologia Ernesto Castañeda, diretor do Centro de Estudos Latino-Americanos e Latinos (CLALS) da American University de Washington, esses cidadãos residem há décadas na área e têm filhos, netos e bisnetos nascidos no país.
"Um em cada cinco habitantes é indocumentado ou tem um familiar que é. Além disso, 35,4% da cidade nasceu no estrangeiro, e muitos deles são solidários e entendem que, se a gente não tem papéis de permanência, não é porque não queira, mas porque não tem acesso aos processos para obtê-los."
Por sua vez, Maureen Meyer, vice-presidente para programas da Agência de Washington para Assuntos Latino-Americanos (WOLA), lembra que mais da metade dessa população vem do México e já mora há pelo menos 15 anos nos EUA. Ela acrescenta que entre a comunidade dos sem-documentos de Los Angeles reina "medo e incerteza".
Manifestantes se confrontam com polícia e Guarda NacionalFoto: David Ryder/REUTERS
Cooptando militares para políticas supremacistas
Meyer relata que, sob a atual presidência, o ICE está dando batidas em lugares antes considerados "seguros", como tribunais, escolas e hospitais. Muitas operações se realizaram em locais de trabalho, como fábricas de roupas ou restaurantes, ou zonas aonde diaristas vão, esperando ser contratados para a agricultura ou construção.
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"A gente sente que ninguém que não esteja documentado está seguro no país", acrescenta a especialista em direitos humanos: mas para muitos não há alternativa senão continuar buscando trabalho informal, apesar dos riscos. "Por outro lado, justamente devido a sua história como zona migratória, há em Los Angeles muitas organizações apoiando a população indocumentada."
Embora detenções e deportações não sejam novidade na Califórnia, as atuais táticas e visibilidade "mudaram drasticamente o panorama para os indocumentados", explica Ariel Ruiz, do MPI e "a participação de agentes federais e unidades militares endureceu mais as confrontações entre os imigrantes e o ICE".
Com intento de sufocar os protestos antigovernamentais, Washington ordenou o envio de 700 "marines" e 4 mil membros da Guarda Nacional para a segunda maior cidade dos EUA, à revelia do governador da Califórnia, Gavin Newsom. Castañeda, do CLALS, explica:
"Por enquanto, a força armada e os navais não participaram de nenhuma batida, nem é essa a meta: eles estão resguardando os edifícios federais de Los Angeles para onde o ICE levou os imigrantes detidos – a maioria do quais não teve permissão para ver familiares ou falar com um advogado." Ainda assim, em alguns casos as operações tiveram apoio de "pessoal que trabalha para o FBI, a [Administração de Repressão às Drogas] DEA, o Departamento para Álcool, Tabaco, Armas de Fogo e Explosivos, entre outros".
Meyer frisa que "a mobilização maciça de agentes federais militares para enfrentar os protestos é algo inédito no país": "É um dos muitos esforços de Trump para destacar militares para tarefas migratórias, sobretudo na zona fronteiriça, e expandir seu uso para além das tarefas tradicionais."
Castañeda considera "uma novidade" que "os cidadãos de Los Angeles, a maioria da população, esteja se opondo pública e visivelmente contra essas batidas e as políticas federais, que não consideram um tema de segurança pública, mas sim um programa para aterrorizar minorias, e um projeto supremacista".
O mês de junho em imagens
Reveja alguns dos principais acontecimentos do mês
Foto: Leo Correa/AP/picture alliance
Agência para refugiados da ONU demitirá 3,5 mil funcionários
O Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (Acnur) anunciou que cortará 3,5 mil empregos – quase um terço de seus custos com a força de trabalho – devido à escassez de recursos, e reduzirá a escala de sua ajuda em todo o mundo após uma queda no financiamento à ajuda humanitária, principalmente dos recursos vindos dos EUA sob Donald Trump. (16/06)
Foto: Florian Gaertner/IMAGO
Milhares protestam nos EUA contra Trump
Uma multidão tomou as ruas de 2 mil cidades americanas em oposição à gestão de Donald Trump, acusado de autoritário pelos manifestantes. O envio de forças federais para reprimir protestos em Los Angeles na última semana e a convocação de um desfile militar que acontece neste sábado em Washington também pautaram as críticas nos atos apelidados de "No Kings" (Sem Reis). (14/04)
Foto: Yuki Iwamura/AP/dpa/picture alliance
Israel e Irã trocam agressões em escalada militar
Israel lançou um ataque contra instalações nucleares do Irã, matando 78 pessoas, incluindo três dos chefes militares do país e dezenas de civis. A ofensiva desencadeou uma troca de agressões sem precendentes entre os países. Em retaliação, a República Islâmica disparou dezenas de mísseis contra Tel Aviv e Jerusalém, furando o Domo de Ferro israelense e ferindo 34 pessoas. (13/06)
Foto: Leo Correa/AP/picture alliance
Queda de avião na Índia deixa mais de 200 mortos
