Confirmação do favoritismo de Bolsonaro no primeiro turno faz Bolsa operar em forte alta e dólar cair. Para economista, quem for eleito à Presidência terá alguns meses para demonstrar capacidade de avançar com reformas.
Anúncio
A confirmação do favoritismo de Jair Bolsonaro (PSL) no primeiro turno das eleições fez a Bolsa de Valores operar em forte alta, subindo mais de 4%, e o dólar cair mais de 2% nesta segunda-feira (08/10), para R$ 3,76.
Para o economista Silvio Campos, da Tendências Consultoria, a eventual vitória do ex-capitão agrada ao mercado devido à perspectiva da continuidade de uma agenda reformista, com foco no ajuste fiscal e possibilidade de avanço das privatizações e reformas.
"Os mercados irão naturalmente refletir também, claro, se houver alguma mudança apontada por pesquisas eleitorais que indiquem uma virada em prol do [candidato do PT, Fernando] Haddad", frisou Campos. "É bastante claro que o primeiro temor do mercado é a volta do PT."
Na visão do economista, ambos os programas econômicos propostos pelos candidatos – o liberalismo sem dar suporte à agenda social de Bolsonaro e a agenda de retomada bastante intervencionista e desenvolvimentista de Haddad – teriam que ser ajustados, e a lua de mel com o mercado não deve ser eterna.
DW:A Bolsa disparou após o resultado do primeiro turno, e o dólar caiu. Antes, o mercado considerava que a vitória de Bolsonaro oferecia mais riscos à agenda econômica, e agora, não mais. O que mudou?
Silvio Campos: A melhora mostra a visão do mercado de que uma eventual vitória de Bolsonaro abre a perspectiva de uma continuidade de pelo menos algo próximo do que tivemos nesses últimos dois anos: uma agenda reformista, com ortodoxia na condução da parte macroeconômica, com foco no ajuste fiscal e com a possibilidade de avanço nas privatizações e reformas. Claro que é uma agenda de muitos riscos em vários aspectos: a questão da governabilidade e de que tudo isso está baseado na permanência de um assessor econômico [Paulo Guedes]. O outro lado [Haddad] apresenta um cenário de fácil antecipação porque é uma agenda econômica já conhecida: mais desenvolvimentista, com menor foco no equilíbrio econômico, com baixa probabilidade de avanço de privatizações e reformas. Então, o mercado precifica de forma pior o cenário de volta do PT à Presidência.
Essa lua de mel atual do mercado com Bolsonaro deverá continuar nos próximos dias?
É bem possível que esse cenário continue ao longo do mês de outubro. Os mercados irão naturalmente refletir também, claro, se houver alguma mudança apontada por pesquisas eleitorais que indiquem alguma virada em prol de Haddad. Caso contrário, continua esse cenário de uma precificação mais positiva de ativos. Depois das eleições, confirmado o resultado, os mercados vão querer saber naturalmente o que virá de concreto em termos de medidas, capacidade de aprovar reformas e, assim, o tempo de lua de mel não será tão longo. Serão alguns meses para que o novo governo realmente dê uma demonstração mais consistente e firme da capacidade de avançar com a agenda necessária.
O mercado apostava em Geraldo Alckmin (PSDB) para ir ao segundo turno...
Se o Geraldo Alckmin fosse para o segundo turno no lugar de Bolsonaro, não há dúvida de que a situação do mercado seria totalmente diferente: a Bolsa estaria muito acima do que está no primeiro dia útil depois do primeiro turno, e o dólar, com valor mais baixo. Na verdade, o que mudou foi o nome do antipetista. É bastante claro que o principal temor do mercado é a volta do PT. Já a segunda preocupação é quem será o concorrente. Bastou pelo menos ter a indicação de que o grupo político [de Bolsonaro] permitirá uma linha econômica mais próxima da mantida pelo governo Michel Temer, isso já foi suficiente pelo menos para dar uma acalmada nos ânimos. Quem vencer as eleições terá um tempo de lua de mel com o mercado que não vai ser eterno. O novo governo terá um período de alguns meses para encaminhar essa agenda econômica e conseguir aprovar principalmente a reforma da Previdência. Se não conseguir, o mercado naturalmente irá piorar.
Como você avalia a polarização entre Bolsonaro e Haddad? O segundo turno será a eleição do candidato com a menor rejeição?
