1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

"Minha posição no campo tem importância"

Philip Verminnen4 de dezembro de 2013

Forte na marcação, volante do Wolfsburg tornou-se titular absoluto da seleção brasileira na era Felipão. Em entrevista à DW, ele fala sobre seu lado guerreiro, o que pensa de Pep Guardiola e o sonho de conquistar a Copa.

Garantido na Copa? Luiz Gustavo, único atleta na apresentação oficial do novo uniforme da seleção brasileiraFoto: picture-alliance/dpa

A temporada 2012/2013 foi perfeita para o volante Luiz Gustavo Dias. Com o Bayern de Munique fez parte da inédita tríplice coroa – conquistou a Liga dos Campeões da Europa, o Campeonato Alemão e a Copa da Alemanha. Pela seleção brasileira, não só levantou a Copa das Confederações, como ganhou o status de titular no time de Luiz Felipe Scolari.

E mesmo assim, foi preterido no início da atual temporada pelo novo comandante do time bávaro, Pep Guardiola, e se viu obrigado a migrar para o Wolfsburg para continuar jogando e, assim, garantir a sua presença na Copa de 2014.

Porém, essa foi a menor das dificuldades que Luiz Gustavo enfrentou na carreira. Mais reconhecido pelo vigor físico e a disciplina tática do que pela qualidade técnica, o volante de 26 anos passou por diversos clubes na sua cidade natal, Pindamonhangaba, no interior de São Paulo, e outros tantos em Alagoas, sem conseguir se firmar.

Neste meio tempo, teve ainda que lidar com a morte da mãe e chegou a abandonar por três vezes o sonho de ser jogador de futebol. Mas em 2007, aos 20 anos, a sua perseverança foi compensada, e ele se transferiu para o Hoffenheim, na época ainda na segunda divisão alemã.

Grande admirador da cultura e da disciplina alemã, ele diz que é uma pessoa tranquila e que não gosta de aparecer: "Eu deixo os outros fazerem o que o povo gosta, que é jogar futebol, dar drible. E me deixa ali atrás, quietinho, ajudando. Quem entende de futebol sabe a importância da minha posição."

No mítico Estádio de Wembley, o até então ponto alto da carreira de Luiz Gustavo: o título da Liga dos CampeõesFoto: picture-alliance/dpa

Deutsche Welle: Você voltou da conquista com a seleção brasileira na Copa das Confederações, chegou ao Bayern e o técnico Pep Guardiola preferiu dois jogadores que vivem contundidos (Bastian Schweinsteiger e Javi Martínez) e um lateral-esquerdo improvisado (Philipp Lahm). Como você recebeu isso?

Luiz Gustavo: Cada um tem a sua filosofia. Com ele não é diferente. Ele é um treinador que, pelo pouco tempo que fiquei lá, entende muito de futebol. Muito mesmo. Está mostrando isso com o Bayern de Munique atualmente. Mas ele tem as suas decisões, tem as suas opções e preferiu outros dois jogadores. Tenho que respeitar, mas aceitar é difícil. Vida que segue, estou feliz aqui no Wolfsburg.

Ficou alguma mágoa?

Mágoa não ficou. Mas às vezes acontecem coisas que a gente não espera. Quando se volta de uma conquista com a seleção brasileira, se espera coisas diferentes. Vários amigos, companheiros que tiveram comigo na Copa das Confederações, voltaram, renovaram os contratos ou chegaram valorizados nos seus clubes. Comigo foi diferente. Mas cada um tem a sua história de vida, e a minha sempre foi assim.

Luiz Gustavo: "Minha posição no campo tem importância"

06:10

This browser does not support the video element.

Você trocou o campeão europeu, Bayern, pelo Wolfsburg, 11º da temporada passada, só pela Copa do Mundo?

