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"Lula Paz e amor 2.0" e a escolha entre Faria Lima e favela

Thomas Milz
Thomas Milz
18 de outubro de 2022

Ao se aliar a Alckmin, Lula visava conquistar a direita moderada. Mas o movimento para o centro pode ter custado votos da esquerda. Será que "Lulinha paz e amor" ainda funciona em 2022, pergunta o jornalista Thomas Milz.

Lula lançou Alckmin como vice para atrair eleitorado de direitaFoto: Evaristo Sa/AFP

"Lulinha paz e amor voltou com tudo" disse o ex-presidente e candidato Luiz Inácio Lula da Silva há três semanas no Programa do Ratinho. Depois das derrotas nas campanhas de 1989, 1994 e 1998, nas quais ele foi tachado de comunista, o petista adotou o slogan do "Lulinha paz e amor" em 2002. Era a sacada para conquistar os banqueiros e afastar o medo que a burguesia tinha dele. O PT de repente virava "light" – e ganhou as eleições daquele ano com 61,27 % dos votos no segundo turno.

Seu governo, de 2003 até 2011, foi um sucesso, graças à habilidade de Lula para juntar os interesses da Faria Lima (nome de uma avenida em São Paulo que representa o mercado financeiro) e das favelas. Milhões de pobres começaram a consumir, graças às políticas sociais do governo, que, também, davam lucro para os "Faria Limers". Nada de "guerra de classes". No barco do lulismo, havia espaço para todo mundo. Abriram-se milhões de vagas em empresas, universidades e escolas técnicas.

A escolha de Geraldo Alckmin, ex-governador tucano de São Paulo, como seu vice na atual campanha parece ser uma jogada parecida de Lula. Ter o católico ultraconservador ao seu lado seria o sinal que um eventual terceiro governo Lula não embarcaria em aventuras socialistas. Remetente: a Faria Lima. Além disso, acreditava-se que Alckmin traria votos no interior de São Paulo para o candidato petista Fernando Haddad, que concorre para o governo do estado mais populoso do Brasil.

Se essa era a lógica, ela fracassou no dia 2 de outubro. Os votos do eleitorado tucano não foram para Haddad, mas embarcaram na campanha do ultradireitista Tarcísio de Freitas, ex-ministro de Bolsonaro. Além de tudo, ele é carioca! Cadê os votos que o Alckmin ia trazer?!: eis a pergunta. Ao mesmo tempo, os Faria Limers exigem de Lula um programa econômico e até uma declaração sobre quem seria o ministro da Economia. Pode isso, produção? Parece desculpa para votar no Bolsonaro.

Ficou evidente o erro de cálculo. A aliança com o campo conservador de Alckmin e aliados limita o espaço de Lula para conversar com as classes mais pobres, com a favela. Abriu-se mão de revogar a reforma trabalhista, por exemplo. Mas mesmo assim, isso não foi suficiente para garantir o campo da direita moderada. Resta saber por que a Faria Lima anda tão empolgada com Paulo Guedes e as políticas econômicas de Bolsonaro. Eles sim têm nos seus currículos o represamento do preço de gasolina e vários furos no teto de gasto.

Lula não ganhou votos na Faria Lima. Mas perdeu milhões de votos nas periferias e favelas, onde Bolsonaro nada de braçada. A Baixada Fluminense, que está nas mãos do bolsonarismo, serve de exemplo. É Bolsonaro, o suposto herói do neoliberalismo, que está distribuindo benefícios para a população carente. E evangélica, claro. O Brasil realmente não é para iniciantes.

Mas, aparentemente, Lula enxergou o erro e intensificou, nos últimos dias, a campanha nas áreas pobres. Sua passeata no Complexo do Alemão parece ter incomodado demais seu adversário. "Conheço bem o Rio de Janeiro", disse Bolsonaro no debate de domingo na Band, para logo confundir o Complexo do Alemão com o Complexo do Salgueiro.  Depois, o presidente disse que "só tinha traficante ao lado de Lula". Uma pisada na jaca? Talvez, Bolsonaro precisa segurar a vantagem de votos que obteve no Rio no primeiro turno. Vamos saber mais no dia 30 de outubro.

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Thomas Milz saiu da casa de seus pais protestantes há quase 20 anos e se mudou para o país mais católico do mundo. Tem mestrado em Ciências Políticas e História da América Latina e, há 15 anos, trabalha como jornalista e fotógrafo para veículos como a agência de notícias KNA e o jornal Neue Zürcher Zeitung. É pai de uma menina nascida em 2012 em Salvador. Depois de uma década em São Paulo, mora no Rio de Janeiro há quatro anos.

O texto reflete a opinião do autor, não necessariamente a da DW.

A guerra de mentiras no segundo turno

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Realpolitik

Depois de uma década em São Paulo, Thomas Milz mudou-se para o Rio de Janeiro, de onde escreve sobre a política brasileira sob a perspectiva de um alemão especializado em Ciências Políticas e História da América Latina.