Sim. São dois lados bastante polarizados e com níveis de rejeição bastante elevados. A questão ao longo dessas três semanas é verificar como os candidatos vão apontar os defeitos dos outro e vender isso para a população. Será eleito o candidato que assustar menos. De um lado está a volta do PT, que tem em seu histórico tanto a gestão econômica mais recente quanto problemas com a Lava Jato. Do outro, está Bolsonaro, que é uma incógnita completa e que também gera algumas preocupações em parte da sociedade. Então, no fundo, o menos rejeitado vai acabar sendo o vencedor.
As propostas econômicas dos dois candidatos parecem ser controversas. Bolsonaro se apresenta como liberal e, Haddad, intervencionista. Os dois modelos são viáveis? Por quê?
Nas condições atuais da economia brasileira, nenhum dos dois programas conseguiriam ser levados adiante de uma forma extrema. De um lado, é inviável apenas o liberalismo sem dar suporte à agenda social. Isso porque há questões constitucionais e programas consolidados junto à população que o novo governo não reverteria. Do outro lado, se implementarem uma agenda de retomada bastante intervencionista e desenvolvimentista com o uso do Tesouro para forçar o crescimento econômico, o país iria para uma insolvência rápida, e os mercados iriam antecipar isso de forma imediata. Como consequência, o governo não conseguiria sequer avançar, dado os estragos que isso causaria na economia por causa da reação do mercado. Esses dois modelos terão que caminhar um pouco numa direção diferente.
----------------
A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas. Siga-nos noFacebook | Twitter | YouTube | WhatsApp |
Treze candidatos se apresentaram para disputar o Planalto. O líder das pesquisas acabou fora da corrida, e vários nomes tentam contornar isolamento partidário. Veja os principais episódios da disputa.
Foto: Reuters/A. Machado
Bolsonaro é eleito presidente
Em segundo turno, os brasileiros elegeram Jair Bolsonaro (PSL) como presidente. Após uma campanha eleitoral polarizada, o militar reformado de extrema direita recebeu 55,13% dos votos, contra 44,87% de Fernando Haddad (PT). Com bandeiras do Brasil e vestidos nas cores verde e amarelo, eleitores comemoram pelo país. No discurso da vitória, Bolsonaro prometeu um governo constitucional e democrático.
Foto: picture-alliance/AP Photo/S.Izquierdo
TSE abre investigação contra Bolsonaro
A pouco mais de uma semana do segundo turno, o Tribunal Superior Eleitoral abriu uma ação para investigar suspeitas de compra de disparos de mensagens antipetistas no WhatsApp por parte de empresários aliados a Bolsonaro. O pedido de investigação foi feito pelo PT, após uma reportagem do jornal "Folha de S. Paulo". A PF também abriu inquérito para investigar a disseminação em massa de "fake news".
Foto: Reuters/R. Moraes
Bolsonaro e Haddad vão ao segundo turno
Numa das eleições mais polarizadas da história, em 7 de outubro os brasileiros levaram ao segundo turno os dois candidatos que, segundo sondagens, são também os mais rejeitados: Bolsonaro (PSL) e Haddad (PT). Favorito no Sul e Sudeste, o ex-militar teve 46% dos votos válidos contra 29% do petista, que foi o mais votado em oito estados do Nordeste e no Pará. Em terceiro, Ciro Gomes (PDT) teve 12%.
Foto: Reuters/P. Whitaker/N. Doce
Bolsonaro cresce nas pesquisas
Já líder nas pesquisas, o candidato do PSL ampliou sua vantagem no início de outubro, ultrapassando pela primeira vez a marca de 30% em sondagens do Ibope e do Datafolha. Ao longo da semana que antecedeu as eleições, o ex-capitão foi subindo e, na véspera do pleito, cruzou a barreira de 40% dos votos válidos. Após ser esfaqueado, a campanha do candidato se concentrou nas redes sociais.
Foto: Reuters/P. Whitaker
A troca de Lula por Haddad
Após meses de suspense e com aval de Lula, Fernando Haddad foi oficializado candidato à Presidência pelo PT em 11 de setembro, a menos de um mês do primeiro turno, após se esgotarem as chances de o ex-presidente concorrer. Preso e virtualmente inelegível pela Ficha Limpa, Lula era líder nas pesquisas de intenção de voto. O desafio agora será transferir votos para o ex-prefeito.
