"Loucos por Jesus" misturam Bíblia com rock pesado
21 de março de 2005"Erguei as mãos e dai glória a Deus..." Se a música do padre Marcelo Rossi, sucesso absoluto no Carnaval brasileiro em 2000, parecia ser o máximo que uma igreja – católica, protestante ou evangélica – faria para se popularizar a fim de atrair novos fiéis, o grupo ecumênico Jesus Freaks (em tradução aproximada: "loucos por Jesus"), criado na Alemanha, leva o conceito "falar a língua dos fiéis" vários passos adiante.
Entre os Jesus Freaks, quase tudo é permitido. Os grupos se encontram em bares recém-desativados e, enquanto discutem os desígnios de Deus, andam sem rumo pelas cidades, dançam ao som de rock pesado e visitam concertos em casas noturnas para conhecer novas bandas punk (que tocam músicas ecumênicas, é claro). Até beber cerveja é uma prática permitida entre os freaks.
Conservadorismo, em nome de Jesus
Moderníssimo, certo? Bem, nem tanto. Se você pretende ser um "louco por Jesus", é melhor adequar alguns conceitos: drogas não são permitidas, sexo antes do casamento é pecado e homossexualidade é doença. Na Alemanha, os Jesus Freaks são um grupo barulhento, mas ainda pequeno: cerca de 2500 jovens de cabelos coloridos, roupas rasgadas e comportamento bizarro, que andam com a Bíblia debaixo do braço.
"O que importa para os Jesus Freaks são as fantásticas verdades ditas por Jesus, e não as cruzadas, caça às bruxas, rituais monótonos e todo o comportamento pseudo-religioso", prega, logo na página inicial, o website www.jesusfreaks.com. Por enquanto, a página está disponível apenas em alemão, mas os líderes do grupo prometem também disponibilizar em breve conteúdos em inglês, espanhol, francês e italiano.
Tobi Kaiser, 31 anos, é um jovem alemão que decidiu se tornar "louco por Jesus". Freak convicto, promoveu-se a pregador dos jovens de Colônia. Para Kaiser, as igrejas tradicionais perderam o contato com os jovens. "Nós falamos a mesma língua, ouvimos as músicas preferidas dos nossos fiéis e oferecemos uma atmosfera confortável, como uma sala de estar, para quem quer se juntar aos Jesus Freaks", explica.
Entre intelectuais e roqueiros
O diretor do Arquivo da Juventude de Berlim, Klaus Farin, que escreveu um livro sobre a trajetória dos Jesus Freaks, afirma que o grupo preenche um vácuo deixado pelas igrejas comuns. "Com eventos barulhentos, eles se tornaram substancialmente mais eficazes que os grupos de jovens das religiões tradicionais", diz.
Pouco a pouco, o movimento freak também conquista personalidades que, após um tempo "na escuridão", encontraram "a luz". O guitarrista Brian "Head" Welch, da banda heavy metal Korn, deixou os tempos de pecado para trás para "aceitar Jesus como seu salvador", segundo notícia divulgada no website do movimento.
Os "loucos por Jesus", porém, não se concentram apenas na juventude trash/hardcore. Por isso, além de concertos de rock pauleira com letras de louvor, o movimento freak também promove tranqüilas celebrações batismais às margens de rios na Alemanha. A flexibilidade dos Jesus Freaks ganhou o reconhecimento de líderes da Igreja Evangélica Luterana alemã, que defende a adaptação dos conteúdos da Bíblia para diferentes grupos de fiéis.
A concorrência e a potencial perda de seguidores para o movimento freak não é uma preocupação entre os líderes evangélicos, de acordo com Reinhard Hempelmann, representante da Central Evangélica de Questões Filosóficas. Segundo ele, o comprometimento dos freaks com a fé cristã é "digna de apreciação".
Da mesma forma, o freak Tobi Kaiser diz não se importar se algumas pessoas deixarem de ser "loucos" para se tornarem "cidadãos comuns" – contanto que elas continuem "seguindo Jesus". "O importante é ir à igreja", sentencia.