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Lula chama de volta embaixador em meio à crise com Israel

19 de fevereiro de 2024

Governo de Netanyahu declarou presidente brasileiro "persona non grata" por "ataque antissemita". Chanceler Mauro Vieira repete gesto de seu homólogo em Tel Aviv e convoca embaixador israelense para dar explicações.

Presidente Luis Inácio Lula da Silva
Lula classificou como "genocídio" e "chacina" a reação de Israel aos ataques terroristas do grupo extremista Hamas Foto: Liesa Johannssen/REUTERS

Após ser declarado persona non grata pelo governo israelense, em razão de suas fortes críticas às ações militares de Israel na Faixa de Gaza, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva chamou de volta ao país nesta segunda-feira (19/02) o embaixador brasileiro em Israel, Frederico Meyer.

O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, repetiu o gesto de horas antes do seu homólogo em Tel Aviv e convocou o embaixador israelense no Brasil, Daniel Zonshine, para dar explicações. O diplomata deve comparecer a uma reunião no Palácio Itamaraty, no Rio de Janeiro, ainda nesta segunda-feira.  

A convocação de um embaixador para retornar a seu país de origem é uma atitude que expressa a contrariedade de uma nação para com as ações de um governo estrangeiro. Segundo uma nota do Itamaraty, as duas medidas foram tomadas em razão da "gravidade das declarações desta segunda-feira do governo de Israel".

Referência ao Holocausto

Durante uma visita de Estado a Etiópia, neste fim de semana, Lula, indagado sobre a decisão de alguns países de suspender repasses financeiros à Agência da ONU para os Refugiados Palestinos (UNRWA), disse que "o que está acontecendo na Faixa de Gaza e com o povo palestino não existe em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu: quando Hitler resolveu matar os judeus".

Ele classificou como "genocídio" e "chacina" a reação de Israel aos ataques terroristas do grupo extremista Hamas de 7 de outubro de 2023, e comparou a operação israelense ao extermínio sistemático de milhões de judeus pelos nazistas chefiados por Adolf Hitler, entre 1933 e 1945.

Lula deu as declarações durante entrevista em Adis Abeba, na Etiópia, onde participou nos últimos dias da 37ª Cúpula da União Africana e de reuniões bilaterais com chefes de Estado do continente.

Embaixador brasileiro "humilhado"

Meyer foi convocado pelo ministro israelense das Relações Exteriores, Israel Katz, para uma reunião no Yad Vashem, o Memorial do Holocausto, onde foi notificado da declaração de Lula como persona non grata (pessoa indesejada, em latim).

O fato de o embaixador ter sido exposto publicamente pelo chanceler israelense gerou mal-estar em Brasília. Normalmente, as reuniões com embaixadores para advertências ou reprimendas ocorrem na sede da chancelaria do país.

O gesto de Israel contra Lula veio de maneira surpreendente durante uma coletiva conjunta de imprensa entre Katz e Meyer. "Eu trouxe o senhor a um lugar que testemunha, mais do que qualquer outra coisa, o que os nazistas e Hitler fizeram aos judeus, incluindo membros da minha família", disse o ministro, segundo o jornal The Times of Israel. "A comparação entre a guerra de Israel contra o Hamas e as atrocidades de Hitler e dos nazistas é uma vergonha", disse o ministro israelense ao embaixador.

Diplomatas brasileiros citados pela emissora GloboNews avaliaram que a reação de Israel às declarações de Lula foi "desproporcional", mesmo levando-se em conta que petista tenha errado o tom em seus comentários.

A decisão do governo israelense de levar o embaixador brasileiro ao Museu do Holocausto foi vista como uma forma de “humilhar” Meyer e, consequentemente, o próprio Brasil. Os diplomatas, que não quiseram se identificar, afirmam que a reação israelense foi "um pouco fora do tom". "Não existe isso em diplomacia", afirmou um dos entrevistados.

"Grave ataque antissemita "

Segundo o chanceler Katz, Lula não será bem-vindo em Israel por ter comparado a ofensiva israelense na Faixa de Gaza ao massacre de judeus pelos nazistas na Segunda Guerra Mundial.

"Não esqueceremos nem perdoaremos. Este é um grave ataque antissemita. Em meu nome e em nome dos cidadãos de Israel, informem o presidente Lula que ele é persona non grata em Israel até que se se retrate", escreveu o ministro israelense em postagens nas redes sociais.

"A comparação do presidente brasileiro Lula entre a guerra justa de Israel contra o Hamas e as ações de Hitler e dos nazistas, que exterminaram 6 milhões de judeus, é um grave ataque antissemita que profana a memória daqueles que morreram no Holocausto."

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, afirmou nas redes sociais que a declaração de Lula banalizava o Holocausto – o massacre de 6 milhões de judeus na Segunda Guerra Mundial: "Comparar Israel ao Holocausto nazista e a Hitler é ultrapassar uma linha vermelha. Israel luta por sua defesa e garantia do seu futuro até a vitória completa."

O termo persona non grata é um instrumento jurídico empregado nas relações internacionais, descrito no Artigo 9º da Convenção de Viena sobre relações diplomáticas, para explicitar que um indivíduo não é bem-vindo em determinado país.

rc (EFE, AFP, Reuters, ots)

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