Não, porque a gente tem objetivos aqui também. Na minha primeira entrevista em Wolfsburg, eu falei que o projeto do clube é muito bom. Há grandes jogadores aqui também, como o Diego e o Naldo. Temos plenas chances de conquistar os objetivos e, conforme os objetivos forem alcançados, chegam novos jogadores, o time começa a ficar mais visado, mais respeitado. É onde eu tinha que jogar para continuar na seleção. Mas o principal de tudo não foi vir para cá só para jogar na seleção, mas pela proposta do clube.

Você e mais quatro (Julio César, Dani Alves, Thiago Silva e Marcelo) foram os únicos que jogaram todos os minutos de todas as partidas na Copa das Confederações. Você se considera garantido no Mundial?

Ainda não. Ainda faltam uns seis meses até a Copa. É um tempo longo, em que muitas coisas podem acontecer, até mesmo porque nós jogadores não estamos livres de uma lesão, infelizmente. É um desejo de todo jogador jogar uma Copa do Mundo. Comigo não é diferente. Vou continuar fazendo por merecer, mas, no fim, o Felipão que vai decidir.

Seu primeiro jogo pela seleção, em 2011, foi justamente contra a Alemanha. Na época, o treinador era o Mano Menezes. Com ele você não teve muitas chances. Com o Felipão você já é muito mais valorizado. Qual é a diferença na filosofia entre os dois?

Foi mais a questão de oportunidades mesmo. Com Mano, ele tinha outros dois jogadores [Ramires e Paulinho] que ele preferia na posição naquele momento. Não tive a oportunidade de jogar e, quando você não joga, é difícil mostrar alguma coisa. Com o Felipão já foi diferente. Eu também não joguei os primeiros amistosos e esperei a oportunidade. E ela veio nos amistosos antes da Copa das Confederações. Eu sempre falo muito que eu procuro aproveitar todas as oportunidades que me dão. Em toda a minha carreira tem sido assim, e essa da seleção foi uma que eu esperava há muito tempo.

Em um amistoso contra a Austrália em setembro, Luiz Gustavo marcou o seu único gol pela seleção brasileiraFoto: Getty Images

Você tem receio de que, daqui a 20 ou 30 anos, quando lembrarem da conquista de um eventual hexacampeonato, que todo mundo lembre que Neymar jogou, que Oscar jogou, mas não vão lembrar quem é o melhor passador da equipe, quem limpou a área, quem deu 80%, 90% de passes certos?

Não penso muito nisso, porque agora na Copa das Confederações foi semelhante. Muitos questionavam que esse aparecia muito e eu aparecia pouco, mas eu não. Isso já é de mim. Eu nunca dei muita importância a aparecer, até mesmo na minha vida pessoal. Acho que por isso que eu escolhi essa posição, porque eu não apareço muito. Mas é bom ser reconhecido, claro. E quem entende de futebol sabe a importância que a minha posição tem.

O sistema defensivo é com você, e você deixa os outros brilharem.

Eu sou tranquilo. Eu deixo os outros fazerem o que o povo gosta, que é jogar futebol, dar drible. E me deixa ali, quietinho, ajudando que eu já vou estar feliz em fazer parte deste, se Deus quiser, título mundial.

O seu técnico na sua segunda temporada no Hoffenheim, Ralf Rangnick, disse que você era o melhor volante da Bundesliga, que você o fazia lembrar o ator Bruce Willis, por não ter medo de nada. É assim mesmo? Você não tem medo de nada?

Por por três anos e meio, Luiz Gustavo atuou no TSG 1899 Hoffenhein, a sua primeira estação na AlemanhaFoto: picture-alliance/dpa

Tive três anos e meio no Hoffenheim, todos muito especiais na minha vida. Eu sempre tive isso comigo: de não me omitir das coisas ou até mesmo ter receio pelas dificuldades ou às vezes pelas coisas que acontecem na vida. Dentro de campo não é diferente. Eu procuro fazer o meu trabalho da melhor forma possível e às vezes ocorre algum risco. Algumas vezes tem que ir em algumas jogadas que são meio perigosas, com risco de tomar cartão, por exemplo. Eu me considero, sim, corajoso pelo fato de nunca me omitir das tarefas ou dos deveres que eu tenho que fazer tanto na minha vida quanto no meu trabalho.

