Em discurso, ex-presidente acusa Judiciário e imprensa de se unirem para acabar com o PT e afirma que só desistirá da candidatura se juízes apresentarem crime que ele tenha cometido.
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O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta quarta-feira (24/01) que sua condenação foi baseada numa mentira e reiterou sua inocência, durante um ato na Praça da República, em São Paulo.
"Quem está no banco do réu é o Lula, mas quem foi condenado é o povo brasileiro com o golpe que eles deram", afirmou Lula. "A decisão eu até respeito porque foi deles. O que eu não aceito é a mentira pela qual eles tomaram a decisão. Eles sabem que eu não cometi crime", acrescentou.
No discurso de pouco mais de 20 minutos, o ex-presidente disse ainda que não há provas contra ele e alegou ter sido condenado por um imóvel que não possui. "Se me condenaram, me deem pelo menos o apartamento", ressaltou e disse ao líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos, que eles podiam ocupar o local.
O ex-presidente admitiu que não teve ilusões com a decisão do tribunal e acusou ainda o Judiciário e a imprensa de se unirem para acabar com o PT. "Eles não suportavam mais a ascensão das pessoas mais pobres, não suportavam mais a ascensão da escolaridade".
Discurso de Lula após decisão sobre condenação
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Lula citou Nelson Mandela, considerado um dos líderes mais importantes da África que passou 27 anos na prisão, e alegou ter sido condenado por políticas que adotou no seu governo. "Podem prender o Lula, mas as ideias já estão colocadas na cabeça da sociedade brasileira. As pessoas já sabem que é gostoso comer bem, morar bem, viajar de avião, comprar carro novo, ter casa com televisão e computador", destacou.
O ex-presidente ressaltou que a condenação visa barrar sua candidatura. "Agora eu quero ser candidato! E eu quero disputar é na consciência do brasileiro. Se eles apresentarem algum crime que eu tenha cometido, eu desisto da candidatura", ressaltou Lula, que acrescentou que vê o julgamento como uma oportunidade para discutir política e direitos com a população.
"Quero avisar a elite brasileira. Esperem, porque nós vamos voltar", finalizou, após anunciar que viajará para a Etiópia na próxima segunda-feira.
Depois do discurso, os manifestantes pró-Lula seguiram em caminhada da Praça da República até a Avenida Paulista.
Condenação e críticas
Os três desembargadores que analisaram o recurso do ex-presidente decidiram nesta quarta-feira de maneira unânime manter a condenação imposta ao petista pelo juiz Sérgio Moro. Lula ainda teve a pena aumentada de nove anos e seis meses para 12 anos e um mês prisão durante a análise no processo por corrupção e lavagem de dinheiro que envolve a propriedade de um tríplex no Guarujá (SP).
Trechos do julgamento de Lula no TRF-4
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A defesa de Lula afirmou que vai recorrer da decisão e a comparou com a ditadura militar. "Condenação sem provas é condenação autoritária. Esse julgamento será julgado pela história", afirmou o advogado José Roberto Batochio.
A condenação também foi criticada pelo PT. Em nota assinada pela presidente da legenda, Gleisi Hoffmann, o partido afirma que manterá a candidatura do ex-presidente. "O resultado do julgamento do recurso da defesa de Lula, no TRF-4, com votos claramente combinados dos três desembargadores, configura uma farsa judicial", afirma o texto.
A nota acusou ainda o sistema judicial de engajamento partidário e afirma que a sentença não passa de uma manobra para tirar Lula do processo eleitoral. "Não vamos aceitar passivamente que a democracia e a vontade da maioria sejam mais uma vez desrespeitadas. Vamos lutar em defesa da democracia em todas as instâncias, na Justiça e principalmente nas ruas", destaca.
Protestos contra e a favor do ex-presidente ocorreram em várias cidades do país. Atos foram registrados em Brasília, São Paulo, Porto Alegre e no Rio de Janeiro, entre outras. Em algumas localidades, os manifestantes a favor da condenação ergueram os bonecos infláveis "Pixuleco" do ex-presidente.
Alguns protestos foram marcados por hostilidades cometidas contra membros da imprensa. Dois jornalistas foram agredidos em atos contra Lula, um em São Paulo e outro em Curitiba. Já em Porto Alegre, a agressão contra uma repórter de televisão foi praticada por apoiadores do ex-presidente.
CN/ots
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Julgamento de Lula em imagens
Manifestações contra e pró-condenação do ex-presidente reuniram milhares de pessoas. Juízes mantêm condenação por unanimidade e aumentam pena.
Foto: Reuters/L. Benassatto
Tensão na véspera
Manifestação em apoio ao ex-presidente em Porto Alegre na véspera do julgamento reuniu em torno de 70 mil pessoas, segundo os organizadores, no local conhecido como Esquina Democrática.
