Cúpula do Clima
18 de dezembro de 2009Marcada para se encerrar às 18h (hora de Berlim) desta sexta-feira (18/12) a 15ª Conferência das Partes sobre o Clima (COP-15) entrou oficialmente em prorrogação. "A reunião continuará ainda por um bom tempo", anunciou o porta-voz do encontro, Eric Hall.
Os líderes mundiais reunidos em Copenhague se preparam para uma longa noite. Tendo à frente o presidente norte-americano, Barack Obama, e o primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, eles lutam contra o relógio à busca de a resultados apresentáveis, num último esforço para impedir o já anunciado fracasso da conferência de cúpula.
Lula decepcionado
Após a minicúpula realizada nesta madrugada, que reuniu quase 30 chefes de Estado e governo no centro de convenções Bella Center, na capital dinamarquesa, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou estar decepcionado com a cúpula mundial do clima.
Entre os presentes ao encontro, estavam também a premiê alemã, Angela Merkel; a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton; o presidente russo, Dimitri Medvedev; o primeiro-ministro da Índia, Manmohan Singh; o secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon; e o presidente da Comissão Europeia, José Durão Barroso. O primeiro-ministro Wen Jiabao foi convidado, mas não compareceu.
Após a reunião de trabalho em que se tentou formular um esboço de declaração política, o presidente brasileiro criticou a minicúpula com os líderes mundiais, afirmando que o fez lembrar as reuniões que tinha com os magnatas da economia, em seus tempos de sindicalista.
Lula afirmou que somente para reconhecer que o problema é bem maior do que pensava, a comunidade internacional não precisaria estar discutindo há tanto tempo a questão das mudanças climáticas. Lula advertiu contra a assinatura de um documento sem conteúdo.
Perigo do jogo de cartas
Em Copenhague, Lula afirmou ser "absolutamente necessária" a preservação do Protocolo de Kyoto, que não pode ser substituído por instrumento menos exigente. O presidente brasileiro defendeu que os países desenvolvidos tomem este protocolo como referência para a definição de "metas de cortes profundos" e instou os países em desenvolvimento a dar também a sua contribuição ao esforço global de reduzir o impacto ambiental nocivo.
Em seu discurso nesta quinta-feira, Lula advertiu, ainda, que a conferência não deveria ser "um jogo onde se possa esconder cartas na manga. Se ficarmos à espera do lance de nossos parceiros, podemos descobrir que é tarde demais. Todos seremos perdedores".
O presidente Lula lembrou que as medidas adotadas por seu governo deverão reduzir o crescimento das emissões brasileiras entre 36,1% e 38,9% até 2020. Lula salientou que o Brasil não precisa de dinheiro dos países industrializados para alcançar suas metas climáticas. "Eu acredito em milagres", disse Lula.
Dois caminhos e uma declaração política
Para que esse milagre aconteça, explicou Lula, seria necessário haver um consenso entre os dois esboços de trabalho e a declaração política. Na conferência do clima em Copenhague, os Estados seguiram dois caminhos distintos em direção à proteção climática.
A maioria dos países industrializados negociou um documento que deveria anunciar, a partir de 2013, uma segunda fase do Protocolo de Kyoto. Os EUA e os países emergentes negociaram no caminho da convenção do Clima de 1992, no Rio de Janeiro, ou seja, sobre a contribuição para proteção climática dos países não-signatários do Protocolo de Kyoto, que é juridicamente vinculativo.
Os EUA apoiaram o Protocolo de Kyoto, mas nunca o ratificaram. Uma das razões foi o fato de a reunião em Kyoto, em 1997, não ter imposto obrigações a países emergentes como a China e a Índia.
Falando a mesma língua
Os dois caminhos seguiam, em grande parte, paralelos. Os dois esboços tratavam, por exemplo, de quanto os países industrializados deveriam reduzir suas emissões de gases-estufa a curto prazo ou a longo prazo, mas tratavam também do apoio dos países em desenvolvimento à proteção das florestas.
Principalmente os países em desenvolvimento queriam manter o Protocolo de Kyoto, já que esse estabelece compromissos legalmente vinculativos aos países industrializados. Assim como o Brasil, a China defendeu que os dois documentos teriam que "falar a mesma língua".
China e EUA
Antes da continuação das negociações, no último dia da conferência do clima, um exclusivo grupo de líderes governamentais se reuniu com Barack Obama nesta sexta-feira. Entre eles estavam o presidente Lula e diversos chefes de Estado e governo do G20. A China foi representada pelo chefe de sua delegação, He Yafei.
Em seu discurso em Copenhague, nesta sexta-feira, Obama salientou que seu país estaria disposto a participar do fundo de 100 bilhões de dólares anuais, a partir de 2020, para ajudar os países em desenvolvimento.
Como condição, o presidente norte-americano mencionou um consenso em Copenhague que também incluísse o controle das emissões de CO2 por parte da China, que, depois dos EUA, é a maior produtora de gases-estufa do planeta.
CA/dpa/afp/lusa
Revisão: Augusto Valente