Um avião da Air India com 242 pessoas a bordo caiu em uma área residencial logo após decolar perto do aeroporto de Ahmedabad, no oeste da Índia. Apenas um dos passageiros a bordo sobreviveu. A polícia indiana contabiliza ainda outras 24 vítimas que estavam no solo e morreram no momento do acidente. A causa do acidente está sendo investigada (12/06)
Foto: Ajit Solanki/AP Photo/picture alliance
Ajuda humanitária em Gaza na mira de militares israelenses
Pelo menos 21 palestinos morreram enquanto se dirigiam a locais de distribuição de ajuda humanitária em Gaza. Entidades denunciam, além da violência, quantidade insuficiente de alimentos, após meses de bloqueio à entrada de itens básicos por Israel. O exército israelense alegou que disparou "tiros de advertência". O número de palestinos mortos em 20 meses de guerra já supera 55 mil. (11/06)
Foto: Saeed Jaras/Middle East Images/AFP/Getty Images
Réu no STF, Bolsonaro é interrogado em processo da trama golpista
Ao longo de dois dias, ex-presidente e outros sete ex-auxiliares acusados de integrar "núcleo crucial" da trama golpista depuseram na Primeira Turma. Político negou ter discutido planos de golpe após perder a eleição e disse que só debateu medidas constitucionais com militares, mas que não editou "minuta do golpe". (10/06)
Foto: Fellipe Sampaio/STF
Israel detém barco que levava Greta Thunberg e o brasileiro Thiago Ávila
A Marinha de Israel interceptou um barco que tentava levar ajuda humanitária a Gaza. O veleiro Madleen, da iniciativa internacional Flotilha da Liberdade, levava 12 ativistas a bordo. Eles foram escoltados até um porto e, segundo o governo israelense, serão deportados. (09/06)
Trump chama militares para reprimir protestos na Califórnia contra prisão de imigrantes
O presidente americano Donald Trump enviou militares da Guarda Nacional a Los Angeles para conter protestos que eclodiram na esteira de uma série de operações de detenção de supostos migrantes irregulares. A medida não tem apoio do governo do estado da Califórnia, que acusou Trump de tentar provocar uma crise. (08/06)
Foto: Frederic J. Brown/AFP
Rússia amplia ataques contra 2ª maior cidade da Ucrânia
A Rússia executou diversos ataques no centro de Kharkiv, segunda maior cidade da Ucrânia, deixando cinco civis mortos e mais de 61 feridos, incluindo um bebê e uma adolescente de 14 anos. Bombas planadoras, um míssil e 53 drones atingiram prédios residenciais. O prefeito do município classificou a ação como o ataque mais severo desde o início da guerra. (07/06)
Foto: Sofiia Gatilova/REUTERS
Marcelo livre
Um juiz americano determinou a libertação do estudante brasileiro Marcelo Gomes da Silva, de 18 anos, que chegou aos Estados Unidos com cinco anos de idade e foi detido pelo Serviço de Imigração (ICE) a caminho de um treino de vôlei. Ele ficou preso por cinco dias, durante os quais dormiu em chão de concreto, sem acesso a chuveiro, acompanhado de homens com o dobro da sua idade. (06/06)
Foto: Rodrique Ngowi/AP
Musk e Trump trocam insultos e rompem relações
Bilionário que atuou como conselheiro da Casa Branca criticou projeto de lei de Orçamento de Trump que prevê cortes de impostos e aumento de gastos batizado pelo presidente como "Big Beautiful Bill". Musk chegou a endossar impeachment de Trump e associou presidente ao pedófilo Jeffrey Epstein. Trump reagiu dizendo que Musk "enlouqueceu" e ameaçou cortar contratos da SpaceX com governo. (05/06)
Foto: Nathan Howard/REUTERS
Moraes ordena prisão de Carla Zambelli após deputada deixar o país
O ministro do STF acatou pedido da PGR de prisão preventiva contra a deputada federal e determinou a inclusão dela na lista de procurados da Interpol. Moraes determinou bloqueio de salários, bens, contas bancárias e perfis em redes sociais. Parlamentar deixou o país após ser condenada a 10 anos de prisão e à perda de mandato por envolvimento na invasão do CNJ. (04/06)
Foto: Adriano Machado/REUTERS
Governo da Holanda desmorona após saída de ultradireitista
Alegando insatisfação com a política migratória, Gert Wilders – também conhecido como "Trump holandês" – e seu partido deixaram coalizão de governo, levando primeiro-ministro Dick Schoof (foto) à renúncia após menos de um ano de mandato. Sem maioria no parlamento, Schoof permanecerá interinamente no cargo até a realização de novas eleições e formação de um novo gabinete. (03/06)
Foto: Peter Dejong/AP/picture alliance
Conservador Karol Nawrocki vence eleição presidencial na Polônia
Resultado é derrota para o governo do primeiro-ministro Donald Tusk e deve dificultar andamento de políticas pró-União Europeia. Apoiado pelo partido ultraconservador Lei e Justiça (PiS), Nawrocki poderá vetar leis e desgastar o governo com bloqueios no Parlamento. Aliança frágil de Tusk pode não resistir até 2027. (02/06)
Foto: Czarek Sokolowski/AP/dpa/picture alliance
Ucrânia destrói aviões de guerra da Rússia em ataque massivo de drones
Na véspera de uma nova rodada de negociações de paz, Ucrânia e Rússia intensificaram sua ofensiva militar e protagonizaram ataques sem precedentes. Enquanto, Kiev destruiu 41 aviões militares na Sibéria, ofensiva de maior alcance no território russo em três anos de guerra, Moscou lançou número recorde de drones contra território ucraniano. (1º/06)