Lula volta a acusar Israel de cometer genocídio em Gaza
24 de fevereiro de 2024
Após comparação com Holocausto gerar crise diplomática, presidente falou pela primeira vez sobre a controvérsia e criticou governo de Netanyahu pela guerra. "Está matando mulheres e crianças", afirmou.
Ao discursar no lançamento do programa Seleção Petrobras Cultural – Novos Eixos, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, nesta sexta-feira (23/02), o presidente voltou a defender a criação de um Estado palestino, classificou o conflito militar como genocídio e responsabilizou o governo de Israel pela matança que – segundo dados do governo da Faixa de Gaza, liderado pelo Hamas – já vitimou quase 30 mil civis, principalmente mulheres e crianças palestinas.
"Não tentem interpretar a entrevista"
"Quero dizer para vocês, agora, eu não troco a minha dignidade pela falsidade. Quero dizer a vocês que sou favorável à criação do Estado Palestino livre e soberano. Que possa, esse Estado Palestino, viver em harmonia com o Estado de Israel. E quero dizer mais: o que o governo de Israel está fazendo contra o povo palestino não é guerra, é genocídio, porque está matando mulheres e crianças", afirmou o presidente.
"Não tentem interpretar a entrevista que eu dei na Etiópia, leia a entrevista ao invés de ficar me julgando pelo que disse o primeiro-ministro de Israel. São milhares de crianças mortas e desaparecidas. E não está morrendo soldado, estão morrendo mulheres e crianças dentro de hospital. Se isso não é genocídio, eu não sei o que é genocídio", prosseguiu Lula, fazendo referência à declaração concedida no último domingo, em Adis Abeba, na Etiópia, quando comparou a ação de Israel em Gaza ao que Adolf Hitler tinha promovido contra os judeus na Segunda Guerra Mundial.
Na ocasião, o comentário fez o governo de Israel declarar Lula persona non grata no país. Em resposta, o governo brasileiro convocou de volta ao país o embaixador em Tel Aviv "para consultas”. Além disso, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, criticou o chanceler do governo israelense, Israel Katz, por declarações dadas nos últimos dias sobre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
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Hipocrisia
O presidente ainda afirmou que o governo brasileiro trabalha para uma reforma no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), que inclua representações permanentes de países da América Latina, da África, da Índia e outras nações. Ele ainda criticou os vetos do governo dos Estados Unidos às resoluções da ONU para um cessar-fogo em Gaza e, sem citar nomes, chamou de "hipócrita" a classe política pela inação diante dos conflitos em curso.
"Somente quando a gente tiver um conselho [de segurança] da ONU democrático, com mais representação política, e somente quando a classe política deixar de ser hipócrita, somente quando ela encarar as verdades. Não é possível que as pessoas não compreendam o que está acontecendo em Gaza. Não é possível que as pessoas não tenham sensibilidade com milhões de crianças que vão dormir todo santo dia com fome, porque não têm um copo de leite, apesar do mundo produzir alimento em excesso", afirmou.
O presidente apelou por mais política para a solução de guerras. "É importante que as pessoas saibam enquanto é tempo de saber. Nós precisamos ter consciência que o que existe no mundo hoje é muita hipocrisia e pouca política. A gente não pode aceitar guerra na Ucrânia, como não pode aceitar a guerra em Gaza, como não pode aceitar nenhuma guerra", concluiu.
md (EBC, Lusa, ots)
As declarações polêmicas de Lula na política externa
As declarações polêmicas de Lula na política externa
Foto: REUTERS
Comparação com o Holocausto
Em fevereiro de 2024, Lula irritou Israel. Ele foi declarado "persona non grata" pelo governo israelense após fazer uma analogia entre o Holocausto e mortes de civis palestinos em ataques israelenses na Faixa de Gaza. "O que está acontecendo na Faixa de Gaza e com o povo palestino não existe em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu: quando o Hitler resolveu matar os judeus."
