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Lula: "Quem crê em solução militar luta contra a História"

25 de abril de 2023

No Parlamento português, presidente brasileiro volta a condenar violação da integridade territorial da Ucrânia e a defender solução baseada no diálogo. Pequena bancada de extrema direita tentou tumultuar sessão.

Lula ao lado do presidente da Assembleia da República de Portugal, Augusto Santos Silva,
Lula discursou na Assembleia da República de Portugal ao lado de presidente da Casa, Augusto Santos SilvaFoto: Rodrigo Antunes/REUTERS

Em discurso na Assembleia da República de Portugal nesta terça-feira (25/04), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a condenar a violação da integridade territorial da Ucrânia e a defender o diálogo para o fim da guerra no país europeu. O evento foi marcado por tumulto e protestos de parlamentares da extrema direita contra o petista.

"O Brasil compreende a apreensão causada pelo retorno da guerra à Europa. Condenamos a violação da integridade territorial da Ucrânia. Acreditamos em uma ordem internacional fundada no respeito ao Direito Internacional e na preservação das soberanias nacionais", afirmou Lula, destacando que a "solução duradoura" para o conflito deve ser baseada "no diálogo e na negociação política".

"Quem acredita em soluções militares para os problemas atuais luta contra os ventos da História", declarou.

"As crises alimentar e energética são problemas de todo o mundo. Todos nós fomos afetados, de alguma forma, pelas consequências da guerra. É preciso falar da paz. Para chegar a esse objetivo, é indispensável trilhar o caminho pelo diálogo e pela diplomacia", acrescentou.

A fala no Parlamento português ocorre dias depois de o presidente ter causado atrito com os Estados Unidos e a União Europeia (UE) ao afirmar que essas potências contribuem para prolongar o conflito em solo ucraniano. Bruxelas e a Casa Branca rebateram a declaração do brasileiro. Após as críticas, Lula já havia se manifestado condenando a violação do território ucraniano e desde que chegou a Lisboa vem adotando um tom mais brando em seu discurso sobre a guerra, dizendo que nunca igualou a Ucrânia  à Rússia no contexto do conflito.

Conselho da ONU e acordo comercial

Durante seu discurso, Lula defendeu a ampliação do Conselho de Segurança da ONU para torná-lo mais representativo com a participação de todas as regiões. "O Conselho de Segurança das Nações Unidas encontra-se praticamente paralisado. Isso ocorre porque sua composição, determinada ao fim da Segunda Guerra Mundial, 78 anos atrás, não representa a correlação de forças do mundo contemporâneo", disse.

Lula também reiterou o compromisso para destravar o acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia e mencionou a Revolução dos Cravos, que culminou com o fim da ditadura em Portugal. Nesta terça-feira, o movimento completou 49 anos.

"O 25 de Abril permitiu que Portugal desse um verdadeiro salto para o futuro. O movimento iniciado pelos Capitães de Abril há exatos 49 anos reconquistou as liberdades civis, a participação política dos cidadãos, a democratização política, os direitos trabalhistas e a livre organização sindical, criando as bases para o desenvolvimento econômico com justiça social", afirmou Lula, no evento de encerramento de sua viagem a Portugal.

O presidente, porém, não participou da sessão solene na Assembleia para marcar a data. Depois do ato de boas-vindas, Lula deixou o local para seguir viagem à Espanha.

Sessão marcada por tumulto

O discurso de Lula foi marcado por protestos de deputados da pequena bancada do partido de extrema direita português Chega, que ficaram de pé e seguraram bandeiras da Ucrânia e cartazes com os dizeres "chega de corrupção". O líder da legenda, André Ventura, é apoiador do ex-presidente Jair Bolsonaro. Assembleia da República de Portugal tem 230 deputados. O Chega conta com apenas 12 parlamentares.

Ao iniciar sua fala, Lula arrancou aplausos da maioria dos deputados, enquanto os deputados do Chega batiam nas mesas e vaiavam. Diante do comportamento dos extremistas, o presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, precisou intervir e disse que se os parlamentares quisessem continuar na sessão deveriam se comportar com educação.

Deputados portugueses do partido de extrema direita Chega protestaram contra LulaFoto: Rodrigo Antunes/REUTERS

Lula aproveitou ainda o discurso para criticar golpistas. "A democracia no Brasil viveu recentemente momentos de grave ameaça. Saudosos do autoritarismo tentaram atrasar nosso relógio em 50 anos e reverter as liberdades que conquistamos desde a transição democrática. Os ataques foram constantes. Os irmãos portugueses assistiram a tudo, preocupados com a possibilidade de que o Brasil desse as costas ao mundo", salientou.

No final do discurso, Santos Silva pediu desculpa a Lula em nome do Parlamento português e lhe agradeceu pela "coragem e educação". Nesse momento, o brasileiro foi aplaudido pelo presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa.

Protestos do lado de fora

Do lado de fora, cerca de 300 militantes do partido Chega e brasileiros do Movimento Brasil Portugal protestaram contra Lula. O grupo levava cartazes com os dizeres "Lula, ladrão, o teu lugar é na prisão" e "Tolerância Zero à Corrupção".

De acordo com a agência de notícias Lusa, o protesto contou com a presença do dirigente neonazista Mário Machado. Fundador do movimento nacionalista Nova Ordem Social e da Frente Nacional e antigo membro do grupo Hammerskins Portugal, ele já foi preso por posse ilegal de arma e está envolvido em processos ligados a violência e crimes de ódio contra estrangeiros. 

Ao mesmo tempo, apoiadores de Lula organizaram um contraprotesto que reuniu centenas de brasileiros e portugueses. Os manifestantes defenderam a democracia e empunharam cartazes com dizeres como "25 de abril sempre, fascismo nunca mais" e "Amor Lula".

Após a sessão solene no Parlamento português, Lula comentou a jornalistas as manifestações de deputados do Chega durante o seu discurso. "Quem faz política está habituado a isso. Eu acho que essas pessoas quando voltarem para casa e deitarem a cabeça no travesseiro vão falar: que papelão nós fizemos", disse.

cn/lf (Lusa, ots)

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