Foto: Agencia Brasil/R. Rosa
Ataque a Bolsonaro
O candidato do PSL foi esfaqueado durante um ato de campanha em Juiz de Fora, um ataque que prometia mudar os rumos da corrida presidencial. Seus adversários condenaram a agressão, e alguns chegaram a mudar o tom da campanha. Não houve, contudo, um impacto decisivo sobre o eleitorado. Ele segue líder das intenções, mas com percentual praticamente igual. A rejeição a ele, por outro lado, aumentou.
Foto: picture-alliance/dpa/Agencia O Globo/A. Scorza
O "plano B" do PT
Com Lula virtualmente inelegível, a escolha do seu vice passou a ser encarada como um trampolim para um candidato substituto. No início de agosto, o PT acabou indicando Fernando Haddad, que desde o início do ano era cotado como "plano B". Manuela D'Ávila (PCdoB) ficou com a curiosa posição não oficial de "vice do vice", assumindo a posição com Lula candidato ou não.
Foto: Agência Brasil/F.Rodrigues Pozzebom
A novela dos vices
A fase de convenções começou no fim de julho sem que a maioria dos pré-candidatos tivesse um vice. Bolsonaro teve três convites recusados até fechar com o general Mourão (PRTB). Henrique Meirelles (MDB) e Ciro Gomes (PDT) se contentaram com nomes do próprio partido. Alckmin teve convite recusado pelo empresário Josué Alencar, cuja família é ligada a Lula, antes de optar por Ana Amélia (PR).
Foto: Agência Brasil/F.Frazão
Os candidatos isolados
A jogada de Alckmin com o "centrão" acabou isolando outros candidatos. Jair Bolsonaro (PSL) tentou negociar com o PR, mas teve que se contentar com o nanico PRTB. Ciro Gomes (PDT) também viu suas investidas no grupo naufragarem. Marina Silva (Rede) e Ciro também não conseguiram apoio do PSB, que ficou neutro numa manobra do PT. Os três terminaram a fase de convenções com pouco apoio e tempo de TV.
Alckmin fecha com o "centrão"
Em julho, o tucano Geraldo Alckmin ainda patinava nas pesquisas, mas criou um fato novo na campanha ao conseguir o apoio do "centrão", as siglas que costumam emprestar seu apoio a governos em troca de cargos e verbas. Ao se aliar com PR, PP, PSD, DEM e SD, Alckmin passou a dominar 44% da propaganda eleitoral na TV. Sua coligação também recebe 48% do novo fundo de campanhas.
Foto: Getty Images/AFP/E. Sa
Candidaturas descartadas
A eleição de 2018 parecia destinada a superar o número de candidatos de 1989, quando 22 disputaram. Em abril, 23 manifestavam interesse em concorrer, entre eles o presidente Michel Temer, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e o ex-presidente Fernando Collor. Mas eles logo desistiram ou foram abandonados por seus partidos. Outros aceitaram ser vices. Em agosto, só 13 permaneciam na corrida.
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Os "outsiders" saem de cena
A possibilidade de Lula ficar de fora e o sentimento antipolítico entre a população sinalizavam que esta seria a eleição dos "outsiders". O ex-ministro do Supremo Joaquim Barbosa e o apresentador Luciano Huck chegaram a ser incluídos em pesquisas. O empresário Flávio Rocha anunciou candidatura. Em julho, todos já haviam desistido, e a disputa ficou restrita a velhos nomes da política.
Foto: Imago/ZUMA Press/M. Chello
Lula é condenado e preso
Quando anunciou, em 2016, a intenção de disputar a eleição, Lula se tornou o líder nas pesquisas. Em janeiro, porém, sua situação se complicou após uma condenação em segunda instância que o deixou virtualmente inelegível. Em abril, foi preso. Com a possibilidade de a candidatura ser barrada, o PT passou a ter dificuldades em formar alianças, e o desfecho do pleito ficou ainda mais imprevisível.
Foto: Reuters/L. Benassatto
Entra em cena o fundo de campanhas
Diante da proibição das doações por empresas, o Congresso criou em outubro de 2017 um novo fundo de R$ 1,7 bilhão para financiar candidaturas, já definindo a capacidade financeira de várias campanhas. Quase 60% do valor ficou concentrado em seis legendas: MDB, PT, PSDB, PP, PSB e PR, deixando candidatos à Presidência de pequenas e médias siglas com menos recursos na largada.