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Lufthansa elimina "senhoras e senhores" de saudações

Ashutosh Pandey
13 de julho de 2021

Companhia aérea alemã decide adotar linguagem mais neutra em termos de gênero e instrui funcionários com lista de alternativas para garantir que nenhum passageiro se sinta excluído.

Funcionários da companhia aérea alemã Lufthansa em frente a um avião da empresa.
A partir de agora, tripulações da Lufthansa deverão usar linguagem neutra para receber viajantes a bordoFoto: Henning Kaiser/dpa/picture alliance

"Sehr geehrte Damen und Herren, herzlich willkommen an Bord" e sua tradução em português "Senhoras e senhores passageiros, bem-vindos a bordo" logo serão coisas do passado nos voos da Lufthansa.

A companhia aérea alemã planeja usar em seus voos uma linguagem neutra em relação ao gênero. A mudança se aplicaria a todas as companhias aéreas operadas pelo grupo, incluindo Austrian Airlines, Swiss Air e Eurowings.

Diversidade não é apenas uma frase vazia, mas é uma realidade para a Lufthansa, disse à DW Anja Stenger, porta-voz da empresa. "A partir de agora, queremos expressar essa atitude também em nossa linguagem", acrescentou.

Para se dirigir aos passageiros, as tripulações da Lufthansa deverão usar frases e termos de gênero neutro, como "viajantes", "bom dia/boa noite" ou simplesmente "boas-vindas a bordo". A decisão de como fazê-lo, em última instância, caberá à tripulação, que foi informada da mudança em maio. A nova regra entra em vigor imediatamente.

"Esta medida opera em um nível simbólico. Ela pode ser considerada como um passo 'sensível ao gênero', através do qual o binário de gênero é questionado", disse à DW Alexandra Scheele, especialista em sociologia e economia na Universidade de Bielefeld. "Pessoas que se identificam além de masculino e feminino, bem como todos que estão questionando os sistemas binários, podem ser melhor tratadas sem usar a frase 'senhoras e senhores'."

O que é uma linguagem de gênero neutro?

A mudança na Lufthansa ocorre à medida que mais e mais corporações e organizações priorizam a inclusão de gênero para combater os estereótipos em torno do tema – especialmente aqueles voltados para a comunidade LGBTQ – enquanto lutam pela igualdade neste campo.

Várias organizações, entre elas as Nações Unidas e a Comissão Europeia, adotaram como parte de seus esforços diretrizes para o uso de uma linguagem neutra.

O Instituto Europeu para a Igualdade de Gênero define a linguagem neutra, neste caso, como "a linguagem que não é específica do gênero e que considera as pessoas em geral, sem referência a mulheres e homens".

Um manual sobre neutralidade de gênero na linguagem, publicado em 2018 pelo Parlamento Europeu, diz que "uma linguagem inclusiva de gênero é mais do que uma questão de correção política".

"O objetivo da linguagem neutra em termos de gênero é evitar a escolha de palavras que possam ser interpretadas como tendenciosas, discriminatórias ou humilhantes, ao implicar que um sexo ou gênero social é a norma", disse o relatório.

Na Alemanha – onde a língua oficial faz uma diferenciação de gênero em palavras como Arzt (médico) e Ärztin (médica) ou Redakteur (editor) e Redakteurin (editora), assim como em português –, os apelos para introduzir uma linguagem neutra em termos de gênero dividiram as opiniões.

Aqueles que apoiam uma linguagem justa argumentam que substantivos dotados de gênero excluem pessoas que não se identificam como homem ou mulher e perpetuam estereótipos sexistas. Os oponentes, por outro lado, consideram os apelos para mudar a gramática como um ataque ao idioma.

É necessário mais do que simbolismo

Na semana passada, a montadora de carros americana Ford mudou suas regras para adotar uma linguagem neutra em termos de gênero a fim de tornar seu local de trabalho mais inclusivo. Como parte da mudança, a empresa substituiria o título de chairman (presidente) por simplesmente "chair".

Scheele diz que, embora as medidas simbólicas – como a linguagem com perspectiva de gênero –, sejam importantes como uma ferramenta para criar mais sensibilidade para a igualdade de gênero, as organizações ainda precisam fazer mais.

"É importante analisar onde e em que níveis da organização os diferentes gêneros estão sub-representados, como o trabalho realizado é valorizado e pago. E a organização precisa desenvolver uma cultura organizacional na qual as práticas discriminatórias sejam tornadas públicas ou sequer existam", disse ela.

Scheele defende que as empresas usem cotas como um instrumento para aumentar a representação de um determinado gênero que porventura seja sub-representado, introduzam treinamentos para lutar contra a discriminação e realizem avaliações de trabalho para identificar estruturas de pagamento injustas.

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