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Lula, da ascensão política à condenação na Lava Jato

5 de abril de 2018

Ao deixar o poder em janeiro de 2011, ex-presidente foi saudado como "o político mais popular da Terra". Sete anos depois, sua nova tentativa de voltar ao poder caminha para o desastre.

Luiz Inácio Lula da Silva
Ao final do seu governo, Lula ostentava 87% de aprovaçãoFoto: picture alliance/dpa/ZUMA Wire/P. Lopes

Em janeiro de 2011, Luiz Inácio Lula da Silva deixou a Presidência do Brasil como um dos políticos mais bem-sucedidos da história do país. O ex-líder sindical de esquerda, que ascendeu ao cargo máximo do país em 2003, entregava uma economia a todo vapor. Políticas sociais do seu governo haviam tirado milhões da miséria, e ele havia eleito sua sucessora, Dilma Rousseff.

Em 2009, Barack Obama chamou-o de "o político mais popular da Terra". Os números não mentiam. Ao final do seu governo, Lula ostentava 87% de aprovação. Reportagens afirmavam que o ex-presidente poderia usar esse prestígio até mesmo para se candidatar ao cargo de secretário-geral das Nações Unidas. Mesmo fora da Presidência, Lula parecia ter anos brilhantes pela frente.

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Em março de 2018, Lula, agora com 72 anos, enfrenta o ocaso da sua carreira. A pós-Presidência acabou não sendo marcada pelo reconhecimento ou aplausos em fóruns internacionais. Em vez disso, o ex-presidente viu seu capital político se esfarelar, foi acusado de corrupção e lavagem de dinheiro e parece fadado a ir para a prisão.

Trajetória

Filho de um casal de lavradores do Nordeste, Lula começou a ganhar projeção nacional como líder sindicalista nos anos derradeiros do regime militar (1964-1985). Ao comandar greves, rompeu o silêncio imposto pelo militares aos trabalhadores por mais de uma década e chegou a ser preso. Em 1980, uniu-se a outros sindicalistas, intelectuais marxistas, ex-presos pelo regime e grupos católicos para formar o Partido dos Trabalhadores (PT).

A ascensão do PT foi lenta. O próprio Lula acumularia três derrotas em eleições presidências antes de chegar ao poder. Seria necessário romper com a desconfiança de setores do empresariado e da imprensa, que o enxergavam como um aventureiro esquerdista.

Lula em comício em 1989: ascensão foi lentaFoto: AFP/Getty Images

Lula entendeu isso como ninguém. A partir dos anos 1990, passou a explicitar uma filosofia definida por ele próprio como "um pouco pragmática e muito realista" – uma forma de negociar não necessariamente presa a amarras ideológicas.

"Não sou esquerdista, sou de esquerda", chegou a afirmar. De acordo com essa visão, seria preciso fazer alianças com setores totalmente opostos para obter resultados e vitórias. 

Na campanha de 2002, com a ajuda de vários empresários, Lula publicou a Carta ao Povo Brasileiro, em que assumia o compromisso de dar continuidade às políticas econômicas do governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). Nascia o "Lulinha Paz e Amor". A receita funcionou, e Lula finalmente chegou à Presidência.

Os anos dourados

No poder, Lula formou coalizões com antigos inimigos do PT: políticos fisiológicos do PMDB, antigos membros da ditadura militar, oligarcas e grupos evangélicos. Para eles, Lula garantiu cargos, verbas e favores. Apesar de tal comportamento ter arranhado a imagem do PT entre seus apoiadores mais puristas, essa ampla orquestração permitiu o apaziguamento do cenário político e social.

Ao garantir as alianças, Lula teve mão livre para promover amplos programas sociais, como o Bolsa Família, que foi elogiado internacionalmente. Segundo o Banco Mundial, o número de pessoas vivendo na miséria no país caiu 64% entre 2001 e 2013. Lula também expandiu a educação superior, abrindo dezenas de novas universidades e facilitando o ingresso para pessoas pobres.

Essas medidas ajudaram a melhorar a imagem do Brasil ao mesmo tempo que solidificaram a influência eleitoral do PT entre as camadas mais pobres. Os mais ricos também ganharam. Lula expandiu o crédito e lançou o país num frenesi de grandes obras, não visto desde o fim do regime militar e que abarrotou os cofres das empreiteiras. Um boom de commodities também beneficiou o Brasil de Lula, que entre 2003 e 2015 passou de 13ª economia do mundo para o 9° lugar.

Mas, algumas vezes, o lado obscuro desse "realismo" era exposto. Em 2005, membros do seu partido foram acusados de montar um esquema de compra de votos de congressistas. O escândalo do mensalão, no entanto, não afetou a imagem pessoal de Lula. Ele foi reeleito em 2006.