Se olharmos o seu histórico de vida, dentro ou fora de campo, fica claro que você passou por diversas dificuldades, por diversos obstáculos e desafios. Em algum momento você pensou em desistir da carreira de jogador de futebol?

Diretamente, não. Mas sempre batia uma insegurança em alguns momentos. Quando eu estava começando no futebol, às vezes as coisas não aconteciam. Quando, por exemplo, tinha uma lesão, sendo que não poderia ter pelo fato de estar em uma equipe pequena, onde se está sempre correndo atrás. Algumas vezes tinha aquela incerteza. Mas sempre observava bastante o que acontecia durante o ano, como a minha carreira ia. Fazia durante todos os anos uma avaliação do que melhorava, do que piorava, do que tinha que melhorar e isso foi um fator bem positivo.

Onde está a origem de seu lado batalhador, que se reflete no campo? É da família, das dificuldades em Alagoas?

Acho que é de família mesmo. Meu pai sempre batalhou muito, minha mãe também, minha avó, meus familiares todos. Sempre fui muito independente desde pequeno. Sempre queria fazer as coisas para eu depender de mim mesmo, para ter o meu dinheiro e minhas coisas. E não escolhia o quê. E quando eu fui para Alagoas, depois da perda da minha mãe, falo que eu tinha duas opções: ou eu me abateria ou eu evoluiria com a situação. E, graças a Deus, eu pude tirar as coisas boas, as coisas positivas de tudo. Todos os anos que eu passei lá me fortaleceram muito, me amadureceram muito, me deram uma segurança maior para todas as coisas que estou vivendo hoje.

Primeira reação do atleta depois da conquista da Copa das Confederações contra a Espanha: ajoelhar e rezarFoto: Getty Images

Você já conquistou a Champions League, o Campeonato Alemão, a Copa das Confederações, deu uma boa condição financeira para a sua família. O que ainda falta acontecer na sua vida?

Bastante coisa. Eu sonho bastante: o título no ano que vem da Copa do Mundo, não só para mim, mas para todos os jogadores que vão disputar este campeonato, é um objetivo. Para mim não é diferente. E tem sempre aquele time de criança que a gente sonha jogar. Por mais que eu saiba que algumas coisas podem não acontecer, mas eu sempre continuo sonhando.

Luiz Gustavo no WolfsburgFoto: Getty Images

Ficha técnica:
Nome: Luiz Gustavo Dias
Nascimento: 23.07.1987 (26 anos)
Local: Pindamonhangaba, São Paulo
Altura: 1,87 metro
Posição: volante

Trajetória categoria de base:
Diversos clubes em Pindamonhangaba até 2003
À partir de 2004, passagens por clubes de Alagoas: entre os mais famosos estão o Clube de Regatas Brasil e o SC Corinthians Alagoano.

Trajetória profissional:
2007 – SC Corinthians Alagoano (Maceió) - 21 jogos e 2 gols
2007 – Clube de Regatas Brasil (Maceió) - 14 jogos e 1 gol
2007 - 2010 – TSG 1899 Hoffenheim (Alemanha) - 109 jogos e 2 gols
2011 - 2013 FC Bayern München (Alemanha) – 100 jogos e 6 gols
2013 – VfL Wolfsburg (Alemanha) - 11 jogos e 1 gols

Seleção brasileira – 16 jogos e 1 gol

Títulos:
Bayern de Munique

Liga dos Campeões da Europa 2012/2013
Campeonato Alemão 2012/2013
Copa da Alemanha 2012/2013
Supercopa da Alemanha 2013
Brasil
Copa das Confederações 2013