Foto: REUTERS
"É um genocídio"
Não foi a primeira vez em que Lula provocou polêmica ao se posicionar sobre o conflito entre Israel e o Hamas. Em outubro de 2023, ele chamou de "genocídio" os ataques em Gaza. "Não se trata de discutir quem está certo e errado, quem deu o primeiro tiro, quem deu o segundo, o problema é que não é uma guerra, é um genocídio que já matou quase 2.000 crianças que não têm nada a ver com essa guerra"
Foto: Ton Molina/NurPhoto/picture alliance
"Israel também está cometendo terrorismo"
Em novembro de 2023, Lula reiterou sua condenação aos atos terroristas do Hamas, mas disse que os ataques israelenses em Gaza também são terroristas. "Nunca vi uma violência tão brutal, tão desumana contra inocentes. Se o Hamas cometeu um ato de terrorismo, o Estado de Israel também está cometendo um ato de terrorismo", afirmou.
Foto: Michele Tantussi/AFP
"Zelenski tão responsável quanto Putin pela guerra"
Quando ainda era pré-candidato à Presidência, Lula irritou o governo de Kiev e incomodou parceiros ocidentais ao dizer que o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, é "tão responsável quanto Putin" pela invasão lançada por Moscou contra seu país. Foi durante uma entrevista à revista americana "Time" publicada em maio de 2022.
Foto: Ricardo Stuckert/DW
"Rei da cocada"
Na mesma entrevista, o brasileiro insinuou que o ucraniano aproveita o conflito para buscar destaque pessoal. "Você fica estimulando o cara [Zelenski] e ele fica se achando o máximo. Ele fica se achando o rei da cocada, quando na verdade deveriam ter tido conversa mais séria com ele: 'Ô, cara, você é um bom artista, você é um bom comediante, mas não vamos fazer uma guerra para você aparecer'."
Foto: president.gov.ua/en
"A Rússia está errada"
Em janeiro de 2023, durante visita ao Brasil do chanceler alemão, Olaf Scholz, Lula se retratou sobre o que disse à "Time". "Naquela época eu disse uma coisa que eu ouvi a vida inteira. Quando um não quer, dois não brigam", declarou. "Hoje eu tenho mais clareza da razão da guerra; e eu acho que a Rússia cometeu o erro clássico de invadir o território de outro país; portanto, a Rússia está errada."
Foto: Kay Nietfeld/dpa/picture alliance
"Decisão por conflito foi dos dois países"
Em abril de 2023, Lula voltou culpar tanto Kiev como Moscou, em visita a Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos. "Putin não toma a iniciativa de parar. Zelenski não toma a iniciativa de parar. A Europa e os EUA continuam contribuindo para a continuação desta guerra. Temos que sentar à mesa e dizer para eles: 'Basta'", disse, acrescentando que a "decisão pelo conflito foi tomada por dois países".
Foto: Ryan Carter/UAE Presidential Court/Handout/REUTERS
"Putin não vai ser preso se vier ao Brasil"
Durante a cúpula do G20 em Nova Déli, em setembro de 2023, Lula disse que ignoraria o mandado de prisão do Tribunal Penal Internacional (TPI) contra o líder russo, Vladimir Putin. "Se eu for presidente do Brasil, e se ele [Putin] vier para o Brasil, não tem como ele ser preso. Não, ele não será preso. Ninguém vai desrespeitar o Brasil." Dias depois, ele recuou: "Quem toma a decisão é a Justiça".
Foto: Alexander Zemlianichenko/REUTERS
"Venezuela tem mais eleições do que o Brasil"
Em junho de 2023, durante entrevista à Rádio Gaúcha, Lula afirmou que "a Venezuela tem mais eleições do que o Brasil", ao responder uma pergunta de um repórter sobre a resistência da esquerda em se reconhecer que o presidente daquele país, Nicolás Maduro, é um ditador. E acrescentou: "O conceito de democracia é relativo para você e para mim."