Mas, ao mesmo tempo que membros do seu governo e aliados eram acusados, Lula também acabaria por fortalecer mecanismos de combate à corrupção. No poder, o petista garantiu autonomia para a Polícia Federal e passou a nomear procuradores-gerais independentes. Também apoiou legislações como a Lei da Ficha Limpa, que impede políticos condenados de se candidatar – e que agora, ironicamente, afeta o próprio ex-presidente.

Por outro lado, Lula fez poucos esforços para realizar uma reforma política ampla, capaz de resolver as contradições da política brasileira e acabar com o emaranhado de pequenos partidos e a necessidade de coalizões formadas na base da troca de favores e de subornos.

Nas eleições de 2010, Lula escolheu Dilma, uma tecnocrata sem experiência eleitoral, como sucessora. Para garantir apoio, promoveu um casamento definitivo do PT com o fisiológico PMDB. Dilma seria a cabeça da chapa. O vice, o deputado Michel Temer.

A fórmula acabaria se revelando um desastre. Ao contrário de Lula, Dilma não tinha paciência para ouvir e negociar, mas enquanto a economia ia bem, sua inabilidade não ficou tão clara.

O início da derrocada

Fora do poder e com Dilma instalada no Planalto, Lula se aproximou ainda mais de grandes empresários que prosperaram no seu governo. A construtora Odebrecht, por exemplo, financiou viagens do ex-presidente e o contratou como palestrante regular por altas somas. Outras empreiteiras fizeram o mesmo. Entre 2011 e 2015, o instituto criado pelo ex-presidente recebeu 27 milhões de reais pelo pagamento de palestras, o que levantaria suspeitas de que Lula estava atuando como lobista.

A partir de 2014, um grupo de promotores e agentes federais deu início às investigações da Operação Lava Jato, que viria a sacudir o universo político brasileiro, ao revelar uma imensa rede de corrupção que saqueou a principal estatal do país, a petrolífera Petrobras.

Inicialmente, a operação atingiu o PMDB, mas não tardaria a chegar ao PT, que foi acusado de embolsar milhões de reais em propina para financiar campanhas. Quando Lula entrou na mira, vieram à tona as relações suspeitas. Mais grave, os investigadores acusaram o ex-presidente de enriquecimento pessoal.

Segundo os inquéritos, o ex-presidente recebeu um apartamento tríplex no litoral paulista, outro apartamento em São Paulo e um sítio no interior do Estado de construtoras com contratos governamentais. Lula nega todas as acusações e atribui tudo a uma ampla campanha movida pela mídia e pelas elites para impedi-lo de voltar à Presidência.

Lava Jato

A Lava Jato também ajudou a deteriorar o governo Dilma. Acuada, parte da classe política começou a romper a coalizão orquestrada por Lula e a considerar sacrificar a presidente para saciar a opinião pública e, mais tarde, promover uma renovação de fachada que abriria uma oportunidade de sufocar a Lava Jato.

Após impeachment de Dilma, Lula passou a dizer que sua sucessora foi vítima de um "golpe"Foto: picture-alliance/AP Photo/E. Peres

O mau desempenho da economia, que se acentuou em 2015, acabou por provocar o esfarelamento completo do apoio a presidente. Em 2016, Dilma foi afastada num processo de impeachment.

Lula passou então a planejar sua volta à Presidência nas eleições de 2018. Segundo ele, para salvar seu legado. Para os críticos, seria apenas uma forma de escapar da Justiça.

Em discursos, Lula passou a dizer que Dilma foi vítima de um "golpe" e a apostar em um discurso de luta de classes, atacando as mesmas elites que prosperaram sob seu governo. Por outro lado, ainda exerce sua versão de pragmatismo. Disse que "perdoava" os "golpistas" que apoiaram o impeachment de Dilma e vem evitando atacar Temer demasiadamente. 

Radical ou pragmática, sua campanha parecia estar rendendo frutos, com o petista como favorito em todas as pesquisas graças ao apoio ainda fiel das classes mais pobres.

Mas em janeiro de 2018, Lula acabou tendo sua condenação por corrupção confirmada em segunda instância. A pena: 12 anos e um mês de prisão, sinalizando que o ex-presidente deve ficar de fora daquela que seria sua quinta candidatura à Presidência.

Um pedido de habeas corpus apresentado pela defesa do ex-presidente foi rejeitado tanto pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) como pelo Supremo Tribunal Federal (STF), após uma longa sessão e pelo placar apertado de 6 votos a 5 nesta quinta-feira (05/04).

Com a decisão do STF, a prisão de Lula pode ser decretada a qualquer momento, e uma nova candidatura do ex-presidente, sujeito à Lei da Ficha Limpa, ficará agora nas mãos do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Um epílogo melancólico para aquele que foi o "político mais popular da Terra".

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