Foto: Getty Images/AFP/J. Bernardes
Apoiadores nas ruas
Manifestantes pró-Lula em Porto Alegre: o julgamento poderá influenciar diretamente os rumos da eleição presidencial de 2018, na qual ele pretende se candidatar. Seus apoiadores afirmam que o processo é uma tentativa de bloquear a candidatura. Apesar de todas as denúncias que pesam contra ele, o ex-presidente lidera todas as pesquisas de intenção de voto.
Foto: Getty Images/AFP/C. de Souza
Brasília
Na capital do país, manifestantes pró e contra o ex-presidente se concentraram em frente ao Supremo Tribunal Federal (STF). Segundo a polícia militar, eram cerca de 500 apoiadores de Lula contra outros 400 que defendiam sua condenação. Os dois grupos tiveram de ser isolados para evitar confrontos.
Foto: Getty Images/AFP/S. Lima
"Já provaram minha inocência"
"Não vou falar do meu processo, não vou falar da Justiça, primeiro porque tenho advogados competentes que já provaram minha inocência, segundo porque acredito que aqueles que vão votar deverão se ater aos autos do processo, e não convicções políticas de cada um", disse Lula em Porto Alegre, diante milhares de manifestantes no ato público em sua defesa.
Foto: Reuters/P. Whitaker
Dilma acusa "perseguição política"
A ex-presidente Dilma Rousseff, afastada do cargo em 2016, abraça Lula em Porto Alegre. Em discurso num ato convocado por mulheres ligadas a movimentos sociais e partidos de esquerda, ela afirmou que seu impeachment foi o início de um golpe orquestrado para destruir o PT e seu líder. "É um processo de perseguição política. A acusação não tem fundamento", disse, sobre julgamento de seu antecessor.
Foto: Reuters/D. Vara
Avenida Paulista
Em São Paulo, manifestantes a favor da condenação de Lula se reuniram em frente à sede da Justiça Federal, na Avenida Paulista, a poucos metros de um protesto realizado por apoiadores do ex-presidente.
Foto: Getty Images/AFP/N. Almeida
Em defesa da pena imposta por Moro
Em São Paulo, manifestantes contrários a Lula defenderam a manutenção da pena imposta pelo juiz Sérgio Moro, na 13ª Vara de Curitiba, que condenou o ex-presidente a 9 anos e 6 meses de prisão pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, no caso envolvendo a compra de um apartamento tríplex no Guarujá.
Foto: Getty Images/AFP/N. Almeida
"Confirma TRF-4!"
“Lula ladrão, seu lugar é na prisão!” e "confirma TRF-4!" foram algumas das palavras de ordem gritadas pelos manifestantes no protesto contra Lula na Avenida Paulista
Foto: Getty Images/AFP/N. Almeida
No Sindicato dos Metalúrgicos
Lula acompanhou o julgamento na sede do Sindicato dos Metalúrgicos, em São Bernardo do Campo, onde reiterou ser inocente. Discursando a apoiadores, o ex-presidente disse ainda ter tranquilidade para enfrentar adversidades. "O que está acontecendo comigo é muito pouco diante daquilo que está acontecendo com milhões de desempregados", afirmou.
Foto: Reuters/L. Benassatto
Pixulecos pelo país
Em várias cidades, manifestantes a favor da condenação de Lula ergueram os bonecos infláveis “Pixuleco” do ex-presidente como sinal de protesto. Um Pixuleco chegou foi colocado em frente ao tríplex no Guarujá. Outro apareceu no rio Guaíba, em Porto Alegre (foto).
Foto: picture-alliance/AP Photo/W. Santos
Segurança reforçada
A segurança em torno do prédio do TRF-4, nas proximidades do rio Guaíba, foi reforçada com um dispositivo que envolve 4 mil pessoas. Toda a área em torno do tribunal foi isolada, e o esquema de segurança incluiu atiradores de elite (desarmados, no papel de observadores), 150 câmeras de vídeo, bloqueio aéreo e patrulhamento naval.
Foto: Reuters/P. Whitaker
Condenação mantida
Os desembargadores que analisaram o recurso de Lula no TRF-4 decidiram manter a condenação imposta ao petista pelo juiz Sérgio Moro. Com isso, a Operação Lava Jato conseguiu uma segunda marca histórica: a validação de uma condenação criminal de um ex-presidente. Apesar da decisão, a situação do petista ainda deve ser objeto de longas batalhas judiciais neste ano.
Foto: picture-alliance/AP Photo/TRF/S. Sirangelo
Pena aumentada
Por unanimidade, os desembargadores decidiram ainda aumentar a pena de Lula de nove anos e seis meses para 12 anos e um mês de prisão. Os desembargadores também validaram a condução do juiz Moro no caso e dos procuradores da Lava Jato, que há quase quatro anos vêm abalando os alicerces do establishment político brasileiro.