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Lula critica "chantagem" dos EUA e promete taxar big techs

Publicado 17 de julho de 2025Última atualização 18 de julho de 2025

Brasileiro diz que não recebe ordem de "gringo" e vai impor impostos contra gigantes de tecnologia americanas, citadas pelos EUA como lesadas por "práticas desleais". Trump pede fim de julgamento contra Bolsonaro.

Lula e Donald Trump
Lula sobe o tom em retaliação a Trump. Americano volta a defender Jair BolsonaroFoto: AFP/IMAGO

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a criticar nesta quinta-feira (17/07) seu homólogo americano, Donald Trump, pela decisão de impor barreiras tarifárias a produtos brasileiros e abrir uma investigação comercial contra o país.

O petista reforçou o discurso de que o Brasil é soberano para lidar com seus problemas e subiu o tom sobre a investigação comercial aberta pela Casa Branca contra o Brasil, classificando-a como "chantagem inaceitável". Em diferentes declarações, disse que Trump se considera "imperador do mundo" e reiterou que não obedecerá ordens vindas de um "gringo". 

Em discurso durante o 60º Congresso da União Nacional dos Estudantes, em Goiânia, Lula prometeu retaliar empresas americanas de tecnologia com novos impostos. As gigantes do mercado digital foram citadas pelo Escritório do Representante Comercial dos EUA como prejudicadas por "práticas desleais" do Brasil.

"Ele [Trump] disse: 'Eu não quero que as empresas americanas, empresas de plataforma, sejam cobradas no Brasil'. Vou dizer uma coisa, o mundo tem que saber que este país só é soberano. Eu queria dizer para vocês que a gente vai julgar e cobrar imposto das empresas americanas digitais", afirmou.

No mesmo discurso, Lula também disse não aceitar que as redes sociais sejam usadas como ferramenta de agressão em nome da liberdade de expressão. "Não é um gringo que vai dar ordem a este presidente da república", completou.

Já em um pronunciamento veiculado na TV ao final do dia, Lula defendeu que a soberania brasileira se impõe à atuação das plataformas digitais. "Para operar no nosso país, todas as empresas são obrigadas a cumprir a lei. Ninguém está acima da lei", disse.

A Casa Branca reagiu e Trump publicou uma nova carta em defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro, pedindo o fim do julgamento que o aliado enfrenta no Supremo Tribunal Federal (leia mais abaixo).

Empresas americanas prejudicadas?

O governo Trump acusa o Supremo Tribunal Federal de censurar atividades em redes sociais, majoritariamente ligadas a big techs americanas, e afirma que o governo brasileiro beneficia seu serviço de pagamento eletrônico em detrimento das alternativas oferecidas por empresas americanas.

Ao ser lançado, o Pix abocanhou parcela considerável de um mercado dominado por bandeiras de cartão de crédito ou débito, como a Mastercard e a Visa, ambas sediadas nos EUA, e por sistemas de pagamento eletrônico como Google Pay, Apple Pay e WhatsApp Pay, também americanos.

A aplicação de impostos sobre serviços digitais costuma gerar polêmica em todo o mundo. O Canadá, por exemplo, recuou de impor taxas sobre gigantes de tecnologia justamente após pressão dos EUA.

O governo brasileiro tenta retomar a discussão sobre a regulamentação e a taxação das redes sociais no Congresso desde 2024 por meio do "PL das Fake News", mas sofre resistência da oposição. O STF já decidiu que as plataformas podem ser responsabilizadas pelos conteúdos publicados em seu ambiente digital.

Pix virou centro da disputa entre Brasil e EUAFoto: Bruno Peres/Agência Brasil

Trump não pode ser "imperador do mundo", diz Lula

Durante o evento em Goiás, Lula acusou Trump de ser incapaz de negociar. "Eu tenho certeza que o presidente americano jamais negociou 10% do que eu negociei na minha vida, jamais. Se tem uma coisa que eu sei na vida é negociar", afirmou.

Já no pronunciamento veiculado em rede nacional, o petista argumentou que o Brasil realizou mais de 10 reuniões com o governo americano e enviou uma proposta formal de negociação desde que as primeiras tarifas globais foram anunciadas por Trump. 

"Esperávamos uma resposta, e o que veio foi uma chantagem inaceitável em forma de ameaças a instituições brasileiras e com informações falsas sobre o comércio", pontuou. 

Segundo ele, o Brasil levará a disputa à Organização Mundial do Comércio ou   aplicará a Lei de Reciprocidade Econômica se não houver acordo. 

Em entrevista à CNN americana, também divulgada nesta quinta-feira, Lula argumentou que Trump esquece que foi eleito para governar os Estados Unidos, não para "ser o imperador do mundo".

"Seria muito melhor estabelecer uma negociação primeiro, e depois alcançar um acordo possível, porque nós somos dois países que temos boas relações por 200 anos", completou.  

Casa Branca reage e Trump defende Bolsonaro

Questionada sobre as declarações de Lula, a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, afirmou nesta quinta-feira (17/07) que Trump "certamente não está tentando ser o imperador do mundo".

"Ele é um presidente forte e também é o líder do mundo livre. Vimos uma grande mudança em todo o planeta por causa da liderança firme do presidente", rebateu.

A escalada de tensões entre Trump e Lula teve início após o americano sair em defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro e indicar que aplicaria tarifas em oposição ao julgamento enfrentado pelo aliado no STF. 

Nesta quinta-feira, Trump voltou a citar o processo enfrentado por Bolsonaro. O ex-presidente é acusado de liderar a trama golpista que culminou na invasão da Praça dos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023.

"Eu vi o terrível tratamento que você está recebendo nas mãos de um sistema injusto voltado contra você. Este julgamento deve terminar imediatamente!", afirmou Trump em carta endereçada a Bolsonaro. 

A ação penal contra o ex-presidente chegou na reta final nesta semana após a Procuradoria-Geral da República pedir sua condenação

Para Lula, "tentar interferir na Justiça brasileira é um grave atentado à soberania nacional". O presidente também criticou duramente os aliados de Bolsonaro, classificando-os como "traidores da pátria".

"Minha indignação é ainda maior por saber que esse ataque ao Brasil tem o apoio de alguns políticos brasileiros. São verdadeiros traidores da pátria. Apostam no quanto pior, melhor. Não se importam com a economia do país e os danos causados ao nosso povo", completou em discurso na TV. 

gq (OTS)

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